Morre Violeta Branca. A cultura amazonense perde sua poetisa de primeira linhagem. Perco uma amiga. Aos 88 anos de idade, no dia sete de outubro, radicada há muito no Rio de Janeiro, veio a falecer da doença cardíaca que há poucos meses a obrigara a colocar uma marca-passo. Este, mostrou-se inútil para seu grave mal.
Falo agora sobre Violeta, ou Violetíssima, no surpelativo, como gostava de chamá-la. Destacou-se no cenário literário regional desde a primeira metade do século (1938), com o lançamento de seu livro de poesias “RITMOS DE INQUIETA ALEGRIA” alcançando ápice da notoriedade com o ineditismo de seu teor vanguardista, que a levou a ocupar a cadeira n° 5 da Academia Amazonense de Letras com apenas 19 anos de idade. Foi a primeira mulher no pais a integrar uma Academia de Letras, coisa impensável no início do século. Foi pioneira.
Eu a conheci em 1986 quando fui coordenadora da Antologia Poética das Cidades Brasileiras (Editora Shogun Arte -Rio de janeiro), e a convidei para participar da referida antologia. Impressionou-me de imediato sua modéstia, quando assegurou ser pequeno o seu “curriculum”, esquecendo que a análise do valor de uma pessoa encontra-se na qualidade de seus feitos e não na quantidade destes. Desde então passamos a manter correspondência, e quando o glaucoma atingiu-lhe a visão, deixando-a quase sem luz, o telefone veio a suprir a ausência das cartas.
Neste artigo quero apenas mostrar aos demais, principalmente aos jovens, uma Violeta vibrante, palpável, presente na vida dos que amam a poesia. Neste escrito, quero falar de alguém que fez história. E que vive. Em sua superlativa poesia “Em Contraste” afirmava: “Nasci para as ascensões, / para a glória das alturas / tenho o destino inquieto dos ventos/ dos pássaros / dos relâmpagos / Sou luminosa, rápida e flexível. / Minha angústia é conhecer distâncias, / sondar países e viver todas as ânsias / (…) Eu nasci para o convívio das estrelas / para viver a luminosidade dos raios. / O desassossego dos ventos / És crepúsculo / Eu sou a aurora,/ Es silêncio /eu sou a música.” O nome de Violeta hoje é uma constante nos vestibulares de nossa Universidade. Seu livro, republicado em edição primorosa. As novas gerações, essas que não a conheceram aos 19 anos, auferem-lhe a aura de ser dona de rimas e versos e senhora de uma cátedra em que a crença do ver o fantástico; do tocar no impossível; do mudar o lógico no ilógico sempre será básica regra para exercícios de sensibilidade e poetismo. Mesmo no ano dois mil. Violeta é, atualmente, a Senhora da Palavra que propala aos anos sagrados. De um tempo que tinha o dom (graças à poesia) de a todos converter em aves de vôo alto. E a Violeta Branca, resta agora o destino já por si preconizado, do “eu nasci para o convívio das estrelas…” Artemisa Gadelha amiga de há muito ontem convidou-me para participar de uma palestra de poetas amazonenses. Os filhos dos que já morreram virão para o evento. Será um grande evento. Para falar de minha amiga Violeta Branca que fez o prefácio de meu 1º livro “Trilhos de Prata” é um tributo à sua memória e à sua gentileza habitual.
CARMEN NOVOA SILVA, é Teóloga e membro da Academia Amazonense de Letras e da Academia Marial do Santuário de Aparecida-SP