O vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, chegou a Israel nesta terça-feira (21). Após os últimos conflitos na Faixa de Gaza, Washington tenta estabilizar a primeira e instável fase do cessar-fogo e pressionar Israel e Hamas a alcançarem as concessões mais duras exigidas de cada lado nas próximas negociações.
Os dois lados se acusam mutuamente de repetidas violações do cessar-fogo desde que foi formalmente acordado.
Surtos de violência foram relatados e recriminações sobre o ritmo de devolução dos corpos dos reféns, o envio de ajuda humanitária e a abertura das fronteiras.
No entanto, o plano de cessar-fogo de 20 pontos do presidente dos EUA, Donald Trump, exigirá medidas muito mais difíceis, com as quais os lados ainda não se comprometeram totalmente.
Isso inclui o desarmamento do Hamas e medidas em direção à criação de um Estado palestino.
Segunda fase do cessar-fogo
A visita de Vance acontece após as conversas de segunda-feira (21) entre o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e os enviados americanos, Steven Witkoff, e o genro de Trump, Jared Kushner. O Hamas também se reunirá com mediadores no Cairo.
Uma alta autoridade israelense falou que o objetivo da visita de Vance era avançar as negociações em Gaza para a segunda fase do cessar-fogo.
As negociações do Hamas no Cairo, lideradas pelo líder exilado do grupo, Khalil al-Hayya, também analisam as perspectivas para a próxima fase da trégua e os acordos pós-guerra em Gaza, bem como a estabilização do cessar-fogo existente.
Uma delegação do Egito, importante mediador no conflito, chegou a Israel nesta terça-feira (21), segundo fontes israelenses e egípcias.
Não ficou imediatamente claro se sua chegada estava relacionada à visita de Vance.
Violações do acordo
Ressaltando a fragilidade da trégua, o Catar, outro mediador, acusou Israel nesta terça-feira (21) de “contínuas violações”.
O Catar e a Turquia, que tem usado seu papel para reforçar a própria posição regional, têm sido interlocutores-chave do Hamas.
O plano de Trump previa a criação de um comitê palestino tecnocrático supervisionado por um conselho internacional, sem que o Hamas assumisse nenhum papel na governança.
Uma autoridade palestina próxima às negociações afirmou que o Hamas encorajou a formação de tal comitê para administrar Gaza sem nenhum de seus representantes, mas com o consentimento do grupo, bem como da Autoridade Palestina e de outras facções.
Na semana passada, Mohammed Nazzal, alto funcionário do grupo palestino, disse à Reuters que o grupo esperava manter uma função de segurança em Gaza durante um período interino indefinido.
Israel afirmou que o Hamas não pode ter qualquer papel em Gaza, enquanto Israel e Trump declararam que o grupo deve se desarmar.
Nazzal não se comprometeu com o desarmamento do grupo.
Na semana passada, o Hamas combateu gangues rivais nas ruas de Gaza e executou publicamente homens acusados de terem colaborado com Israel.
Trump tolerou os assassinatos, mas o comando militar americano no Oriente Médio instou o Hamas a cessar a violência “sem demora”.
Vance era esperado nesta terça-feira para visitar o quartel-general das forças conjuntas lideradas pelos EUA e destinadas a ajudar nos esforços de estabilização de Gaza.
Retorno de corpos dos reféns
Em declarações à televisão egípcia na noite de segunda-feira (20), o líder exilado do Hamas, Khalil al-Hayya, reafirmou o cumprimento da trégua pelo grupo.
Ele disse que cumpriria suas obrigações na primeira fase, incluindo a devolução de mais corpos de reféns.
“Que os corpos (dos reféns) retornem às suas famílias e que os corpos dos nossos mártires retornem às suas famílias para serem enterrados com dignidade”, declarou ele.
Mais um corpo de um refém capturado pelo Hamas no ataque que desencadeou a guerra em 7 de outubro de 2023, foi devolvido na segunda-feira (20) e identificado pelas autoridades israelenses.
Acredita-se que cerca de 15 corpos permaneçam em Gaza, com Israel prevendo que cerca de cinco deles sejam devolvidos em breve e outros exijam um processo de recuperação mais lento e complexo.
O país devolveu mais 15 corpos palestinos nesta terça-feira (21), informaram autoridades de saúde locais, elevando o total devolvido a Gaza para 165.
Entrega de ajuda humanitária
Dentro do território, nesta terça-feira (21), mais ajuda estava entrando por meio de duas passagens controladas por Israel, disseram autoridades palestinas e da ONU.
No entanto, com os moradores de Gaza enfrentando condições catastróficas, agências de ajuda humanitária disseram que muito mais precisa ser levado.
Ismail al-Thawabta, diretor do escritório de imprensa do governo de Gaza, controlado pelo Hamas, falou que muito menos caminhões entraram do que o combinado e chamou isso de “uma gota no oceano do que as pessoas precisam”.
A violência em Gaza desde a trégua tem se concentrado principalmente em torno da “linha amarela” que demarca a retirada militar de Israel.
Nesta terça-feira (21), a rádio pública israelense Kan relatou que tropas mataram uma pessoa que cruzava a linha e avançava em sua direção.
Palestinos próximos à linha, atravessando áreas devastadas perto de grandes cidades, disseram que ela não está claramente sinalizada e é difícil saber onde começa a zona de exclusão.
Tratores israelenses começaram a colocar blocos de concreto amarelos ao longo da rota na segunda-feira (20).