Pedro Ramos, atual CEO da KEEPTALENT Portugal, é o novo vice-presidente da Câmara de Comércio da Região das Beiras (CCRB), com sede em Vale de Prazeres, no Fundão, região Centro de Portugal. Com uma trajetória marcada pela atuação em contextos internacionais, sobretudo no espaço lusófono, este gestor assume agora funções com o objetivo de “fortalecer as ligações entre a região Centro de Portugal e mercados como o Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde ou Timor-Leste”.
Em entrevista à nossa reportagem, Pedro Ramos destaca a importância da internacionalização estratégica, da mobilidade de talento e da integração de boas práticas de gestão como motores de desenvolvimento socioeconómico para o interior do país. O novo vice-presidente da CCRB revela ainda como pretende colocar ao serviço da região a sua rede de contactos internacionais e a experiência acumulada em projetos empresariais e académicos em vários continentes.
Com um discurso centrado na valorização do capital humano, na cooperação multilateral e na inovação, Ramos defende que é possível posicionar as Beiras como um “hub” qualificado de talento e de investimento, tanto para empresas locais que querem sair para o mundo, como para investidores que escolham Portugal como destino.
Que prioridades pretende estabelecer neste novo cargo como vice-presidente da Câmara de Comércio da Região das Beiras (CCRB)? Pedro Ramos: Assumir a vice-presidência da CCRB representa uma oportunidade de colocar ao serviço da região uma ligação profunda que mantenho, há muitos anos, com o Brasil e com os PALOP, tanto no mundo empresarial como na Gestão de Pessoas. Esta experiência permite-me entender, de forma privilegiada, os desafios e as dinâmicas destes mercados, ao mesmo tempo que fortalece a minha convicção de que a internacionalização das empresas das Beiras passa, cada vez mais, pela aproximação estratégica ao universo lusófono. Por isso, uma das minhas prioridades será reforçar esta conexão, dinamizando oportunidades de cooperação e de partilha de talento, promovendo programas de mobilidade e desenvolvimento de lideranças, e apostando na integração de boas práticas em Gestão de Pessoas que têm demonstrado grande impacto nestes contextos internacionais. O meu objetivo é que esta visão global, centrada na valorização do capital humano e no intercâmbio com o espaço lusófono, contribua efetivamente para a inovação e o crescimento sustentável das empresas da região das Beiras, gerando valor acrescido para o seu desenvolvimento socioeconómico.
A CCRB tem vindo a reforçar a sua ligação ao Brasil e a outras comunidades lusófonas, cenário com o qual guarda grandes atividades e experiência. Como avalia o papel da região Centro de Portugal nesse contexto e que oportunidades identifica para o desenvolvimento económico e comercial da região?
Pedro Ramos: A região Centro de Portugal tem uma posição privilegiada enquanto ponte natural para mercados lusófonos, fruto de laços históricos e culturais com o Brasil e outros países de língua portuguesa. Este contexto oferece oportunidades únicas para fomentar exportações, intercâmbios tecnológicos e parcerias académicas, bem como valorizar a presença de empresas internacionais que veem na região uma porta de entrada qualificada para a Europa.
O reforço destas ligações pode impulsionar setores como o agroalimentar, turismo sustentável e a indústria exportadora.
Tendo em conta a sua experiência como CEO da Keeptalent Portugal e o seu percurso em diversas organizações, como pretende colocar essa rede de contactos e conhecimento ao serviço da CCRB e do território das Beiras?
Pedro Ramos: Ao longo do meu percurso enquanto CEO da KEEPTALENT Portugal, construí uma experiência muito sólida e reconhecida em matéria de networking nacional e internacional, o que considero um dos grandes pilares para potenciar o desenvolvimento do território das Beiras.
Para além de gerir redes de contacto de elevado valor estratégico, tenho marcado presença, de forma consistente, nos maiores palcos mundiais dedicados à gestão e à Gestão de Pessoas.
Só em 2025, atuei como orador e conferencista em geografias tão distintas como Jacarta, várias cidades do Brasil, Angola, Cabo Verde, Moçambique, Espanha, e ainda promovi iniciativas na Índia através da minha atividade como professor universitário. Esta presença internacional permite-me trazer para a CCRB uma visão global e uma rede de contactos que abrangem diferentes continentes, setores e culturas empresariais. Pretendo colocar ao serviço do território estas competências consolidadas, promovendo eventos, missões empresariais, programas de mentoring e fóruns de partilha, tornando a CCRB um verdadeiro elo entre talento global e as necessidades locais das empresas e organizações da região.
A internacionalização das empresas da região tem sido um dos focos da CCRB. Que estratégias considera essenciais para reforçar essa presença nos mercados externos, especialmente em tempos de incerteza económica global? E o contrário, como pode contribuir para as empresas que chegam a Portugal, especificamente ao Interior?
Pedro Ramos: Tenho acompanhado de perto as exigências e desafios que a internacionalização impõe às empresas da região, sobretudo num contexto de incerteza económica. A experiência em múltiplos mercados — do Brasil a Angola, da Índia à Indonésia — reforça a importância da flexibilidade estratégica, da gestão de risco e da adaptabilidade organizacional. Nos últimos anos, as empresas têm sido obrigadas a diversificar mercados, investir em inovação e reforçar competências digitais e interculturais. Através da CCRB, podemos impulsionar projetos para entrada em novos mercados, promover participação em feiras, missões empresariais e fóruns de networking, e facilitar parcerias colaborativas. É também essencial ativar instrumentos de apoio, como fundos europeus e linhas de financiamento para territórios de baixa densidade.
No que toca às empresas que escolhem o Interior para investir, a CCRB pode disponibilizar informação estratégica, facilitar a integração e gerar sinergias com agentes locais, promovendo coesão territorial e valorização do talento local.
Para além da CCRB e da Keeptalent, tem desempenhado funções em diversas entidades do setor empresarial e associativo. Como concilia essas responsabilidades e de que forma elas se complementam na promoção de uma visão integrada de desenvolvimento regional e cooperação internacional? Em que entidades está a atuar?
Pedro Ramos: Procuro integrar de forma harmoniosa todas as responsabilidades que desempenho, conferindo-lhes um sentido estratégico em prol do desenvolvimento regional e da cooperação internacional. Esse equilíbrio resulta da complementaridade dos papéis assumidos no setor empresarial, associativo e académico. Enquanto Presidente da Sociedade da Excelência Luso- Brasileira, reforço os laços institucionais entre Portugal e o Brasil. Como Membro do Conselho Estratégico e Empresarial da ABRH Brasil, contribuo para políticas de Gestão de Pessoas num dos maiores mercados lusófonos. Como professor universitário, investigador e autor, trago inovação e conhecimento científico para os projetos onde estou envolvido. A participação na IFTDO e em conselhos editoriais e estratégicos, nacionais e internacionais, reforça o acesso a redes de excelência e práticas globais. Também atuo como consultor internacional com presença ativa em projetos nos PALOP, Brasil e Ásia. Esta vertente prática permite-me alinhar estratégias com as realidades locais e aplicar tendências globais de gestão e capital humano.
Esta abordagem multidisciplinar e integrada tem como foco projetar as Beiras e as suas organizações para um patamar de inovação e reconhecimento internacional.