Imagine uma cidadezinha medieval que cresceu ao redor de um castelo, cortada por um pitoresco e tranquilo rio. Pense em vielas de paralelepípedo, casas renascentistas coloridas e construções góticas e barrocas bem preservadas. A descrição coincide com um set de filmagem, mas, para nossa sorte, a localidade não é fictícia: falo de Český Krumlov, a cerca de três horas de Praga, na República Tcheca.
Aninhada no sul do país europeu, a cidade de apenas 15 mil habitantes tem um centrinho histórico tombado como Patrimônio da Humanidade pela Unesco. Graças ao seu desenvolvimento pacífico, a diferença de outros destinos é que Český Krumlov tem uma herança arquitetônica que permaneceu intacta ao longo de mais de cinco séculos.
Às margens do rio Vltava, o castelo do século XIII, o teatro barroco e as ruas de outros tempos fazem com que Český Krumlov alimente a nossa imaginação do que é uma cidade saída de um conto de fadas.
É um destino ideal para um bate e volta a partir de Praga ou um bem-vindo desvio no roteiro de um cruzeiro fluvial pelo rio Danúbio, como fiz para episódios inéditos do CNN Viagem&Gastronomia.
A bordo do AmaSonata, uma das elegantes embarcações da companhia AmaWaterways, naveguei pela Europa Central por cinco países, da Hungria à Alemanha, passando pela Áustria. Além de Melk, com sua abadia milenar, o cruzeiro atracou em Linz, com opção de passarmos um dia inteiro em Český Krumlov, na República Tcheca – a viagem entre os dois países dura cerca de 1h30.
Cidade “conto de fadas”
Cidade reúne edificações históricas góticas, renascentistas e barrocas • Jiří Dužár
Situada em uma curva do rio Vltava, na região de Boêmia do Sul, a cidade já era um local seguro e estrategicamente privilegiado desde os tempos da ocupação das tribos celtas. As primeiras referências da localidade datam do início do século XIII, período em que a família Rosenberg fez de Krumlov a sua residência.
Foi sob o governo dos Rosenberg que o castelo e a cidadezinha prosperaram, impulsionados por conta da localização, que era um ponto de contato entre o interior da Boêmia, o Danúbio e o norte da Itália.
Depois dos Rosenberg, outras poderosas famílias comandaram a cidadezinha. No fim do século XVII, o teatro foi construído e, ao longo do século seguinte, Krumlov adquiriu a aparência barroca que vemos hoje, atraindo a aristocracia tempos depois. Apesar da remoção das muralhas e dos portões da cidade, o interessante é que nenhuma grande mudança ocorreu após o século XIX.
Hoje, as vielas e as ruas medievais ajudam a contar toda essa história. Além do castelo, que corresponde ao coração pulsante da cidade, uma caminhada pelo centro histórico nos reserva museus, galerias, igrejas, tavernas e pubs, além de cantinhos para lá de charmosos e altamente fotogênicos.
Esse combo faz com que Český Krumlov seja um verdadeiro ímã de viajantes, tornando-a um dos destinos mais visitados de toda a República Tcheca. Rodeada por cenários rurais, Krumlov pode ser percorrida de várias maneiras: a pé, de bicicleta, de barco e ainda por passeios guiados ao longo do rio Vltava.
O Castelo
Český Krumlov fica às margens do rio Vltava, o maior da República Tcheca • Libor Sváček
Reconhecido como um dos monumentos mais importantes do continente, o Castelo de Český Krumlov é também um dos maiores da Europa Central, composto por 41 construções palacianas e um jardim ornamental de 12 hectares.
Aqui, somos testemunhas de elementos góticos, renascentistas e barrocos, que convivem harmoniosamente há bons séculos. Podemos visitar os interiores renascentistas e os aposentos barrocos, mas não para por aí: há ainda teatro, torre de observação, museu, galerias e estábulos.
Uma das surpresas mais gratas é o teatro barroco, uma verdadeira joia rara. Trata-se de um conjunto de cenários, figurinos e adereços preservados. No passado, servia como entretenimento noturno para os governantes e contava com estrutura de iluminação, perspectiva e até de efeitos sonoros, tudo à moda antiga.
Outro ponto alto é a torre do castelo, símbolo da cidade e resquício de uma estrutura que data da primeira metade do século XIII. Erguendo-se a 86 metros a partir do nível do rio, possui 162 graus, esforço recompensado com vistas privilegiadas de toda a cidade e da natureza circundante.
No complexo, porões góticos abrigam galerias de arte contemporânea com exposições de cerâmica, vidro e de belas-artes. No lado externo, o jardim mistura estilos francês e inglês. Por fim, o fosso guarda uma curiosidade: é lar de ao menos dois ursos, um macho e uma fêmea. Segundo a administração do castelo, ursos são criados aqui desde 1707.
Atualmente, a visita ao castelo é dividida em sete tours. Fora o jardim, que possui entrada gratuita, as outras seções são pagas, com valores entre 80 a 360 coroas checas (entre R$ 21 e R$ 94).
Além do castelo: o que fazer em Český Krumlov
O castelo é apenas uma parte da cidadezinha. Conectado por pontes, o centro histórico deve ser percorrido a pé e sem pressa. Um bom começo é a Svornosti, praça principal com casas góticas, renascentistas e barrocas, incluindo a prefeitura, que fica na casa de número um.
Ao longo do dia, percorrer o entorno é fundamental. A dica é aventurar-se em algumas das caminhadas temáticas que o órgão de turismo preparou para os viajantes. Se tiver chance, estenda a permanência até mais tarde, já que a atmosfera muda e os pubs ganham ânimo.
Outros pontos de interesse são:
- Museum Fotoatelier Seidel: museu dedicado a dois fotógrafos, Josef e František Seidel, com estúdio que inclui negativos, câmeras antigas e fotografias do final do século XIX e início do século XX;
- Egon Schiele Art Centrum: centro artístico com trabalhos do pintor e artista gráfico Egon Schiele, aluno de Gustav Klimt. O local ocupa três mil metros quadrados de uma antiga cervejaria do século XVI e também reúne exposições de arte clássica e mundial do século XX;
- Museu das Marionetes: ideal se a viagem for ao lado de crianças, já que o Marionette Museum – Fairy-Tale House abriga mais de 300 fantoches e marionetes históricas;
- Latrán: é um dos distritos históricos da cidade, situado ao norte do centro, conectado por uma ponte de madeira chamada Lazebnický;
- Monastérios de Český Krumlov: estão entre os marcos mais importantes da cidade e reúnem um museu, galeria, brincadeiras para crianças e oficinas de artesanato;
- Igreja de Saint Vitus: remete ao gótico tardio, de 1407 a 1439, com modificações posteriores, sendo um patrimônio nacional desde os anos 1990.
Durante o verão, uma série de festivais tomam conta da cidade, como o Five-Petalled Rose Festival, que celebra o legado Renascentista com lutas de espadas, teatro e dança no centro histórico. Há também festivais de música ao longo do ano e, no Natal, uma árvore na praça principal ganha decoração e luzes típicas.