A cidade do Rio de Janeiro é famosa em todo o mundo pelas suas praias, o samba, o carnaval e a música de nomes como o de Tom Jobim. Os anos de 1960 foram marcantes para a cidade. Em 21 de abril, a cidade deixou de ser a capital federal, transferida para Brasília. Assim, a Guanabara tornou-se Estado, governado por Carlos Lacerda (1914 – 1977), de 1960 a 1965, período de inúmeras transformações urbanas e investimentos no desenvolvimento industrial.
Foi nessa realidade política e social que o comerciante português Domingos Cunha, hoje com 75 anos, chegou ao Brasil, em pleno Regime Militar. “A vontade de progredir trouxe-me ao Brasil em 1964, ainda muito jovem, aos 14 anos”, contou. Ele iniciou a sua trajetória como empregado no comércio. “Sou grato ao Brasil pelas oportunidades que aqui encontrei”, revelou o empresário apaixonado pela cidade que o acolheu.
Natural de Póvoa de Lanhoso, em Braga, Portugal, Domingos Cunha desbravou por anos os caminhos do trabalho e, nos anos 1980, tornou-se sócio de um estabelecimento que se tornaria a marca da sua trajetória de português saudoso da cultura e tradições lusas: o Bar e Restaurante Glória, fundado em 1945.


O tradicional estabelecimento está localizado no bairro Saúde, rua Acre, 6, próximo à Praça Mauá, que marca o início da Avenida Rio Branco, na zona central do Rio de Janeiro. Nas proximidades encontram-se museus e a histórica Rádio Nacional, fundada em 1936, por onde alguns dos nomes mais conhecidos da cultura popular brasileira passaram, como Luiz Gonzaga, “o Rei do Baião”; Dalva de Oliveira, de ascendência portuguesa; Cauby Peixoto e Orlando Silva, “o cantor das multidões”.
Desde a sua fundação, o Bar e Restaurante Glória tornou-se ponto de encontro dos apreciadores da culinária luso-brasileira. Entre os pratos preferidos está o “leitão à bairrada”, avaliado pelos clientes “como o melhor do Rio de Janeiro”. O menu conta ainda com o bacalhau e os bolinhos de bacalhau.
Para dar o toque gastronómico português, a gestão do restaurante manteve-se “lusitana” para garantir a autenticidade dos pratos servidos e, assim, atrair quem por ali passa diariamente a passeio, indo ou saindo do trabalho nas suas lojas, agências bancárias nacionais e internacionais, museus, universidades, escritórios de multinacionais, instituições públicas.

Ao entrar no estabelecimento, o cliente já sabe o que vai apreciar sobre a mesa, pois a placa com os “Pratos do Dia” anuncia, para o gosto de cada freguês, de segunda a sexta-feira, diversos tipos de refeição. Além da culinária portuguesa, servem-se os pratos marcantes na vida cotidiana dos cariocas, como carne assada com nhoque, costela bovina com batata e agrião, carne seca com abóbora, frango cozido com quiabo, peito assado com feijão-manteiga, filé de peixe à dorê com arroz e purê, dobradinha com feijão-branco, strogonoff de carne com arroz e batata e a feijoada completa, que marca muitos almoços de confraternização, mas serve de cenário para reuniões de negócios. Uma das sobremesas mais procuradas é a “Banana Flambada”, já tradicional entre os frequentadores do local.
Estabelecido na “cidade maravilhosa” e próximo da sua cultura por meio do Bar e Restaurante Glória, Domingos Cunha continua ativo. Durante todos esses anos, desde menino, enfrentou desafios e, entre alegrias e tristezas, soube como encontrar forças para se manter perseverante.
“Como tudo na vida, também houve muitos desafios para seguir adiante, como a demolição do viaduto da Perimetral (uma importante artéria no Centro do Rio que deu lugar a uma nova avenida, prejudicando os atendimentos e o fluxo de clientes no local por meses), pandemia de Covid-19, mas sobrevivemos e aqui estamos. A revitalização da Praça Mauá dinamizou o turismo, a parte cultural, com a chegada de museus e a realização de eventos gastronómicos e de entretenimento”, destacou o empresário, hoje com 75 anos, que mantém seu amor por Portugal, ao qual deseja retornar, mas para reencontrar com suas raízes, e pelo Brasil, país que escolheu para viver e pelo qual devota sua gratidão.