O primeiro-ministro canadense, Mark Carney, declarou vitória nas eleições do país na manhã desta terça-feira (29), afirmando que seu país “jamais” irá ceder aos Estados Unidos, após uma campanha com provocações e tarifas comerciais elevadas impostas pelo presidente americano, Donald Trump.
O líder do Partido Liberal fez uma repreensão a Trump, enviando uma mensagem de unidade a uma nação dividida, prometendo “representar todos que consideram o Canadá seu lar”.
“Como venho alertando há meses, os Estados Unidos querem nossa terra, nossos recursos, nossa água, nosso país. Mas essas não são ameaças vazias. O presidente Trump está tentando nos destruir para que os Estados Unidos possam nos dominar”, disse Carney. “Isso nunca, jamais acontecerá”, completou.
Carney reiterou declarações que fez durante a campanha eleitoral sobre a natureza alterada do relacionamento do Canadá com os Estados Unidos.
“Superamos o choque da traição americana, mas nunca devemos esquecer as lições. Temos que cuidar de nós mesmos. E, acima de tudo, temos que cuidar uns dos outros”, disse ele.
Os eleitores reconduziram o Partido Liberal do Canadá ao poder para um quarto mandato consecutivo, mas ainda não se sabe se Carney conquistou a maioria ou precisará de parceiros de coalizão para governar.
Um partido precisa de 172 cadeiras para formar a maioria. A CTV, afiliada da CNN, projeta um governo minoritário, enquanto a CBC, também afiliada, afirma que é muito cedo para dizer se eles vão obter a maioria.
O líder da oposição conservadora, Pierre Poilievre, admitiu a derrota na manhã desta terça-feira, afirmando que Carney havia conquistado cadeiras suficientes para formar um “governo minoritário extremamente precário”.
Carney, ex-banqueiro central, liderou uma onda de sentimento anti-Trump desde que venceu a disputa pela liderança de seu partido com uma vitória esmagadora, após a renúncia do ex-primeiro-ministro Justin Trudeau, no mês passado.
Ele liderou a oposição do Canadá às ameaças do presidente dos EUA de anexar o país como “o 51º estado” e fez da defesa do país um ponto central de sua plataforma.
“Rejeito qualquer tentativa de enfraquecer o Canadá, de nos desgastar, de nos destruir para que a América possa nos dominar”, disse Carney a repórteres no final de março. “Somos donos de nossa própria casa”, acrescentou.
A oposição conservadora, liderada pelo veterano parlamentar Pierre Poilievre, era a favorita para vencer quando Trudeau anunciou sua renúncia em janeiro, após pesquisas eleitorais desfavoráveis, uma crise de custo de vida e conflitos em seu gabinete.
Mas as tarifas pesadas de Trump sobre o Canadá e as ameaças à sua soberania transformaram drasticamente a disputa.
As pesquisas se estreitaram significativamente na última semana de campanha, com Poilievre convencendo alguns eleitores de que Carney não representava a mudança que muitos canadenses diziam estar buscando em dezenas de pesquisas.
Carney nunca havia ocupado um cargo político antes de se tornar primeiro-ministro. Suas décadas no setor financeiro o levaram a conduzir governos em grandes crises globais e períodos de turbulência, incluindo a condução da economia canadense durante a crise financeira de 2008.
Como governador do Banco da Inglaterra, ele ajudou o Reino Unido a navegar pelo Brexit — o que, segundo ele, reflete o que poderia acontecer com os EUA diante das tarifas.
A ideia de que o Canadá precisa trilhar seu próprio caminho fora da influência americana tem sido central na mensagem de Carney desde que assumiu o cargo.
Carney se apresentou durante toda a campanha como um profissional experiente do centro político, capaz de administrar a economia canadense em um período de turbulência.
“Eu entendo como o mundo funciona”, disse Carney ao podcaster Nate Erskine-Smith em outubro.
“Conheço pessoas que administram algumas das maiores empresas do mundo e entendem como elas funcionam. Sei como as instituições financeiras funcionam. Sei como os mercados funcionam… Estou tentando aplicar isso em benefício do Canadá”, explicou Carney.
A decisão de Trump de cobrar uma taxa de 25% sobre o aço e o alumínio canadenses, carros e autopeças, e as ameaças de tarifar produtos farmacêuticos e madeira abalaram as empresas canadenses.
É uma realidade que Carney não escondeu, alertando para “dias difíceis pela frente” com pressão sobre o emprego canadense.
O primeiro-ministro prometeu “reconstruir coisas neste país” para tornar o Canadá menos dependente dos EUA: novas casas, novas fábricas e novas fontes de “energia limpa e convencional”.
“Minha promessa solene é defender os trabalhadores canadenses, defender as empresas canadenses”, disse Carney em março.
“Defenderemos nossa história, nossos valores e nossa soberania.”
Mark Carney, primeiro-ministro canadense.
Carney não descartou a continuidade das negociações com Trump, mas também tem se empenhado em aprofundar os laços com aliados mais “confiáveis”.
Em uma atitude incomum, sua primeira viagem como primeiro-ministro ao exterior foi à Europa, onde conversou com autoridades francesas e britânicas sobre o aprofundamento dos laços de segurança, militares e econômicos.
Muitos canadenses veem Carney como alguém bem posicionado para navegar em uma guerra comercial com um aliado de longa data, dizem especialistas.
“Em uma crise, é importante nos unirmos e é essencial agir com propósito e força. E é isso que faremos”, disse Carney no início deste mês, ao se posicionar como o líder para enfrentar Trump.