Donald Trump não tem se esquivado do desejo pelo fim da Guerra em Gaza. Após o conflito de 12 dias entre Israel e Irã ter sido concluído com um cessar-fogo, o presidente dos Estados Unidos tem pressionado fortemente por uma trégua entre Israel e o Hamas.
Trump afirmou que “espera que isso aconteça na próxima semana”, quando o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu deve visitar a Casa Branca.
O presidente dos EUA anunciou na terça-feira (1°) que Israel “concordou com as condições necessárias” para finalizar um cessar-fogo de 60 dias. Uma autoridade israelense confirmou que o país aceitou a proposta mais recente.
No sábado (5), Netanyahu reunirá todo o gabinete para discutir o texto. O Hamas, por sua vez, disse que estava considerando a proposta, sem indicar se a aceitaria.
Os dois lados têm exigências conflitantes que os negociadores não conseguiram conciliar, mas as esperanças de um acordo foram renovadas após quase dois anos de guerra.
Por que entrar em um acordo agora?
Desde o cessar-fogo entre Israel e Irã no dia 24 de junho, os mediadores Catar e Egito – assim como os Estados Unidos – redobraram os apelos por uma nova trégua em Gaza.
Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Catar disse à imprensa que o acordo entre os países criou “impulso” para as negociações mais recentes entre Israel e o Hamas.
Israel impôs um bloqueio total à distribuição de ajuda humanitária ao território em março. O bloqueio foi parcialmente flexibilizado em maio, após muitos especialistas globais alertarem que milhares de pessoas poderiam morrer de fome em breve.
Centenas de palestinos em Gaza foram mortos por ataques israelenses nos últimos dias. E a distribuição de ajuda humanitária tem sido marcada pela violência, com centenas de mortos a caminho da GHF (Fundação Humanitária de Gaza), a controversa iniciativa privada de ajuda apoiada pelos EUA.
A pressão sobre Netanyahu também está crescendo dentro de Israel. O líder da oposição Yair Lapid disse nesta quarta-feira (2) que se juntaria ao governo de coalizão para viabilizar um acordo sobre os reféns.
Trump disse na terça-feira que Netanyahu queria acabar com a guerra. “Ele quer. Posso dizer que ele quer. Acho que chegaremos a um acordo na próxima semana”, afirmou o presidente americano a repórteres.
O ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Sa’ar, disse nesta quarta-feira que o país está “levando a sério” a ideia de chegar a um acordo. “Há alguns sinais positivos. Não quero dizer mais do que isso agora, mas nosso objetivo é iniciar as negociações o mais rápido possível”, disse ele a repórteres na Estônia.
Quais são as exigências de Israel?
Os detalhes precisos da nova proposta para um cessar-fogo de 60 dias e a libertação de reféns ainda não foram divulgados.
O primeiro-ministro do Catar afirmou anteriormente que o país vinha trabalhando ao lago do Egito para encontrar um “meio-termo” a partir da trégua proposta pelos EUA meses atrás.
Essa proposta delineava um cessar-fogo de 60 dias, durante o qual o Hamas libertaria 10 reféns israelenses vivos e os corpos de outros 18 reféns capturados pelo Hamas durante os ataques em 7 de outubro de 2023.
Dos 50 reféns ainda em Gaza, acredita-se que pelo menos 20 deles estejam vivos, segundo o governo israelense.
Os Estados Unidos e os mediadores deram garantias mais fortes sobre a obtenção de um acordo para encerrar a Guerra em Gaza como parte da proposta atualizada, disse a autoridade israelense à imprensa. A autoridade não divulgou a linguagem específica do documento, mas afirmou que a formulação é mais forte do que as garantias anteriores.
Como parte da proposta mais recente, Israel também concordou em permitir um aumento na ajuda humanitária por meio dos canais tradicionais administrados pela ONU, em vez da controversa Fundação Humanitária de Gaza, disse a autoridade israelense.
Uma fonte familiarizada com as negociações disse que a linguagem mais forte da proposta visa preservar o cessar-fogo e manter ambos os lados na mesa de negociações por mais de 60 dias, caso um acordo para encerrar a guerra não seja alcançado até lá.
E o Hamas?
O Hamas tem três reivindicações principais: o fim permanente dos combates, a prestação de assistência humanitária pelas Nações Unidas e a retirada das Forças de Israel para as posições que ocupavam em março deste ano, antes de retomarem a ofensiva e ocuparem a parte norte da Faixa de Gaza.
Um alto funcionário do Hamas disse à imprensa internacional no final de maio que o grupo está “pronto para devolver os reféns em um dia – queremos apenas uma garantia de que a guerra não ocorrerá novamente depois disso”.
Em resposta à proposta de cessar-fogo anterior, apoiada pelo governo Trump, em maio, o Hamas solicitou garantias dos EUA de que as negociações de cessar-fogo permanente continuarão e que os combates não serão retomados após a pausa de 60 dias.
Altos funcionários do Hamas devem se reunir na quinta-feira (3) para discutir a proposta mais recente, de acordo com uma fonte israelense, que acrescentou que, se o Hamas concordar, Israel e o grupo entrarão rapidamente em negociações finais.
Essas negociações obrigarão as autoridades de ambos os lados compareçam ao mesmo prédio, com mensagens sendo trocadas rapidamente entre as partes para chegar a um acordo final.
Uma das principais questões a serem resolvidas durante as negociações finais será o cronograma e o local da retirada das forças israelenses de Gaza durante o cessar-fogo de 60 dias, de acordo com a fonte.
O maior ponto de discórdia entre as partes em conflito é se o cessar-fogo será temporário ou um caminho para uma trégua permanente.
O Hamas também não demonstrou disposição em abrir mão do poder político e militar em Gaza.
Como foram as tréguas anteriores?
Nos 21 meses de guerra entre Israel e o Hamas, os acordos de cessar-fogo vigoraram por um total de apenas nove semanas.
Mais de 57.000 pessoas, das quais mais de 17.000 são crianças, foram mortas em Gaza durante os combates, de acordo com o Ministério da Saúde palestino.
O primeiro cessar-fogo entrou em vigor em novembro de 2023, mas durou apenas uma semana. Nesse período, 105 reféns foram libertados de Gaza, em troca de dezenas de prisioneiros palestinos.
Um segundo cessar-fogo só foi firmado em janeiro de 2025, pouco antes de Trump assumir o segundo mandato da presidência. Em pouco mais de 8 semanas – a primeira “fase” do cessar-fogo – o Hamas libertou 33 reféns, e Israel soltou cerca de 50 prisioneiros palestinos para cada refém libertado.
Na segunda fase planejada, Israel deveria concordar com um cessar-fogo permanente, mas retomou a ofensiva em 18 de março. A ruptura do cessar-fogo inviabilizou as negociações. Israel alega que tomou a decisão para pressionar o Hamas a libertar os reféns restantes.