Os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), se reuniram por quase uma hora no domingo (26) em Kuala Lumpur, capital da Malásia, no primeiro encontro presencial agendado entre o líderes.
Os dois foram ao país para participar da 47ª reunião de cúpula da Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático).
A reunião foi articulada durante semanas por integrantes dos governos dos dois países, desde que os presidentes se encontraram brevemente durante a Assembleia Geral da ONU, em Nova York, em setembro.
Lula declarou anteriormente que tinha uma “longa pauta” a ser tratada com Trump acrescentando que estava otimista com a possibilidade do Brasil e dos Estados Unidos avançarem na manutenção da relação “mais civilizada possível”.
Durante o encontro, o presidente americano disse que os países devem chegar a um acordo positivo para os dois lados.
Os cinco principais pontos discutidos durante a reunião entre Lula e Trump
1. Tarifas ao Brasil
Ao ser questionado se os Estados Unidos reduziriam as tarifas ao Brasil, Trump disse: “Vamos discutir isso por um tempo. Sabemos que nos conhecemos. Sabemos o que cada um quer”.
O chanceler brasileiro, Mauro Vieira, falando após a reunião, afirmou que o presidente americano concordou em fazer uma rápida negociação. “Teremos negociações com vistas à suspensão das tarifas, visto que são aplicadas a um país que os EUA têm superávit”, declarou ele.
Vieira não deu um prazo para um acordo, mas disse que o encontro entre os líderes foi “muito positivo” e que “há esperanças em concluir uma negociação bilateral que trate de cada um dos setores da tributação americana ao Brasil”.
O chanceler também afirmou que o presidente Lula pediu a suspensão das tarifas impostas aos produtos brasileiros e das sanções da Lei Magnitsky aplicadas a ministros do STF (Superior Tribunal Federal) durante o encontro com o republicano.
2. Jair Bolsonaro e Lei Magnitsky
No início do encontro, uma das jornalistas presentes perguntou a Trump se o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, seria pautado na conversa entre os dois. O americano rebateu dizendo que o assunto “não era da conta” da repórter.
Posteriormente, Lula afirmou que falou para o líder republicano, durante a reunião, que o julgamento de Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF), na ação do plano de golpe, “foi muito sério, com provas muito contundentes”.
Segundo o presidente, ele explicou ao chefe de Estado americano que o processo foi conduzido com rigor e transparência, sem espaço para alegações infundadas da oposição.
Lula disse ainda que deixou claro a gravidade do plano, lembrando ameaças direcionadas a ele, ao vice-presidente da República, Geraldo Alckmin e ao ministro do STF, Alexandre de Moraes.
“O Bolsonaro faz parte do passado da política brasileira. Converso com tom político, de interesse do meu país, e não pessoal”, disse ele, convidando Trump para continuar o diálogo em fóruns internacionais, como a COP.
O secretário do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Márcio Rosa, disse que, durante a reunião o brasileiro pediu a suspensão das tarifas e das sanções impostas a autoridades brasileiras.
Segundo Rosa, Lula argumentou que a aplicação da Lei Magnistky é “injusta”, uma vez que o Brasil respeita o devido processo legal e não realiza perseguições de natureza política ou jurídica.
“O presidente Lula deixou claro que a motivação utilizada pelos EUA para impor a elevação de tarifas pro restante do mundo não se aplica ao Brasil por conta do superávit da balança comercial para os EUA”, afirmou Rosa.
3. Crise dos EUA com a Venezuela
Lula informou que abordou a situação da Venezuela durante reunião com o presidente americano.
Segundo o brasileiro, ele entregou a Trump um documento detalhando questões que incluem o tarifaço, conflitos internacionais, a legislação brasileira e a situação da Venezuela.
“Eu coloquei a questão da Venezuela para ele, dizendo que pelo noticiário estou vendo que as coisas estão se agravando. Expliquei que é extremamente importante levar em conta a experiência que o Brasil tem como maior país da América do Sul e economicamente mais relevante da região”, relatou o presidente.
Lula lembrou que o Brasil já mediou crises políticas na Venezuela no passado. Em 2003, nos primeiros 15 dias de seu mandato, ele participou da criação de um “grupo de amigos” para apoiar processos democráticos no país vizinho, envolvendo Estados Unidos, Espanha e outros países da região.
“Escolhemos pessoas com respeitabilidade da oposição, para fortalecer a democracia. Acredito que é possível encontrar uma solução na Venezuela se houver disposição para negociação”, afirmou.
O presidente destacou que o Brasil atua para manter a América do Sul como zona de paz.

4. Prisão e trajetória política de Lula
Donald Trump manteve uma postura amistosa em relação a Lula, elogiando a carreira do presidente e perguntando sobre o período em que o presidente ficou detido.
Trump disse que admirava a trajetória política do líder brasileiro, destacando a volta por cima do brasileiro depois de ter sido acusado e preso dentro da Operação Lava Jato.
Segundo assessores palacianos, o americano chegou a perguntar a Lula sobre quanto tempo ele ficou preso antes de ter o seu processo anulado e, reabilitado, ter vencido as eleições de 2022.
“O presidente Trump declarou admirar o perfil da carreira política do presidente Lula, já tendo sido duas vezes presidente da República, tendo sido perseguido no Brasil, se recuperado, provado sua inocência para voltar a se apresentar e conquistar seu terceiro mandato à Presidência”, disse Mauro Vieira.
Durante a conversa, Trump também fez menção aos processos que respondeu na Justiça americana, voltando a afirmar que eles foram promovidos como uma perseguição política contra ele.
Segundo apuração, o americano estava bem informado sobre a história de Lula e seu perfil político.
5. Visitas ao Brasil e aos Estados Unidos
Durante a coletiva após a reunião, Mauro Vieira também afirmou que deve ocorrer uma visita mútua entre os dois líderes.
“Haverá visita recíprocas. Trump quer ir ao Brasil e Lula disse que irá com prazer aos Estados Unidos”, declarou o chanceler.
Segundo Lula, a reunião com Donald Trump, realizada na Malásia, permitiu que os dois chefes de Estado discutissem questões comerciais e internacionais de forma transparente e pessoal.
“Agora não tem mais intermediário. Agora é o presidente Lula com presidente Trump. Gostemos ou não gostemos um do outro, nós dois temos que assumir a responsabilidade como chefe de Estado e saber que as nossas ações têm que trazer benefício para os povos que nos elegeram”
- Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República, durante coletiva de imprensa na Malásia.
Lula explicou que o encontro presencial foi fundamental para estreitar a comunicação.
Reunião entre equipes dos presidentes
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, disse, na madrugada desta segunda-feira (27), que se reuniu com o secretário do Tesouro, Scott Bessent, para construir um acordo na próxima semanas para as tarifas impostas ao Brasil.
“Concordamos em trabalhar para construir acordo, nas próximas semanas vamos estabelecer um cronograma de reuniões. Para tratar de negociações nos setores mais afetados pelas tarifas”, disse Vieira.
Segundo o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Márcio Rosa, nas próximas semanas equipe do Brasil irá a Washington, estando apalavrado com os americanos.
O ministro observou que, além de tratar das tarifas com os EUA, a delegação brasileira tem buscado ampliar o comércio bilateral e consolidar parcerias estratégicas em diversos continentes, com atenção especial às oportunidades de integração tecnológica e industrial.

