Na iminência de contra-atacar o Irã, Israel lançou nesta quinta-feira (3) novos bombardeios no centro de Beirute, no Líbano, segundo testemunhas ouvidas pela agência de notícias Reuters. Explosões também aconteceram nos subúrbios da capital libanesa.
Os ataques deixaram nove pessoas mortas e outras 14 feridas, segundo o governo local — no total, mais de 1.000 pessoas morreram no Líbano em quase duas semanas de bombardeios de Israel. As Forças Armadas israelenses alegam estar atacando alvos do Hezbollah, o grupo extremista libanês contra o qual Israel vem lutando.
Na semana passada, o Exército israelense invadiu o território libanês para incursões por terra contra o grupo. O Irã, que financia o Hezbollah e o Hamas, respondeu com uma chuva de mísseis a Israel, que prometeu vingança
Israel afirma que tem bombardeado, principalmente, redutos do Hezbollah no sul do Líbano. Mas os ataques a Beirute, que fica no centro do país e onde o grupo extremista não tem muita presença, têm crescido.
Só nesta quinta-feira, dois ciclos de bombardeios foram registrados na capital libanesa: um no início da manhã (madrugada pelo horário de Brasília) e outro no início da tarde (início da manhã pelo horário de Brasília).
Ainda não havia registro de vítimas no ataque do início da tarde local até a última atualização desta reportagem.
Os moradores de Beirute receberam um alerta por mensagem de texto emitido pelas Forças Armadas de Israel pouco antes do primeiro bombardeio. O alerta pedia que eles deixassem suas casas, mas, devido ao horário, muitos estavam dormindo ou não viram a mensagem a tempo.
Nesta manhã, um novo alerta foi emitido pelas forças israelenses, desta vez para 25 vilarejos do sul do Líbano.
Também nesta quinta, Israel afirmou ter matado ao menos 15 integrantes do Hezbollah, ao atacar um prédio na cidade de Bint Jbeil, no sul do Líbano.
Já o Hezbollah disse, em comunicado, que detonou uma bomba em um vilarejo no sul do Líbano onde forças israelenses estavam infiltradas. Israel não havia se pronunciado sobre a informação até a última atualização desta reportagem.
Os novos ataques acontecem diante do seguinte contexto:
- Na quarta-feira (2), Israel teve o dia com mais baixas dentro do Líbano. Oito soldados israelenses morreram em confronto direto com o Hezbollah.
- A comunidade internacional ainda aguarda uma resposta de Israel ao ataque iraniano. Na terça-feira (1º), o Irã disparou cerca de 200 mísseis contra cidades como Tel Aviv e Jerusalém. Israel prometeu um contra-ataque “surpresa” e “preciso”.
- Os Estados Unidos, que afirmaram que estão participando da coordenação da resposta de Israel ao Irã, disseram que não apoiam um ataque em instalações nucleares iranianas. O presidente Joe Biden disse que exigiu um contra-ataque “proporcional”.
- Na ONU, o Líbano pede para que outros países pressionem Israel por um cessar-fogo. Uma proposta que prevê uma trégua de 21 dias foi apresentada por Estados Unidos e França, mas não avançou.
- O Líbano também relatou que o conflito entre Israel e Hezbollah empurrou o país para uma crise humanitária grave. O governo libanês pediu por ajuda financeira e diz que Israel mente ao afirmar que está fazendo ataques precisos, sem atingir civis.
- Em meio ao conflito, vários países tentam tirar cidadãos do Líbano. Um deles é o Brasil. A FAB aguarda uma autorização para pousar em Beirute, onde cidadãos brasileiros serão resgatados.
Somente na quarta-feira, 46 pessoas morreram e outras 85 ficaram feridas no Líbano. Já são mais de 1 mil mortos e 6 mil feridos em duas semanas de conflito, segundo as autoridades libanesas. Grande parte das vítimas é composta por mulheres e crianças.
Além disso, 1,2 milhão de libaneses precisaram sair de casa devido ao conflito. Eles se juntam a outros 2 milhões de sírios deslocados e 500 mil palestinos refugiados que vivem no país. O governo afirmou que muitas pessoas estão nas ruas sem acesso a remédios, água e comida.
“Hoje, o Líbano está preso entre a máquina de destruição de Israel e a ambição de outros na região. As pessoas do Líbano rejeitam essa fórmula fatal. O Líbano merece vida”, disse Al-Sayyid Hadi Hashim, representante do país na ONU.
Enquanto isso, Israel afirma que o Hezbollah continua lançando foguetes contra cidades israelenses. Sirenes de aviso tocaram na região central e no norte do país durante a madrugada desta quinta-feira.
Guerra em Gaza
Na Faixa de Gaza, onde Israel segue realizando bombardeios, as Forças de Defesa confirmaram a morte de um dos principais líderes do Hamas, Rawhi Mushtaha. A morte teria ocorrido em um ataque três meses atrás.
Mushtaha servia como o primeiro-ministro de fato do território, segundo o serviço de inteligência israelense. Outros dois membros do alto escalão do Hamas também teriam sido mortos na mesma ocasião.
Conforme o Hamas, 41.788 palestinos morreram em Gaza desde o início da guerra.
Entenda o conflito
Israel disse que está fazendo uma operação militar contra o grupo extremista Hezbollah. Embora tenha atuação política no Líbano, a organização possui um braço armado com forte influência no país. Além disso, o Hezbollah é apoiado pelo Irã e é aliado dos terroristas do Hamas.
Os extremistas têm bombardeado o norte de Israel desde outubro de 2023, em solidariedade aos terroristas do Hamas e às vítimas da guerra na Faixa de Gaza.
Nos últimos meses, Israel e Hezbollah viveram um aumento nas tensões. Um comandante do grupo extremista foi morto em um ataque israelense no Líbano, em julho. No mês seguinte, o grupo preparou uma resposta em larga escala contra Israel, que acabou sendo repelida.
Mais recentemente, líderes israelenses emitiram uma série de avisos sobre o aumento de operações contra o Hezbollah. O gatilho para uma virada no conflito veio após os seguintes pontos:
- Nos dias 17 e 18 de setembro, centenas de pagers e walkie-talkies usados pelo Hezbollah explodiram em uma ação militar coordenada.
- A imprensa norte-americana afirmou que os Estados Unidos foram avisados por Israel de que uma operação do tipo seria realizada. Entretanto, o governo israelense não assumiu a autoria.
- Após as explosões, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, disse que estava começando “uma nova fase na guerra”.
- Enquanto isso, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu prometeu que levará de volta para casa os moradores do norte do país, na região de fronteira, que precisaram deixar a área devido aos bombardeios do Hezbollah.
- Segundo o governo, esse retorno de moradores ao norte do país só seria possível por meio de uma ação militar.
- Em 23 de setembro, Israel bombardeou diversas áreas do Líbano. O dia foi o mais sangrento desde a guerra de 2006.
- Em 27 de setembro, Israel matou o chefe do Hezbollah, Hassan Nasrallah, por meio de um bombardeio em Beirute.
- Israel lançou uma operação terrestre no Líbano “limitada e precisa” contra alvos do Hezbollah, no dia 30 de setembro.
- Em 1º de outubro, o Irã atacou Israel como resposta à morte de Nasrallah e outros aliados do governo iraniano.