A província de Muğla, na Turquia, tem uma paisagem diversa. Picos cobertos de árvores se erguem pelo mar azul-claro cintilante. Trilhas que se estendem por quilômetros em um terreno acidentado, belo e pouco explorado. Além de ter comida suficiente para alimentar um exército.
Localizada no deslumbrante sudoeste do país, é uma região que, além de alguns destinos badalados, como Bodrum, às vezes é esquecida pelos visitantes internacionais.
Mesmo assim, a província de Muğla é repleta de todas as características que tornam a Turquia popular: paisagens deslumbrantes, inúmeras oportunidades de descanso e relaxamento, além de muita aventura e emoção para quem busca algo mais agitado. E o melhor, tem o aeroporto internacional de Bodrum, tornando a visita mais acessível do que nunca.
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Uma visão artística
Um excelente ponto de partida é a ensolarada cidade litorânea de Göcek, localizada entre Fethiye e Dalyan, que se destaca pela cena cultural, influenciada pela renomada escultora Dilara Akay. Seu ateliê, situado em um jardim encantador, exibe diversas obras que narram a evolução de seu trabalho.
“Muitas pessoas me conhecem pelas grandes esculturas de jardim, mas também crio experiências imersivas. Você pode perceber a minha evolução”, diz Akay sobre sua arte. “Comecei explorando o sentido da vida, depois o que é ser mulher. Agora, estou mais conectada à natureza, então é uma jornada”.
Essa evolução continua no mar, com Akay navegando em uma pequena embarcação: a melhor maneira de contemplar a impressionante costa, que define a província de Muğla.
“Estamos na baía de Göcek, Dalaman e Fethiye”, diz Akay. É o tesouro e o ponto de encontro entre os mares Mediterrâneo e Egeu.
Segundo alguns, incluindo um homem local insistente no cais, a famosa rainha do Egito está enterrada nos banhos submersos de Cleópatra, ou Baía do Hamam.
Embora essa teoria ainda seja debatida, é inegável que este é um dos cantos mais especiais do Mediterrâneo. Estar em um barco aqui permite sonhar. Você pode mergulhar em um mundo de fantasia, navegando serenamente sob um céu banhado de sol.
Caminhando pela costa lícia
De volta à terra firme, há outros encantos a serem explorados. “Sem desculpas!”, exclama Kate Clow, criadora da trilha Caminho Lício, liderando o passeio de longa distância.
Com 760 quilômetros de extensão, a trilha, que sai de Fethiye e vai até Antália, leva 35 dias para ser completada e segue a costa da antiga Lícia, que faz parte do sul da Turquia. Ela percorre muitos dos trajetos que os lícios utilizaram por milhares de anos, durante as épocas dos persas, de Alexandre, o Grande, e dos romanos.
Mapear e marcar a rota foi uma tarefa exaustiva, envolvendo estradas romanas e antigas trilhas de mulas. Clow, no entanto, não se intimidou com o desafio.
“A Turquia, naquela época, há 35 anos, não tinha trilhas demarcadas. E eu já havia andado pelos Pirineus e em vários outros lugares na França e na Espanha”, diz Clow, originalmente do Reino Unido. “Então pensei: ‘A Turquia também merece uma trilha’”.
Subindo pelas montanhas, a rota de Clow proporciona vistas absolutamente espetaculares do mar e das colinas, que parecem se estender infinitamente. É realmente uma das melhores trilhas de longa distância do mundo e um testemunho de sua habilidade de criar algo inovador e profundamente histórico.
O melhor de tudo é que é possível admirar as vistas incríveis de ângulos impossíveis de ver da estrada.
“A vida é boa”
A comunidade Yoruk, da Turquia, é frequentemente chamada de nômade equivocadamente. Na verdade, praticam a transumância — termo que descreve a migração de pessoas e gado entre locais de verão e inverno.
Para marcar essa transição, a comunidade sempre organiza uma festa especial, com música, dança e até cavalgadas. Como no resto da Turquia, a obsessão pela comida chega a ser palpável.
Com uma sopa deliciosa e pão feitos em fogo aberto, alimentar os outros parece ser a força motriz aqui — seja uma refeição com Akay em seu ateliê ou a partilha de um doce turco local com os alegres Yoruks.
Toda essa comida, é claro, significa que é preciso relaxar nos dias seguintes. E é aí que entram os famosos banhos de lama de Dalyan. Esses banhos, embora um pouco fedidos, são onde os moradores e visitantes vêm para rejuvenescer a pele.
Ao deslizar na água quente e viscosa, o cheiro de enxofre sobe ao nariz. Mas a sensação da lama no corpo faz com que você queira permanecer ali, cobrindo-se ainda mais com o material e relaxar.
“A vida é boa”, comenta uma mulher local sentada e tomando sol, com o mar batendo suavemente na parede atrás dela. É impossível discordar. Fica ainda melhor após um rápido mergulho nas águas do píer, lavando a lama para emergir renovado e pronto para mais aventuras. Dizem até que rejuvenesce vinte anos.
Rios e ruínas
Tudo em Muğla tem uma história. A lenda diz que rio local foi criado pelas lágrimas de Byblis, filha do rei Miletus. Segundo a mitologia grega, Byblis chorou tanto após ser rejeitada por seu irmão gêmeo Cauno que suas lágrimas formaram uma nascente após sua morte.
Essa narrativa épica adiciona ainda mais significado a um passeio pelo rio, permitindo que você aprecie as impressionantes ruínas da antiga cidade de Caunos, onde tumbas reais estão esculpidas nas altas falésias opostas a Dalyan. Antigamente um porto importante, hoje a cerca de oito quilômetros do mar, as ruínas datam de pelo menos o século IX.
Os banhos romanos e os antigos caminhos são espetaculares, e o melhor é que, mesmo no auge do verão, não há multidões.
Esporte radical
Muğla também é famosa pelo parapente. Pessoas de todo o mundo vêm para voar e apreciar as belezas da região do alto, aproveitando as correntes térmicas das montanhas até a praia.
Babadağ, uma montanha com quase 2.000 metros de altura, é o ponto de encontro dos praticantes de parapente. Há uma rampa dedicada a 1.700 metros, de onde os aventureiros correm e se lançam no céu.
Nosso guia, Ertas, com óculos espelhados coloridos, nos prepara com capacete e arnês. “Faço isso há 25 anos”, diz ele. “Faço entre 400 e 500 voos por ano”.
Preso às costas de Ertas, a instrução é simples: “Comece a andar e agora corra!”.
Logo o paraquedas pega o vento, e o chão se torna uma memória distante. É, ao mesmo tempo, emocionante e um pouco assustador. As vistas infinitas, com o azul do mar e o branco das praias, fazem dessa experiência algo magnífico.
Fonte: CNN.