Quantas vezes você já escutou que “futebol é coisa de menino” ou “balé é para meninas”? No cenário esportivo – assim como em outros segmentos -, as mulheres enfrentam as poucas oportunidades oferecidas, desigualdade nos direitos e tratamento entre homens e mulheres. Mesmo com tantas dificuldades, as barreiras colocadas contra as mulheres no esporte foram derrubadas.
Em alusão ao mês das mulheres, a equipe do Vanguarda do Norte conversou a atleta Edna Baiana, de 34 anos que tem se tornado destaque no futebol feminino no Brasil. Levando o Ceará a conquistar o título da Série A2 do Campeonato Brasileiro Feminino de futebol e a encerrar 2022 com o vice-campeonato do Cearense – o que o levou ao tão sonhado acesso à elite do futebol feminino no Brasil – a experiente atleta e ex-capitã da equipe chegou ao clube itacoatiarense JC FC com um currículo vitorioso.
Jogadora de futebol desde os 7 anos de idade e, profissionalmente, desde os 17 anos, Edna relembra que o início foi difícil por falta de apoio. Por ser nordestina, ressalta que na região não havia tanto incentivo, mas, aos poucos, foi conseguindo o seu espaço no meio futebolístico.
“Acho que, como todos sabem, a falta de apoio esse ano no Ceará por causa da queda do time masculino fez a maioria do elenco deixar o clube. Com isso surgiu a oportunidade de representar o JC. Eu me sinto vitória por ter passado por cima de tudo que já tentou me parar e me sinto lisonjeada por poder está ajudando a nova geração nessa evolução da modalidade”, disse.
O JC investiu fortemente na contratação do treinador, membros da comissão técnica e algumas atletas que faturaram o título da competição em 2022 com o Ceará. Antes da trajetória de três anos no elenco do Ceará, Edna já passou por nove temporadas vestindo a camisa do São José-SP e coleciona conquistas do Campeonato Paulista, Copa do Brasil e Mundial de Clubes.
“Vim para o JC com o intuito de poder ajudar e agregar ao clube na busca do seu principal objetivo e assim poder elevar ainda mais o seu nome e também fazer história com o Clube Amazonense”, frisou.
Apesar dos avanços em relação a mulheres no esporte, é possível observar que já na infância a menina vivencia suas primeiras experiências de desigualdade diante da prática do esporte. Com uma trajetória repleta de conquistas e já consolidada no futebol brasileiro, a atleta nordestina não poupa palavras ao falar sobre os desafios enfrentados.
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“Por ser mulher, já enfrentei alta de apoio, discriminação e muito preconceito. Já cheguei a pensar em desistir, mas o amor que tenho por esse esporte me deu e ainda me dá forças todo os dias para lutar. Para termos mais mulheres no esporte, acho que precisa ter a quebra da desigualdade que existe entre homens e mulheres, não só no esporte como no mercado de trabalho”, destacou.
O desejo de ser jogadora de futebol sempre foi algo pertinente na vida de Edna Baiana.
“Sempre foi o meu sonho jogar futebol. Não imaginava que chegaria onde estou hoje, mas sempre sonhei e imaginei ter uma carreira vitoriosa. Com muita luta e graças a Deus estou colecionando conquistar e sendo motivo de orgulho para todos ao meu redor”
Agora no futebol amazonense, Edna busca contribuir com o acesso inédito das Tigresas à primeira divisão. Nas próximas semanas, a CBF deve divulgar o regulamento e cronograma de jogos da Série A2 do Brasileirão, que também terá o 3B da Amazônia como representante do estado. Em 2023, além da competição nacional, o clube irá disputar o Campeonato Amazonense, ainda sem data definida.
“Ainda tenho muitos sonhos pessoais e profissionais, mas hoje o meu principal objetivo é conquistar o acesso a A1 pela equipe do JC”, finalizou.
Mulheres no esporte
Em grande parte do mundo, o simples fato alguém ser do gênero feminino é um grande desafio a ser enfrentado. Pouca inserção no mercado de trabalho, desigualdade salarial em relação aos homens, poucas oportunidades, falta de respeito, violência, feminicídio, assédio são apenas alguns dos obstáculos enfrentados pelas mulheres até hoje. No esporte, não é diferente.
A primeira participação feminina em Olimpíadas aconteceu em 1900, mas, se estendia a apenas duas modalidades: tênis e golfe. Em 1941, o então presidente do Brasil, Getúlio Vargas, autorizou um decreto-lei que proibia as mulheres de praticarem esportes “incompatíveis com a sua natureza”, como o futebol, a luta, e muitos outros, chegou a ser oficializado.
O argumento que justificava essa proibição dizia que esse esporte era muito violento. Somente 30 anos depois, em 1979, ele foi derrubado. Em 1991 foi organizada a primeira Copa do Mundo para as mulheres e, apenas em 2012, as mulheres puderam disputar todas as modalidades olímpicas já disputadas pelos homens.