Da janela do avião bimotor, lá do alto, avisto uma manada de elefantes bebendo água em uma lagoa. A natureza bruta, selvagem, se revela ainda mais exuberante em solo: a caminho do hotel, girafas, leopardos e até famílias de leões ficam a poucos metros de mim, indicando que a viagem a Botsuana é mais do que um show da natureza: é uma transformação de vida.
Com paisagens marcadas pelo deserto do Kalahari e pelo Delta do Okavango, Botsuana é um país da África Austral que carrega fama pelas paisagens memoráveis e pela imersão na natureza por meio de safáris.
São diversos parques nacionais e reservas que ajudam na tarefa, com uma vida animal abundante: para se ter ideia, o país tem uma das maiores populações de elefantes do mundo, com estimativas de cerca de 150 mil indivíduos.
Mostrar um pouco dessa riqueza foi a minha missão. Foram dias de muita emoção, com surpresas constantes e animais que nunca havia imaginado ver tão de perto.
Definitivamente, Botsuana é daqueles destinos recíprocos: ao mesmo tempo que deixamos um pouco de nós, carregamos novos aprendizados para as próximas jornadas.
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A chegada
Após percorrer as maravilhas naturais e gastronômicas da Cidade do Cabo, na África do Sul, a viagem até Botsuana foi uma tarefa dividida em etapas.
O primeiro voo desceu em Maun, cidade que é porta de entrada para o turismo no país. Dali, peguei outro voo, dessa vez em um bimotor, em direção a Savute, meu primeiro destino no Botsuana.
Savute é uma área isolada que faz fronteira com o Delta do Okavango a oeste e com o Parque Nacional de Chobe a leste, o que resulta em uma terra de natureza bruta e surpreendente.
Antes de chegar em Savute, a pequena aeronave fez paradinhas em outros locais para deixar passageiros pelo caminho. Do alto, o horizonte da savana dava as caras e os animais corriam soltos.
Após três paradas, cheguei ao aeroporto internacional de Savute. Mas não se engane: não há torre de comando, terminal e nem estacionamento, apenas uma pista que corta a savana, um indicativo de que aventuras estão à nossa espera.
E elas já haviam começado: o traslado até o Savute Elephant Lodge, do selo da Belmond Safaris, já é um safári em si.
O carro é daqueles adaptados para a atividade e o caminho dá uma amostra do que encontramos na região: girafas comiam folhas das árvores, leoas brincavam com filhotes e até um leopardo nos observou do alto de uma pedra. E o check-in no hotel ainda nem havia sido feito.
Savute Elephant Lodge: hospedagem sem igual
O Parque Nacional de Chobe protege uma área de 10.700 km² do norte do deserto do Kalahari, exibindo planícies aluviais e árvores mopane, uma espécie da África Austral adaptada a ambientes áridos. Elefantes, rebanhos de búfalos, bandos de leões e aves dos mais variados tipos chamam esta área de lar.
É em meio a esse recinto que fica o exclusivo Belmond Savute Elephant Lodge, que nos oferece 12 tendas de luxo, com capacidade de atender apenas 24 pessoas. A beleza do lugar é de capotar e os arrepios começam logo na chegada, quando a equipe se reúne na porta com cantorias e danças típicas em um ritual de boas-vindas que é emocionante do começo ao fim.
A comoção não para por aí: o hotel fica bem em frente ao canal de Savute, onde um bebedouro atrai elefantes dia e noite a pouquíssimos metros dos quartos. Acordar e dar de cara com eles no habitat natural é uma experiência inestimável.
Ao longo dos dias, nos acostumamos com os sons que os mamíferos soltam. No começo, é normal que o medo se faça presente, mas, com o tempo, vamos entendendo o significado: os gritos ocorrem principalmente quando um indivíduo de fora da manada entra no grupo e quando os pais querem proteger os filhos de predadores.
Rústicas e de uma simplicidade sofisticada, as acomodações ficam em tendas de 52 m², cada uma elevada sobre uma plataforma de madeira para permitir os avistamentos dos animais. Do café da manhã ao jantar, tudo está incluso, até mesmo certos rituais e refeições à beira da fogueira.
Piscina e espaço para massagens ajudam a relaxar em meio a este ambiente inigualável, mas os passeios pelos arredores são os pontos altos da estadia. Bosques de baobás, visita a pinturas rupestres, piqueniques na savana, observação de estrelas e, claro, os almejados safáris estão na lista.
Safáris: imersão na vida animal
Leões, elefantes, hipopótamos, leopardos, girafas, búfalos e centenas de espécies de aves são apenas alguns dos animais que encontramos pelo caminho em um safári pelo Parque Nacional de Chobe.
A vida animal real se desenrola diante de nossos olhos e os passeios realizados na área são os mais respeitosos possíveis, em que contribuímos para a preservação das espécies e para renda da vida local.
Eu já havia realizado outros safáris em outros países africanos, mas, mais uma vez, a lição que fica é que um safári é sinônimo de paciência. É entender que a natureza não segue o nosso relógio. Assim, é uma oportunidade ímpar de adquirirmos mais conhecimento, com um gostinho de quero mais a cada passeio.
Tudo isso é melhor aproveitado ao lado de profissionais locais que nos transferem todos os aprendizados, nos deixando confiantes e seguros. O trunfo dos safáris no Parque Nacional de Chobe é que cada um deles é diferente entre si: de manhã, à tarde ou à noite, todos têm características únicas e encontros inesperados, já que os animais não seguem um roteiro.
Em uma das saídas, o guia do Belmond Savute Elephant Lodge me mostrou uma ossada de elefantes. Após algum tempo na savana, nos deparamos com leões dormindo com filhotes a pouquíssimos metros do veículo aberto.
Em um dos passeios feitos no raiar do sol, paramos o carro e tomamos café da manhã a poucos passos de uma manada de elefantes calmos. A refeição foi regada a Amarula e, sem dúvidas, entrou para a lista de atividades mais incríveis e inusitadas que já fiz.
Encontro com elefantes
Sair para um safári neste estilo é também esperar o inesperado: em determinado momento, quando estava bem perto do lodge, um elefante menor veio em direção ao carro. “Não se preocupe”, disse o guia calmamente. Para tranquilizá-lo, a saída foi ficarmos parados, sem movimentos bruscos, para que não fôssemos lidos como uma ameaça.
Ao mesmo tempo, um elefante macho se aproximou do carro por um outro ponto. Com os hormônios à flor da pele, ele estava em busca de uma fêmea. Entendendo a situação, o guia avaliou que a solução era sair dali calmamente. Meu coração acelerou, é claro, mas o conhecimento da equipe local foi um bálsamo para que ficássemos tranquilizados.
Um dos momentos mais marcantes aconteceu quando mais de 90 elefantes se reuniram em frente ao lodge para beber água, uma cena impressionante e rara de se presenciar.
Para coroar o fim deste dia, o Belmond Savute Elephant Lodge organizou um bar no topo de uma pequena duna com vistas deslumbrantes para o horizonte no pôr do sol. O momento entrou para minha memória e, a partir deste ponto, passei a levar um pouco de Botsuana comigo em outras viagens pelo mundo.
Quando e como visitar Botsuana
Brasileiros não precisam de visto para entrar no Botsuana com estadias a turismo de até 90 dias. Segundo a Anvisa, o país africano exige certificado de vacina contra a febre amarela para a nossa entrada.
Outra decisão importante é: quando ir? Em linhas gerais, Botsuana tem a estação chuvosa e a seca. No Parque Nacional de Chobe, a primeira ocorre entre dezembro e abril, e a segunda entre maio e novembro.
Para uma primeira visita à região, a estação seca é a mais recomendada, quando a maioria dos animais fica ao redor da margem do rio. Já na estação chuvosa, uma variedade maior de pássaros aparece e os lodges ficam mais vazios.