Os confrontos armados entre Tailândia e Camboja entraram no segundo dia nesta terça-feira (9), segundo informaram ambos os lados.
Os países desafiam os apelos dos Estados Unidos para interromper os combates e aderir ao acordo de paz mediado pelo presidente Donald Trump há meses, que agora parece estar à beira do colapso total.
Pelo menos oito pessoas morreram desde o início dos combates, de acordo com relatos de ambos os lados. Até terça-feira (9), a violência havia se espalhado para mais pontos ao longo da fronteira disputada, com acusações de ataques com foguetes e drones em algumas áreas.
Cerca de 400 mil pessoas que vivem ao longo da fronteira que divide os países do Sudeste Asiático foram retiradas das casas na mais recente escalada do conflito sobre a fronteira disputada.
O Ministro das Relações Exteriores da Tailândia, Sihasak Phuangketkeow, sugeriu que os confrontos podem se intensificar, declarando à imprensa internacional em entrevista que a ação militar continuará “até que sintamos que a soberania e a integridade territorial não estejam mais sendo desafiadas”.
Os combates, motivados por reivindicações territoriais concorrentes ao longo de sua fronteira terrestre de 800 quilômetros, são os mais intensos entre Tailândia e Camboja desde um conflito mortal de cinco dias em julho.
Menos de dois meses após um aclamado cessar-fogo apoiado por Trump, celebrado pelo presidente como prova de sua capacidade de encerrar guerras, o já frágil acordo de paz parece estar em risco de desintegração.
Por que eles estão lutando novamente?
Não se sabe exatamente. Ambos os lados acusam um ao outro de atirar primeiro.
A força aérea tailandesa afirmou que o Camboja estava mobilizando armamento pesado e reposicionando unidades de combate.
O Ministério da Defesa Nacional do Camboja negou as alegações. O exército cambojano disse que as forças tailandesas “se envolveram em numerosas ações provocativas por muitos dias”, sem especificar detalhes.
Na terça-feira (9), foram relatados disparos em seis das sete províncias tailandesas que fazem fronteira com o Camboja, segundo o exército tailandês.
A marinha informou que tropas cambojanas dispararam armas pesadas, incluindo foguetes BM-21, contra áreas civis, e acusou o Camboja de enviar unidades de operações especiais e atiradores de elite para a fronteira, de cavar trincheiras para fortificar posições e de invadir território tailandês na província costeira de Trat, “em uma ameaça direta e séria à soberania da Tailândia”.
O exército cambojano disse que os militares tailandeses realizaram “disparos ininterruptos durante toda a noite” em várias áreas da fronteira usando “drones de grande escala” e “fumaça venenosa”.
Sete civis cambojanos foram mortos e cerca de 20 outros ficaram feridos, de acordo com o Ministério do Interior do país.
A Tailândia informou que um de seus soldados foi morto.
Até onde isso pode chegar?
O Secretário-Geral das Nações Unidas e a União Europeia pediram moderação de ambos os lados. Um alto funcionário da administração americana disse à imprensa na segunda-feira (8) que “o presidente Trump está comprometido com a continuidade do cessar das hostilidades e espera que os governos do Camboja e da Tailândia honrem plenamente seus compromissos de encerrar este conflito.”
Porém, aparentemente houve pouco progresso em direção à diminuição das tensões no terreno.
O Ministro das Relações Exteriores tailandês, Sihasak, disse à imprensa que a Tailândia não descarta novos ataques, afirmando que a ação militar continuará “até sentirmos que nossa soberania e integridade territorial não estejam mais sendo desafiadas.”
Na segunda-feira (8), o primeiro-ministro tailandês Anutin Charnvirakul disse a jornalistas em Bangkok que “o Camboja deve se submeter à (Tailândia) para que os combates cessem.”
Quando questionado sobre o acordo de paz apoiado por Trump assinado na Malásia, ele respondeu: “Não me lembro mais disso.”
Hun Sen, o influente ex-líder do Camboja e atual presidente do Senado, disse em uma publicação no Facebook na terça-feira (9): “nossas forças armadas de todos os tipos devem contra-atacar em todos os pontos onde o inimigo atacar.”
A retórica inflamada ressalta a desconfiança e suspeita enraizadas entre os dois vizinhos, que passou a definir seu relacionamento desde o conflito mortal de julho, que matou dezenas de pessoas e deslocou cerca de 200 mil em ambos os lados da fronteira.
E quanto ao cessar-fogo?
O acordo foi assinado na Malásia em outubro. Trump, que presidiu a cerimônia, havia ajudado a intermediá-lo – em parte, ameaçando não fazer acordos comerciais com nenhum dos países caso se recusassem.
Mas as tensões vinham aumentando há semanas, incluindo uma explosão de mina terrestre que feriu quatro soldados tailandeses em novembro.
Após essa explosão, a Tailândia suspendeu todo o trabalho no acordo de paz e acusou o Camboja de violar a declaração conjunta ao instalar novas minas terrestres – acusação que o Camboja nega veementemente. A libertação provisória de 18 prisioneiros de guerra cambojanos capturados durante os combates de julho também foi interrompida.
Trump havia considerado o acordo de paz como uma grande vitória diplomática e mais um impulso para sua alardeada – e frequentemente exagerada – campanha de ter encerrado várias guerras.
A disputa tem suas origens no mapeamento da fronteira do Camboja por seu ex-colonizador, a França, e analistas já haviam alertado sobre o longo caminho a ser percorrido antes que um acordo de paz duradouro fosse alcançado.
A declaração de paz não resolveu a disputa territorial.
Questionado pela imprensa se a Tailândia planejava discutir os últimos confrontos fronteiriços com Trump, Sihasak, o ministro das Relações Exteriores tailandês, afirmou que cabe à Tailândia e ao Camboja “resolverem suas questões.”

