O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vetou a participação da África do Sul nas próximas reuniões do G20 e convidou a Polônia para ocupar o lugar do país africano no grupo das maiores economias do mundo.
O movimento faz parte de uma estratégia dos americanos de criarem o que eles estão chamando de “um novo G20” e envolve uma forte disputa diplomática com o governo da África do Sul.
Trump acusa, sem apresentar evidências, o governo sul-africano de perseguir a minoria branca e de promover desapropriações de terras sem compensação.
Essa narrativa foi usada para justificar o boicote à última cúpula do bloco, realizada em Joanesburgo no fim de novembro, e para as retaliações que Washington passou a anunciar desde que assumiu a presidência rotativa do G20, no início de dezembro.
As ameaças se concretizaram na semana passada, quando o secretário de Estado, Marco Rubio, declarou que “o presidente Trump e os Estados Unidos não estenderão um convite ao governo sul-africano para participar do G20 durante nossa presidência”.
No mesmo comunicado, Rubio confirmou o convite para a Polônia entrar no grupo.
Segundo ele, o governo de Varsóvia é um parceiro natural dos EUA.
“Convidaremos amigos, vizinhos e parceiros para o G20 americano. Em particular, a Polônia, uma nação que antes estava presa atrás da Cortina de Ferro, mas que agora figura entre as 20 maiores economias do mundo”, afirmou.
Rubio também atribuiu o crescimento econômico polonês à proximidade com Washington, dizendo que “o sucesso da Polônia prova que é melhor focar no futuro do que se apegar a ressentimentos. Mostra como a parceria com os Estados Unidos e com empresas americanas impulsiona a prosperidade.”
A Polônia é hoje um dos aliados mais alinhados aos EUA na Europa e elegeu, este ano, o nacionalista de direita Karol Nawrocki como presidente.
Boicote à África do Sul
Durante toda a presidência sul-africana no G20, Washington atuou para bloquear temas, travar negociações e até impedir a aprovação do comunicado final da cúpula.
Rubio voltou à carga contra Pretória, afirmando que “o apetite do governo sul-africano pelo racismo e a tolerância à violência contra seus cidadãos africâneres tornaram-se políticas centrais”, acusando ainda o país de confisco de terras e má gestão econômica.
Ele também atacou a agenda discutida em Joanesburgo, afirmando que a presidência sul-africana do G20 “foi um exercício de rancor, divisão e agendas radicais”, ao priorizar mudanças climáticas, diversidade, inclusão e dependência de ajuda externa.
Esses temas são pilares reconhecidos da cooperação global e do multilateralismo, mas não interessam ao atual governo dos Estados Unidos.
O governo Trump já havia sinalizado que pretende mudar radicalmente a pauta do G20, esvaziando debates sobre meio ambiente e questões sociais para concentrar o bloco somente em crescimento econômico e parcerias comerciais favoráveis aos EUA.
Rubio chegou a condicionar uma futura reinclusão da África do Sul no G20 a uma mudança de governo no país.
“Os Estados Unidos apoiam o povo sul-africano, mas não seu governo radical liderado pelo ANC. Quando a África do Sul fizer as difíceis escolhas necessárias para consertar seu sistema falido e estiver pronta para se reintegrar à família de nações livres e prósperas, teremos um lugar reservado para ela. Até lá, os Estados Unidos seguirão em frente com um novo G20”, disse ele, confirmando o uso da expressão “novo G20”.
A agenda americana
Segundo Rubio, Washington quer que o G20 trate exclusivamente de três temas: redução de entraves regulatórios, fortalecimento de cadeias de suprimento de energia e estímulo a novas tecnologias e inovação.
As primeiras reuniões de negociadores do G20, incluindo representantes do Brasil, ocorrerão em Washington nos dias 15 e 16 de dezembro, seguidas de encontros ao longo de 2026.
Trump pretende encerrar sua presidência sediando a cúpula de chefes de Estado em sua propriedade de Mar-a-Lago, na Flórida.
Os outros países que fazem parte do G20 ainda não reagiram ao veto aos sul-africanos, mas é possível haver um forte debate interno, visto que as decisões do grupo são normalmente tomadas por consenso.
O ministro das Relações Exteriores da Polônia, Radosław Sikorski, confirmou recentemente que vinha negociando com os Estados Unidos a entrada do país no G20.
“Temos o direito de fazer isso não apenas como uma das 20 maiores economias do mundo, mas também como um país que apresenta argumentos políticos e intelectuais, pois somos um país que se transformou com sucesso de uma economia planificada para uma economia de mercado”, acrescentou.
O G20 atualmente inclui 19 países, além da União Europeia e da União Africana.

