Os membros do parlamento francês votarão nesta quarta-feira (4) em uma moção de desconfiança, amplamente esperada, para derrubar o governo do primeiro-ministro Michel Barnier, enquanto o país luta contra uma crise política cada vez mais profunda e um enorme déficit orçamentário.
A medida ocorre depois que Barnier tentou, na segunda-feira (2), forçar a aprovação de parte do orçamento do governo para 2025.
O projeto inclui medidas para preencher o grande buraco nas finanças públicas da França e alinhar o déficit de volta às regras da União Europeia até o final da década.
A proposta de lei de financiamento inclui € 60 bilhões (US$ 63 bilhões) em aumentos de impostos e cortes de gastos visando reduzir o déficit para 5% no próximo ano, conforme os cálculos do governo.
Algumas das medidas são extremamente impopulares entre os partidos de oposição, como atrasar os aumentos de pensão correspondentes à inflação.
Barnier, que está no poder desde setembro, como líder de um governo minoritário apoiado por centristas e conservadores, tentou aprovar o orçamento usando um mecanismo constitucional controverso que contornou uma votação na legislatura.
No entanto, essa manobra, por sua vez, deu aos parlamentares a oportunidade de apresentar moções de desconfiança contra ele — e os legisladores da esquerda, que repetidamente prometeram derrubar seu governo, fizeram exatamente isso.
O partido de extrema-direita, Rally Nacional, está pronto para se juntar à votação para derrubar o governo após não obter concessões do premiê no projeto de lei de finanças.
Este voto de desconfiança é apenas o mais recente choque em uma montanha-russa política na França, onde nenhum partido obteve maioria no parlamento desde as eleições antecipadas em julho.
Se a medida for aprovada, ela lançará o país no caos político.
Nenhum governo foi deposto em um voto de desconfiança desde 1962 e Barnier se tornaria o primeiro-ministro francês com o menor mandato na história.
Seu gabinete teria que servir como interino até que o presidente francês Emmanuel Macron nomeasse uma nova liderança.
Mas não está claro como qualquer futuro primeiro-ministro encontrará apoio unificado em um cenário político dividido e evitará ser derrubado da mesma forma.
O parlamento está profundamente dividido em três blocos: centristas do partido de Macron, a extrema-direita do partido de Marine Le Pen e uma coalizão de esquerda.
Esse impasse tornou os problemas orçamentários do governo muito mais difíceis de resolver.
Economia francesa
Na segunda-feira (2), preocupações sobre o impacto do turbilhão político nas finanças públicas da França empurraram brevemente os custos de empréstimos do governo acima dos da Grécia.
A dívida do governo francês está se aproximando de 111% do produto interno bruto (PIB) — um nível inigualável desde a Segunda Guerra Mundial, segundo a agência de classificação de crédito S&P Global Ratings — em parte porque o estado gastou muito para proteger a economia da pandemia e da crise energética desencadeada pela invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022.
A agência espera que o déficit orçamentário da França atinja 6,2% do PIB até o final do ano.
Isso é mais que o dobro do limite de 3% imposto pelas regras da União Europeia e um dos maiores déficits orçamentários entre os países que usam o euro.
“A França continua sendo uma economia equilibrada, aberta, rica e diversificada, com um profundo pool doméstico de poupança privada”, afirmou a S&P Global Ratings em uma declaração na sexta-feira (29).
Mas acrescentou que a classificação de crédito do país poderia ser rebaixada se o governo fosse “incapaz de reduzir seus grandes déficits orçamentários” ou se o crescimento econômico ficasse abaixo das expectativas da agência por um período prolongado.