O desfile militar promovido por Xi Jinping em Pequim foi uma demonstração de força. Diante de milhares de espectadores e de uma plateia composta por líderes aliados, a China exibiu sua tecnologia bélica, em um espetáculo que misturou nacionalismo, poderio militar e uma clara mensagem geopolítica.
Entre os presentes, estavam figuras centrais no cenário internacional, como Vladimir Putin e Kim Jong-un, na primeira vez em que os três líderes aparecem juntos em um evento público.
Ao lado de parceiros europeus próximos à Rússia, como Sérvia, Eslováquia e Bielorrússia, a imagem transmitida foi de unidade entre países que defendem uma ordem mundial alternativa ao sistema liderado pelos Estados Unidos.
No centro do palco, porém, estavam as armas: lasers de defesa aérea, caças furtivos, bombardeiros com capacidade nuclear, mísseis anti navio, novos drones submarinos e o mais recente míssil balístico intercontinental chinês. Em meio a músicas patriotas e bandeiras, Pequim apresentou ao mundo a mensagem de que a ascensão da China, como afirmou Xi, é “imparável”.
As armas exibidas no desfile militar chinês
Míssil DF-61
A China apresentou seu mais novo míssil balístico intercontinental, chamado de DF-61. O míssil, transportado em uma plataforma móvel de oito rodas, apareceu pela primeira vez em postagens nas redes sociais antes do desfile e pareceu pegar analistas veteranos de surpresa.

O DF-61 foi agrupado no desfile com o míssil balístico lançado do ar JL-1 e o míssil balístico lançado de submarino JL-3, com alcance intercontinental, e uma nova versão do DF-31, um ICBM terrestre.

A agência de notícias estatal Xinhua afirmou que o agrupamento de mísseis de longo alcance “demonstrou pela primeira vez a força nuclear estratégica ‘três em um’ das bases terrestres, marítimas e aéreas do nosso exército. É um ‘trunfo’ estratégico para salvaguardar a soberania nacional e defender a dignidade nacional”.
A designação DF-61 foi vista pela última vez na década de 1970, quando um míssil de combustível líquido com essa designação estava em desenvolvimento, segundo o Instituto de Pesquisa para a Paz e Política de Segurança, sediado na Alemanha. Esse programa foi cancelado em 1978.
Drones submarinos
O desfile marca a estreia oficial de dois drones submarinos extra grandes (XLUUVs), uma área de guerra marítima onde a China é líder mundial, pelo menos em números, segundo o especialista em submarinos H. I. Sutton.
“A Marinha do país (PLAN) tem o maior programa XLUUV de qualquer nação, com pelo menos 5 tipos em operação há vários anos”, escreveu Sutton, autor de inteligência de código aberto (OSINT) e especialista em guerra marítima e subaquática, em agosto, no Naval News.
Sutton disse que ambos XLUUVs, exibidos ao público pela primeira vez no desfile de hoje, são “novos” e provavelmente os vencedores de um programa de testes de três anos.
O primeiro deles, denominado AJX002, mede cerca de 18 a 20 metros (59 a 66 pés) de comprimento, com um diâmetro de 1 a 1,5 metro.

O segundo tem o mesmo comprimento, mas é muito mais largo, cerca de 2 a 3 metros, escreveu Sutton após analisar imagens de treino dos XLUUVs no desfile. Esta embarcação também possui dois mastros, enquanto o AJX002 não possui nenhum.
A missão desses XLUUVs ainda não é conhecida, mas analistas dizem que eles podem estar armados com torpedos ou minas, ou possivelmente servirão somente para reconhecimento.
Mísseis antinavio
A China usa a designação “YJ” para mísseis antinavio, então acredita-se que o YJ-17 seja uma nova versão do DF-17, um míssil balístico de médio alcance equipado com um veículo planador hipersônico que foi notado pela primeira vez em 2014, segundo o Projeto de Defesa de Mísseis do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS).
Acredita-se que ele carregue uma ogiva convencional, mas pode ter capacidade nuclear. Embora o DF-17 fosse móvel em estradas, acredita-se que o YJ-17 seja para uso a partir das células de lançamento vertical de navios de guerra.
Avaliações anteriores dos veículos planadores hipersônicos do DF-17 mostram que ele é uma arma formidável.
“O DF-17 demonstrou um alto grau de precisão em testes, com um funcionário do governo americano afirmando que uma ogiva de teste atingiu ‘a poucos metros’ de seu alvo estacionário pretendido”, conforme o Projeto de Defesa de Mísseis.
Seu veículo planador hipersônico “realizou ‘manobras extremas’” em testes, segundo o grupo, citando autoridades americanas.
Com os outros mísseis antinavio em exibição, o YJ-15, o YJ-19 e o YJ-20, todos com possibilidade de lançamento a partir de contratorpedeiros e fragatas com mísseis guiados da maior frota naval da China no mundo, o YJ-17 envia a mensagem de que os porta-aviões americanos são vulneráveis em qualquer lugar da região.

Caças furtivos
Alguns dos mais novos caças furtivos do PLA, incluindo os bimotores J-35 e os bombardeiros H-6, foram vistos decolando na TV estatal logo após o início do desfile. Mais de 100 aeronaves teriam participado de um sobrevoo do desfile.
Aviões de comando e controle e jatos de transporte quadrimotores também foram mostrados.

Uma frota de helicópteros com a bandeira nacional chinesa também sobrevoou os céus de Pequim.

Eles voaram em uma formação que formava o número “80”, com alguns carregando bandeiras que incluíam slogans como “A Paz Prevalecerá”, “O Povo Prevalecerá” e “A Justiça Prevalecerá”.
Lasers de defesa aérea
A China exibiu pelo menos dois tipos de armas lasers de defesa aérea no desfile, incluindo um laser de grande porte que, segundo a TV estatal, seria montado em navios de guerra.
Também foi exibida uma versão terrestre, um laser montado sobre um longo caminhão de oito rodas, que poderia conter a energia elétrica extra necessária para resolver os problemas de baixa potência das armas laser anteriores.
Os lasers pertencem a uma classe chamada “armas de energia direcionada”, que também pode incluir sistemas de micro-ondas de alta potência. Em vez de usar projéteis para um abate cinético, essas armas dependem de energia eletromagnética para incapacitar um alvo por meio de calor, interrupção de sistemas elétricos internos ou ofuscamento de sensores como óticos e radares.
Acredita-se que os sistemas de micro-ondas sejam particularmente eficazes contra enxames de drones, por poderem atingir muitos objetos com rajadas de micro-ondas, enquanto os lasers podem atingir um objeto por vez.
Armas de energia direcionada são mais econômicas do que armas cinéticas, com um disparo de laser custando somente uma fração do preço de uma bala ou míssil. A logística também é mais fácil, já que projéteis de metal pesado não precisam ser transportados com a arma, apenas sua fonte de energia.