Rodrigo Paz, foi eleito presidente da Bolívia em uma tendência irreversível, segundo o TSE do país. Paz é senador e ex-prefeito de Tarija.
Com mais de 97% de urnas apuradas, o candidato do PDC (Partido Democrata Cristão), Rodrigo Paz, foi eleito presidente da Bolívia em uma tendência irreversível, segundo o TSE do país. Paz é senador e ex-prefeito de Tarija.
Um dos principais desafios de Paz será lidar com a crise econômica do país. Durante sua campanha presidencial, ele defendeu a descentralização do governo e a promoção do crescimento do setor privado, mantendo os programas sociais.
A eleição presidencial na Bolívia foi marcada pelo ineditismo de um segundo turno. Foi a primeira vez na história do país que a população foi às urnas para escolher seu novo mandatário dessa forma.
Outra surpresa do pleito, foi a derrota histórica do MAS (Movimento ao Socialismo), fundado e liderado por Evo Morales, no primeiro turno. O ex-presidente boliviano declarou seu apoio a Rodrigo Paz, que disputou a eleição com Tuto Quiroga, e, no domingo, disse que “votou por obrigação”.
Em discurso após o resultado das eleições, Paz declarou que não é ele quem ganha ou perde, mas o país, e agradeceu ao seu rival, Jorge “Tuto” Quiroga, por seu apelo reconhecendo o resultado preliminar.
“Hoje, após a vitória, estendemos nossa mão para governar com todos os homens e mulheres que amam o país”, disse ele em mensagem aos seus apoiadores em La Paz.

O líder do PDC também agradeceu aos presidentes regionais que telefonaram para parabenizá-lo.
“A Bolívia está gradualmente recuperando sua posição internacional”, afirmou.
Paz afirmou ter conversado com o subsecretário de Estado dos EUA, Christopher Landau, e reafirmou a importância da parceria com o país.
“Em nome do governo do presidente Donald Trump, fomos chamados… Qualquer apoio, assistência ou cooperação necessária para manter uma estreita cooperação com um dos governos mais importantes do mundo fará parte das soluções a partir de 8 de novembro, para que a Bolívia não fique sem seus hidrocarbonetos, e eles, juntamente com outras nações, nos apoiam plenamente”, disse ele.
Quem é Rodrigo Paz Pereira
Com uma vida marcada pela política mesmo antes de nascer, o senador e candidato Rodrigo Paz Pereira busca seguir os passos do pai, o ex-presidente da Bolívia Jaime Paz Zamora (1989-1993), e escrever sua própria história à frente do Palácio Quemado.
Paz Pereira, que venceu o primeiro turno das eleições presidenciais e competirá no segundo turno contra o ex-presidente Jorge “Tuto” Quiroga, nasceu em 1967, a milhares de quilômetros dos Andes, na Espanha, quando sua família estava exilada durante uma época de ditaduras militares em seu país. Após seus primeiros anos no exterior, estudou em La Paz. Tinha 12 anos quando seu pai foi o único sobrevivente de um suposto atentado aéreo.
Estudou economia e relações internacionais, além de ter feito um mestrado em gestão política na American University, em Washington. Em 2002, chegou ao Congresso como deputado pelo departamento de Tarija, mas entre 2010 e 2020 voltou à cidade homônima, onde foi primeiro vereador e depois prefeito. No último quinquênio, atuou como senador nacional pela aliança Comunidad Ciudadana, liderada pelo ex-presidente Carlos Mesa.
Os pilares da campanha
Sua carreira em Tarija, a principal região produtora de gás e conhecida como “a carteira do país”, com reivindicações autonômicas, esclarece por que sua campanha foca na descentralização do Estado para dar mais orçamento aos departamentos.
O plano de governo do Partido Democrata Cristão, intitulado Agenda 50/50, está organizado em três pilares. O primeiro fala de uma “asfixia” em que o Estado concentra cerca de 85% do orçamento nacional, e pede um modelo que redistribua os fundos em metades: uma para o nível central e outra para as entidades territoriais e universidades públicas.
Rodrigo Paz também propõe o que chama de “Capitalismo para todos” ou “Dinheiro para todos”: um programa de créditos acessíveis, facilidades tributárias para impulsionar a economia formal e eliminar barreiras de importação para produtos que a Bolívia não fabrica, o que inclui a “eliminação” da alfândega. “Vêm tempos melhores. Reduzir tarifas, diminuir impostos, muito crédito, dinheiro para todos”, disse em um evento em Achacachi, em junho. “Capitalismo para todos, não para uns poucos”, tem resumido em várias declarações.
No entanto, ele esclareceu semanas atrás que não busca empréstimos de organismos internacionais. “Na Bolívia, o dinheiro é suficiente para reativar nossa economia. Para que fique claro, sou contra qualquer crédito do Fundo Monetário Internacional”, enfatizou em entrevista à Rádio Panamericana.
O terceiro pilar que ele destaca é a reforma da Justiça e o combate à corrupção, que classifica como um problema estrutural do país. Paz concorre junto com Edman Lara como candidato a vice-presidente, um ex-capitão da Polícia Nacional que foi desligado em 2024 por processos disciplinares. Lara, que havia denunciado supostos casos de corrupção nas forças de segurança, rejeita as acusações.
“Há quem viva da política e quem faça serviço público”
No final do ano passado, quando se desenhavam possíveis acordos eleitorais da oposição em meio às disputas internas do governo, Paz negou ter formado uma aliança, como chegou a ser comentado. “Não estamos em nenhum acordo político. Nós buscamos a unidade com o povo, não entre quatro pessoas e de forma secreta”, disse ao jornal El Deber.
“Há quem viva da política e quem faça serviço público. Já concorri e venci o MAS (Movimento ao Socialismo, partido fundado e liderado por Evo Morales) em cinco eleições. Acredito que minha geração tem o direito de se candidatar à Presidência a partir de Tarija e apresentar uma alternativa para o país”, enfatizou.
Em suas redes sociais, ele se define como “apaixonado pela minha terra, pelo futebol, pela comida nacional e pela família”.
O plano de governo também menciona a vulnerabilidade da comunidade LGBTQIA+ e o problema da violência contra as mulheres, embora Paz costume tratar as desigualdades como questões de meritocracia e considere necessário reformar a lei 348 contra a violência de gênero devido a supostas extorsões contra homens acusados desse crime, disse em entrevista à Rádio Panamericana.
Além disso, propõe políticas de energias limpas, em um país majoritariamente conservador e com uma economia extrativista baseada em hidrocarbonetos.
Se a Bolívia já teve dois chefes de Estado nascidos no exterior do calibre de Simón Bolívar e Antonio José de Sucre, Paz Pereira aposta em entrar nessa lista e seguir o legado familiar com seu toque pessoal.