O governo de Javier Milei aproveitou o feriado do Dia Nacional em Memória da Verdade e da Justiça — data criada em 2002 para lembrar das vítimas da última ditadura militar da Argentina, que durou de 24 de março de 1976 e 10 de dezembro de 1983 – para defender que se conte a “história completa”. Em vídeo distribuído à meia noite nas redes sociais, é destacado que já havia violência política no país antes do golpe e que é preciso também listar os atentados terroristas praticados na época por militantes das organizações de esquerda.
O vídeo é narrado pelo escritor Agustín Laje, presidente da Fundação Faro um “think tank” defensor do liberalismo e expoente da batalha cultural que tem sido citada pelo governo. Laje diz na peça publicitária que foi montada pela equipe de comunicação da Casa Rosada que nasceu em 1989 e que, quando chegou ao ensino médio, havia no país um “processo de destruição da verdade histórica, para fins partidários, ideológicos e econômicos”.
Segundo ele, os estudantes do século XXI foram doutrinados por uma visão histórica maniqueísta e reducionista, que foca apenas nos planos do governo militar para aniquilar jovens idealistas que lutavam por um mundo melhor, deixando 30.000 desaparecidos. No vídeo, ele coloca em dúvida até mesmo essa conta, que ele disse ser inflada.
“Os promotores da teoria do demônio único negaram a existência de uma guerra na Argentina nos anos 70. (…) A história deve ser contada em sua totalidade ou se torna um instrumento de manipulação política. Não existe meia-verdade”, disse o escritor.
Ele lembrou que, na sentença do julgamento das Juntas Militares de 1985, computou-se que as organizações terroristas cometeram, entre 1969 e 1979, um total de 5.215 ataques com explosivos, 1.052 ataques incendiários, 1.748 sequestros, 1.501 assassinatos, 45 tomadas de unidades militares e policiais, 2.402 roubos de armas, entre milhares de outros ataques de natureza guerrilheira e terrorista”.
Laje disse ainda que desde a década de 1960, organizações terroristas de esquerda afloraram em todos os países da região, estimuladas sem sua maioria, “pela Cuba do tirano Fidel Castro”. Ele citou movimentos como MIR (Chile), os Tupamaros (Uruguai), ELN (Bolívia), 14 de Março (Paraguai), FARC, ELN e ML-9 (Colômbia), FALN (Venezuela), Sendero Luminoso (Peru) e a ALN (Brasil), entre outros países da América Latina.
Na Argentina, foram lembrados os Montoneros e o ERP (Exército Revolucionário do Povo), ambas criadas vários anos antes de 1976. Ele afirmou ainda que, essas e outras organizações armadas, somavam em seu momento máximo 25 mil integrantes e 15 mil combatentes.
“Queremos ser livres para conhecer nossa história. É a única forma que existe de aprender o passado e não repeti-lo nunca mais. Uma sociedade que se aferra à mentira não pode construir um futuro de liberdade. Neste 24 de março rompamos com o relato imposto e reivindiquemos nosso direito de conhecer a verdade completa”, concluiu.