Dúvidas sobre verdades socialmente aceitas e expostas por tradições religiosas, mitológicas ou vindas de afirmações de filósofos e de sábios de grupos sociais estão na raiz da filosofia de Sócrates (470 a.C. – Atenas, 399 a.C.), em especial quando ele, diante do mundo, afirmava que nada sabia. É uma negação aparentemente arrogante, mas indica a necessidade de busca do conhecimento e de ir muito além das verdades estabelecidas, prontas e determinadas.
Seguidor das ideias de Sócrates, o filósofo Platão (428 a.C. – Atenas,348 a.C.), manteve posição, também questionadora sobre as crenças e os modos de conhecimento da verdade, no seu tempo. Ele postulava, por exemplo, que a verdade estava no mundo das ideias, bastava uma autorreflexão para conhecê-la, pois a verdade e o conhecimento estavam dentro dos homens, sendo ela imutável e universal, bem distante do mundo sensível, visto que o mundo captado pelos sentidos seria tão somente uma cópia falsa daquilo que está no intelecto do filósofo, numa condição absoluta e perfeita, sem máscara e sem enganação.
O ex-aluno de Platão, o pensador Aristóteles (384 a.C. – Atenas, 322 a.C.) discordava do mestre ao defender que é possível conhecer a verdade a partir do mundo sensível, porque a ideia e o sensível não eram distantes nem antagônicas e que o conhecimento e a verdade serão alcançados pelas experimentações num processo de aperfeiçoamento envolvendo ideias e os sentidos.
As escolas filosóficas e os filósofos ocidentais, depois dos ensinamentos de Sócrates, de Plantão e de Aristóteles, concordam ou discordaram desses sistemas apontados pelos filósofos antigos para chegar à verdade e ao conhecimento. Na filosofia moderna, o francês René Descartes (1596 – 1650), na obra Meditações (1641), questiona o pensamento de Aristóteles e dos filósofos céticos de sua época, inaugurando o eu pensante, um eu pensante inato, afirmando um racionalismo próximo das concepções de Plantão.
Ele traz um subjetivismo filosófico que vai influenciar outros pensadores, outros saberes, outras ciências e que será, também, definidora do homem moderno. É uma nova condição do homem. Diferente dos filósofos pré-socráticos, por exemplo, que entendiam o homem tão somente como mais um ser da natureza, com o lugar do homem determinada no Cosmo e pelo Cosmo, onde a verdade e o conhecimento partiam da natureza; Descartes pensou diferente, ainda, da posição da filosofia medieval cristã que acreditava que o homem era uma criação divina que devia apenas obedecer à vontade Deus, aos mandamentos divinos, no qual residia a verdade. Descarte inclui na filosofia o eu pensante que duvida.
Todo metódico, antes de demostrar essa compreensão do eu penso, da famosa conclusão revolucionária sintetizada na expressão “eu sou, eu existo”, René Descartes utiliza-se da dúvida radical como método de sua filosofia, objetivando afastar qualquer verdade pré-determinada ou crendices presentes na sua vida, na sua formação escolar, nos escritos de pensadores ocidentais do seu tempo e do período medieval, para finalmente constatar a verdade, os fundamentos verdadeiros e indubitáveis para a ciência moderna.
Pois bem, o sistema filosófico apresentado por René Descartes, com destaque na obra “Meditações”, contribuiu para o pensamento do homem moderno, assim como para a ciência moderna que ganhou um método em que o distanciamento do sujeito do conhecimento do objeto de estudo é fundamental. Trazer o “eu pensante” foi muito importante, pois o duvidar é uma premissa básica na busca da verdade, além de um subjetivismo que vai influenciar outras ciências contemporâneas. E mais: no mundo atual, movido por modo utilitário de vida e de grande valorização dos sentidos, a leitura de René Descartes é um ponto de reflexão.