Fiquei surpresa com a mídia impressa de Manaus, principalmente a dos cadernos culturais quando por carência de habilidade jornalística houve indiferença ou omissão no noticiar a presença meteórica em Manaus da poeta amazonense Astrid Cabral. Repito, fiquei surpresa porque é fato inconteste no setor midiático ser a notícia mandamento primordial precipuamente se esta é inédita e de primeira mão. Documentar em reportagem, entrevista e fotografias seriam o óbvio para o jornalismo absorvido nas universidades onde o binômio notícia e informação consiste em fator preponderante de todo o comunicólogo. Astrid Cabral, considerada ícone das poetas amazonenses desde os primórdios do Clube da Madrugada do qual ela era integrante, reside há muito no Rio de Janeiro e depois de um longo período ausente aqui esteve por apenas três dias, hospedada no hotel Taj Mahal. Veio à terra para receber a medalha de mérito cultural Péricles de Moraes que lhe foi outorgada pela Academia Amazonense de Letras durante solene cerimônia no dia 28 de Abril. Tudo como reconhecimento da Casa pelo conjunto de sua obra e de sua alta expressão literária. Temos certeza que se aqui morasse (assim exige o estatuto) já ocuparia há muito cadeira no octogenário silogeu amazonense. No entanto, nada foi documentado nos jornais. Exceção à regra feita a um canal televisivo a executar uma reportagem “fast-food” durante a solenidade de outorga da medalha.
Astrid em seu “Visgo da Terra” deu-me ainda adolescente o gosto pelas coisas da cidade em que nasci (sua paisagem era a mesma que a minha Moro na Jonathas Pedrosa e ela morou na Av. Sete de Setembro. Ambas perto do Palácio Rio Negro). Manaus… ah! a cidade que nasci… um ovo! Hoje, grandiosa megalópole de dois milhões de habitantes. Engoliu-nos vorazmente como aqueles deuses tremendos das pinturas de Goya que matavam e comiam sem dó seus próprios filhos. A poeta faz parte do rol de mulheres notáveis amazonenses a integrar um livro que escrevo homeopáticamente: Os perfis do mérito. Para isso ela enviou-me o seu “De Déu em Déu” uma coletânea de seus livros de poesia. Seus último livro “Rasos d’água” valeu-lhe um prêmio da Academia Brasileira de Letras. Nele destaca-se a onipresença do filho morto subitamente em acidente nos versos e nas entrelinhas. Diz em “Saudade” “Já disse e repito / aos dezoito, saudade / era trissílabo paroxítono e nada mais / Hoje, saudade é sangue / sangria desatada / correnteza no mangue / de mim mesma”. É essa essência humana e poética que não mereceu uma entrevista sequer. Nem um Alô, manazinha! Diluiu-se essa essência nesse imenso charco de modorra cultural que às vezes acomete alguns.
Tive a grata oportunidade de como acadêmica fazer-lhe a entrega da honraria (foto)
Valho-me agora de um de seus famosos versos. “O mundo estava em Manaus / Manaus estava no mundo”, para ironizar a omissão jornalística manauense. Eu afirmo: Astrid, um mundo, estava em Manaus / e Manaus estava no mundo (da lua).