Portugal se juntou, nas eleições do final de semana, à lista dos países europeus nos quais partidos ultraconservadores crescem exponencialmente. A tendência deve se confirmar em escala continental nas eleições para o Parlamento Europeu, em junho.
Nos últimos dois anos, políticos anti-imigração passaram a governar ou a fazer parte de coalizões na Itália, Grécia, Suécia e Finlândia. França, Alemanha e Holanda também experimentam crescimento expressivo desses grupos.
O líder da Aliança Democrática, Luís Montenegro, que deve se tornar o próximo primeiro-ministro de Portugal, depois de sair na frente com 79 das 230 cadeiras do Parlamento, garante que cumprirá a palavra e não fará aliança com o Chega. O partido ultranacionalista quadruplicou sua bancada para 48 deputados.
André Ventura, líder do Chega, adverte que o país mergulhará na instabilidade se não o seu partido for excluído do governo. Na verdade, a instabilidade já está instalada: o primeiro-ministro socialista António Costa, reeleito em 2022, teve de renunciar por causa de um escândalo de corrupção envolvendo a concessão de licenças para minas de lítio e produção de hidrogênio por funcionários de seu governo.
Ventura defende ao mesmo tempo cortes nos impostos e aumentos de aposentadorias e salários públicos — uma conta que não fecha, mas seduz muitos eleitores, combinada com sua repulsa aos estrangeiros, que tem crescido nos últimos anos em Portugal, como em outras partes da Europa.
Montenegro tem a opção de convidar o Partido Socialista, que governa desde 2015, e obteve 77 cadeiras. Ainda há a possibilidade de o PS empatar ou mesmo ultrapassar a AD: falta eleger 4 deputados no exterior. De qualquer forma, com a ultra-direita como terceira força isolada em relação aos demais, não há chances de se formar um governo de esquerda.
O fato é que, juntas, a centro-direita e a centro-esquerda têm dois terços das cadeiras do Parlamento. Uma nova “geringonça”, ou seja, um governo de minoria socialista apoiado por outros partidos de esquerda, como o iniciado em 2015, não deve se repetir.
O mais provável é que Montenegro forme um governo de minoria, contando com a abstenção do PS e do Chega.
A vitória da centro-direita e o aumento recorde de deputados da ultra-direita já eram esperados e não surpreenderam os mercados em Portugal. Os resultados não influíram na Bolsa de Valores nem nos preços dos títulos da dívida pública.
O ministro das Finanças do governo derrotado, Fernando Medina, garantiu que não há “razões para receios” por parte das agências de avaliação de risco sobre a estabilidade financeira de Portugal. Medina disse esperar que a Aliança Democrática mantenha o “compromisso” com as finanças estáveis.
Não há na Europa diferenças de estratégias econômicas tão acentuadas como na América Latina, por exemplo. A esquerda europeia passou por um processo de atualização nos anos 90, e abraçou os princípios da responsabilidade fiscal que antes se restringiam à direita.
Os dois prometem criar crescimento econômico, com estratégias diferentes: A AD fala em baixar os impostos para pessoas físicas e empresas, de forma a estimular a atividade econômica e gerar um crescimento de 3,4% até o fim do mandato de quatro anos. Portugal não registra esse ritmo há duas décadas, com exceção de 2017 e do ano pós-recessão causada pela pandemia.
Já o PS prevê crescimento 2,2% nos próximos quatro anos no melhor dos cenários. Para isso, aposta no investimento nos serviços públicos e na redução seletiva do imposto de renda sobre as empresas.