A oposição a Nicolás Maduro divulgou, na noite de quarta-feira (30), um site que mostra uma contagem de votos paralela à realizada oficialmente pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) nas eleições presidenciais venezuelanas.
O portal “https://resultadosconvzla.com/” é, segundo a oposição, abastecido pelas atas eleitorais que foram obtidas e digitalizadas pelos opositores.
“Edmundo venceu, Venezuela venceu. Conheça ao vivo os resultados das eleições presidenciais de 28 de junho”, escreveu a líder oposicionista María Corina Machado em publicação no X (antigo Twitter).
O site também foi compartilhado pelo candidato da oposição Edmundo González, e por autoridades estrangeiras, como foi o caso do presidente argentino Javier Milei, e personalidades, como o bilionário Elon Musk.
Segundo o site, com 81,21% de apuração, a corrida eleitoral é liderada pelo candidato Edmundo González com 67% (7.119.768 votos), seguido por Nicolás Maduro com 30% (3.225.819 votos).
A oposição afirma que esses números representam as atas de 24.384 mesas de votação, de um total de 30.026 em todo país. Já teriam sido contabilizados 10.613.881 votos, que representam uma participação de 60,19% dos eleitores aptos.
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Atas já circulam pela internet
Desde as eleições de domingo (28), a CNN verificou que as atas eleitorais que contém os resultados detalhados por colégio eleitoral e mesa de votação circulam pela internet.
Os cidadãos com documento de identidade expedido pelas autoridades venezuelanas podem acessar esses sites com seu número, independentemente de terem votado ou não nas eleições realizadas há três dias, e revisar o resultado impresso nas atas.
A equipe de reportagem conseguiu acessar um site que oferece o serviço de consulta, ganovzla.com, e lá pôde revisar as atas que pertenceriam aos colégios eleitorais de cinco pessoas com documentos venezuelanos.
Dos cinco números de cédula inseridos, todos correspondem ao colégio eleitoral atribuído às pessoas com essa identificação.
Nos cinco resultados obtidos variam os nomes e as assinaturas dos membros da mesa e das testemunhas presentes na apuração. As imagens das atas têm um número de identificação aparentemente gerado pelo sistema, assinaturas de testemunhas e um código QR na parte inferior.
Em um vídeo em sua conta no X, o jornalista Eugenio Martínez, diretor do Votoscopio, disse que todos esses elementos são necessários para uma eventual auditoria desse material.
Mas para chegar a esse ponto seria necessário que o Conselho Nacional Eleitoral entregasse os detalhes dos resultados. E até a tarde de terça-feira, isso não havia sido feito, nem foi divulgado um novo boletim.
Só se sabe o que o presidente do CNE declarou no domingo “que com 80% da apuração oficial, Maduro somava 51% dos votos”.
Contrário ao costume de publicar quase imediatamente no site do CNE os resultados das eleições por colégio eleitoral e mesa, a atual diretoria do órgão não o fez.
Tanto o Centro Carter, os ex-presidentes da República Dominicana, Leonel Fernández, e da Colômbia, Ernesto Samper – ambos convidados como observadores – e vários governos da região pediram que se publiquem os resultados detalhados para dissipar as dúvidas surgidas.
“A não publicação é uma decisão política (do CNE). Nossa quase certeza é que eles não têm as atas para sustentar o resultado”, disse o especialista em política Eduardo Repilloza, diretor geral da organização civil Transparência Eleitoral e coautor do livro “Assim se Vota na Venezuela” (2020).
Repilloza sublinhou que o CNE deve, por lei, publicar os resultados por mesa e as atas de apuração, mas lembrou que em várias ocasiões isso não foi realizado. “Não se orientam por estarem obrigados ou não. A publicação é uma decisão política: tanto a hora do anúncio do primeiro boletim quanto a forma têm uma motivação política”, acrescentou.
“Basicamente, as vezes que não publicaram (os dados completos) é porque não houve um resultado que corresponda ao discurso”, disse Benigno Alarcón, diretor do Centro de Estudos Políticos e de Governo da Universidade Católica Andrés Bello (UCAB).
O especialista em política também destacou que é a primeira vez que não há atas em uma eleição presidencial. “Sempre foram publicadas porque estão nas mãos das testemunhas dos partidos e não há como negar o assunto”, acrescentou.
O CNE não respondeu publicamente às demandas de líderes opositores e presidentes da região. Na segunda-feira, o presidente da instituição, Elvis Amoroso, exclamou que “a Venezuela tem o melhor sistema eleitoral do mundo”.