Os dois principais líderes da oposição da Venezuela estão cada vez mais divididos sobre as possíveis ações dos Estados Unidos contra o país, afirmam políticos e analistas.
O governo de Donald Trump realizou diversos ataques contra pequenas embarcações no Caribe e no Pacífico desde o início de setembro, matando dezenas de pessoas. Segundo o governo americano, essas ações visam traficantes de drogas.
Trump também autorizou a CIA, a agência de inteligência dos EUA, a realizar operações secretas na Venezuela. De toda forma, ele disse nesta sexta-feira (31) que não está considerando ataques dentro do país sul-americano.
O ditador venezuelano, Nicolás Maduro, que foi acusado pelos EUA de tráfico de drogas e corrupção, diz que o líder americano quer uma mudança de regime no país e afirma que o povo venezuelano e as Forças Armadas impedirão qualquer tentativa disso.
Divisão na oposição da Venezuela
Maduro foi empossado para um terceiro mandato neste ano, apesar de diversos países e organizações lançarem dúvidas sobre a eleição de 2024.
Diante do aumento da presença militar dos EUA na região, que inclui um grupo de ataque de porta-aviões, destróieres com mísseis guiados, caças e um submarino nuclear, os dois principais grupos da oposição venezuelana divergem sobre os próximos passos.
Um bloco, liderado pela ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, Maria Corina Machado, alinhou-se estreitamente com Trump, argumentando que Maduro representa uma ameaça direta à segurança nacional dos EUA. Ele também apoia o envio de tropas americanas à Venezuela.
Mas o outro grupo, liderado pelo duas vezes candidato à Presidência Henrique Capriles, rejeita a intervenção armada dos Estados Unidos e defende a retomada das negociações entre o governo Maduro e Trump, apesar do sucesso limitado das conversas anteriores.
Essa fragmentação deixou muitos opositores sem saber o que fazer, tanto no país quanto no exterior.
Opositor pede negociações
Magalli Meda, assessora de María Corina Machado, insiste que a oposição permanece unida sob a Plataforma Unitária, o grupo de oito partidos que apoiou Machado e, posteriormente, seu sucessor na eleição presidencial de 2024, após uma decisão judicial que a impediu de concorrer.
“Nunca antes o país esteve unido em torno de uma única agenda: a liberdade da Venezuela”, afirmou Meda.
Muitas figuras da oposição, incluindo Machado, estão na clandestinidade desde o pleito do ano passado, enquanto outras, incluindo vários de seus aliados próximos, foram presas.
O regime venezuelano solicitou à Suprema Corte do país a anulação da cidadania de Leopoldo López, ex-líder da oposição que vive na Espanha, por defender uma intervenção militar, embora a Constituição proíba a cassação da cidadania venezuelana de pessoas que nasceram lá.

Um político aliado ao partido governista afirmou esta semana ter enviado à Corte uma lista com 20 pedidos de revogação de cidadania, incluindo o de Machado.
Por sua vez, Henrique Capriles defende a retomada das negociações, considerando o outro grupo opositor “extremista”.
Ele declarou à Reuters que está determinado a lutar por mudanças, apesar de ter sido denunciado como traidor por alguns na oposição, que afirmaram que sua participação na última eleição legislativa recompensou Maduro por se manter no poder.
Embora tenha parabenizado Machado pela conquista do Prêmio Nobel, Capriles afirmou haver “profundas diferenças” entre suas posições.
“Continuo acreditando que a negociação sempre será melhor para o futuro da Venezuela”, disse ele.
Catar se oferece para mediar crise
O primeiro-ministro do Catar, que já sediou conversas entre o governo e a oposição da Venezuela anteriormente, afirmou esta semana que seu país está pronto para mediar o conflito entre Maduro e os EUA, mas que nada concreto está em andamento.
Três rodadas de negociações entre a oposição e o regime desde 2019 resultaram na libertação de detentos e em um acordo sobre as condições para as eleições de 2024.
Uma pesquisa da Panterra realizada em agosto revelou que 70% dos venezuelanos se opõem ao partido governista.
Enquanto isso, 60% dos entrevistados veem como positivo o apoio dos EUA à liderança de Machado, enquanto apenas 16% são favoráveis a negociações com Maduro.

