O presidente da França, Emmanuel Macron, apelou nesta quinta-feira (25) por defesas europeias mais fortes e integradas e disse que o continente não deve se tornar um vassalo dos Estados Unidos, ao delinear sua visão de uma União Europeia mais assertiva no cenário global.
A três anos do fim de seu segundo e último mandato, e depois de perder maioria parlamentar em 2022, Macron, de 46 anos, quer mostrar a seus críticos que mantém a energia e o pensamento renovado que ajudaram a impulsioná-lo para a Presidência em 2017.
“Há o risco de nossa Europa morrer. Não estamos equipados para enfrentar os riscos”, afirmou Macron em discurso na Universidade Sorbonne, em Paris, alertando que as pressões militares, econômicas e outras poderiam enfraquecer e fragmentar a UE, formada por 27 nações.
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Macron disse que não se deve permitir que a Rússia vença na Ucrânia e pediu um aumento na capacidade de segurança cibernética da Europa, laços de defesa mais estreitos com o Reino Unido pós-Brexit e a criação de uma academia europeia para treinar militares de alto escalão.
“Não existe defesa sem uma indústria de defesa… tivemos décadas de subinvestimento”, declarou ele, acrescentando que os europeus deveriam dar preferência à compra de equipamentos militares europeus.
“Precisamos produzir mais, precisamos produzir mais rápido e precisamos produzir como europeus”, disse Macron.
Autonomia estratégica
A Europa “tem que mostrar que nunca é vassala dos Estados Unidos e que também sabe como conversar com todas as outras regiões do mundo”, afirmou ele.
Há muito tempo, Macron defende a “autonomia estratégica” europeia, que envolve menos dependência dos Estados Unidos, uma posição que ganhou maior ressonância diante da nova candidatura de Donald Trump à Casa Branca. Trump sempre acusou a Europa de tirar proveito de defesa às custas dos Estados Unidos.
No entanto, muitas autoridades da UE acreditam que não há atualmente nenhuma alternativa confiável para o guarda-chuva militar dos EUA, e algumas suspeitam que Macron esteja pressionando os interesses industriais franceses.
Desafios econômicos
Macron disse que a Europa também corre o risco de ficar para trás do ponto de vista econômico em um contexto em que as regras globais de livre comércio estão sendo desafiadas por grandes concorrentes, e afirmou que a Europa deve ter como objetivo tornar-se líder global em inteligência artificial, computação quântica, espaço, biotecnologia e energia renovável.
A UE deve concordar com isenções às suas próprias regras de concorrência para que possa apoiar empresas em setores como IA e energia verde diante dos “subsídios excessivos” dos Estados Unidos e da China, disse Macron.
A Europa precisa de mercados menos fragmentados para energia, telecomunicações e serviços financeiros, e também deve reduzir a burocracia, acrescentou.
O líder francês espera que seu discurso tenha o mesmo impacto de um discurso semelhante que ele fez na Sorbonne há sete anos que prefigurou algumas mudanças significativas nas políticas da UE.
Desde então, muita coisa mudou, com grandes desafios geopolíticos, incluindo a guerra em Gaza, a invasão da Ucrânia pela Rússia e as crescentes tensões entre a China e os EUA.