A cena de Zico reverenciando os jogadores do Flamengo na cerimônia de entrega do troféu de campeão carioca é simbólica. O maior ídolo da história do clube, fruto da maior geração da história rubro-negra, também gostou do que viu. Afinal, está dando gosto ver o time de Filipe Luís jogar até mesmo num 0 a 0.
A vitória por 2 a 1 no primeiro Fla-Flu da final deu a vantagem que sacramentou com muita justiça a conquista no último domingo no Maracanã. Na campanha do 39º título carioca do maior campeão do estado, o Flamengo do “Filipismo” amassou os pequenos e dominou os clássicos. Todos, até mesmo nos raros 0 a 0. Nesse caso, quando o placar não refletiu o que foi o jogo, “pior para os fatos”, já diria o grande Nelson Rodrigues.
E foi novamente assim na tarde de domingo contra o Fluminense, que precisava vencer. Mas parecia o contrário, que era o Flamengo quem tinha a necessidade de correr atrás do prejuízo pela postura em campo. Se um gringo esticou o Carnaval no Rio de Janeiro e esteve no Maracanã nesse Fla-Flu, deve ter sido difícil entender que o time que atacou do início ao fim era quem jogava pelo empate.
Obviamente o Fluminense, em desvantagem, não entrou para se defender. Ele só não conseguiu jogar porque o Flamengo não deixou. Se liga no mapa de calor do intervalo do jogo. O Rubro-Negro terminou com 62% de posse de bola, mais do que o dobro de passes (497 contra 243 do rival), nove finalizações e seis chances de gol. Mas a arbitragem acabou anulando metade dessas oportunidades. Vamos a elas:
- Com somente um minuto de jogo, após bela arrancada de Wesley, Plata perdeu uma chance incrível de cabeça na pequena área. Mas o árbitro deu um leve toque de mão de Luiz Araújo antes do cruzamento.
- Aos 24, Plata foi esperto e roubou a bola de Fábio, mas não conseguiu tirar do goleiro na hora do chute.
- Três minutos depois, em outra jogada de Wesley, Plata foi bloqueado duas vezes por Thiago Silva na área, uma delas com o zagueiro caído no chão.
- Aos 32, a melhor chance do jogo: Arrascaeta deu um passe milimétrico e deixou Luiz Araújo cara a cara com Fábio, mas ele tirou demais do goleiro na hora do chute e errou o alvo.
- Já na reta final do segundo tempo, aos 41, Juninho serviu Plata para enfim acertar a rede, mas o VAR viu uma falta polêmica no início da jogada.
- E quatro minutos depois, em outra jogada de Juninho, ele rolou para Michael marcar, mas o VAR também anulou, desta vez por um impedimento milimétrico no início do lance.
Para não dizer que o Fluminense não fez nada, o rival, que terminou o primeiro tempo com somente uma finalização, assustou em dois momentos durante os 90 minutos:
- Uma cabeçada que Cano furou quase na pequena área aos 16 do segundo tempo.
- E um chute de Keno da entrada da área defendido por Rossi.
Candidato a tudo
Como o próprio Filipe Luís disse em entrevista coletiva depois do título: “É muito difícil ganhar da gente, somos um time que sabe como atacar e defender”. E daria para acrescentar: “E também como encher os olhos da torcida, que gritou o nome do treinador a plenos pulmões no Maracanã antes e depois da partida”.
O estilo de jogo do “Filipismo” passa muito pelos volantes, e Pulgar e De la Cruz jogaram muito, tanto para defender, sair jogando e atacar. Foram os dois que mais acertaram passes no jogo: 65 do chileno e 61 do uruguaio. O “quadrado mágico” com Gerson e Arrascaeta tem tudo para dar liga quando o camisa 10 conseguir recuperar o seu melhor nível.
Com uma ótima dupla de zaga e de laterais, esse time só precisa ser mais letal ofensivamente para ser candidato a tudo o que disputar na temporada (exceto pelo Mundial de Clubes, onde os favoritos são os europeus). Falta um homem-gol que Plata já mostrou que não é, assim como Juninho mostrou sua melhor versão neste Fla-Flu como garçom. Mas Bruno Henrique e Pedro vêm aí.