Um tribunal de Bangladesh condenou a ex-primeira-ministra Sheikh Hasina à morte nesta segunda-feira (17), concluindo um julgamento que durou meses e que a considerou culpada por crimes contra a humanidade, por ordenar uma repressão violenta contra um levante estudantil no ano passado.
Antes do veredito, Hasina rejeitou as acusações e questionou a imparcialidade do processo, afirmando que a condenação era “uma conclusão inevitável”.
O clima em Bangladesh era de tensão antes da sentença, com pelo menos 30 explosões de bombas caseiras e 26 veículos incendiados em todo o país nos últimos dias. Não houve vítimas.
Acredita-se que cerca de 1.400 manifestantes tenham sido mortos e até 25 mil tenham ficado feridos durante as semanas de protestos em 2024, segundo o tribunal.
Hasina enfrentou cinco acusações relacionadas principalmente à incitação ao assassinato de manifestantes, à ordem de enforcamento de manifestantes e à ordem de uso de armas letais, drones e helicópteros para reprimir os protestos.
A ex-premiê permanece em exílio autoimposto na Índia, para onde fugiu no ano passado, e não compareceu ao tribunal em Dhaka, capital de Bangladesh.
A ex-líder governou a nação do sul da Ásia com mão de ferro de 2009 até sua destituição em 2024, e teme-se que o veredito desta segunda-feira (17) possa desencadear uma onda de caos político antes das eleições nacionais previstas para fevereiro do próximo ano.
Uma vida na política
Sheikh Hasina é a filha mais velha de Sheikh Mujibur Rahman, pai fundador de Bangladesh. Ela estreou na política ainda jovem, ao testemunhar a luta pela autonomia da região de Bengala em relação ao Paquistão.
Após um golpe militar em 1975, no qual seu pai, sua mãe e três irmãos foram assassinados, Hasina e sua irmã foram forçadas ao exílio.
Ela retornou a Bangladesh em 1981 para liderar a Liga Awami de seu pai e, após anos de oposição política, tornou-se primeira-ministra pela primeira vez quando o partido venceu as eleições de 1996.
Hasina cumpriu um mandato e, posteriormente, retornou ao poder em 2008, governando Bangladesh com a Liga Awami até o ano passado.
O governo do país apresentou forte crescimento econômico, mas organizações de direitos humanos alertaram que ela e sua administração estavam caminhando para um sistema de partido único.
Críticos expressaram preocupação com o aumento de relatos de violência política, intimidação de eleitores e assédio à mídia e a figuras da oposição.
Durante seu mandato, grupos de direitos humanos afirmam que o governo usou sua lei de segurança cibernética para reprimir a liberdade de expressão online, prendendo jornalistas, artistas e ativistas, com relatos de detenções arbitrárias e tortura.
Mas Hasina havia conseguido resistir a muitos protestos anteriores contra seu governo, que eclodiram principalmente durante as eleições.
Isso mudou no ano passado, com a bem-sucedida revolução liderada pela Geração Z, que derrubou seu poder.
Muitos membros de sua família, juntamente com importantes líderes do partido e ex-ministros de seu governo, também residem fora de Bangladesh.
Os apoiadores de Hasina rejeitam o processo judicial, alegando motivação política e uma tentativa de afastá-la da política.
O partido Liga Awami está proibido de exercer atividades políticas enquanto os julgamentos contra a ex-premiê e líderes do partido continuam.
Por outro lado, o governo interino liderado pelo ganhador do Prêmio Nobel, Muhammad Yunus, afirma que esses julgamentos são um passo essencial para restaurar a responsabilização e reconstruir a confiança pública nas instituições democráticas do país.

