O Amazonas enfrenta a pior seca, em 122 anos de medição da cota do rio Negro. A marca histórica, de 12,66 metros, foi alcançada no dia 04 de outubro, superando o recorde anterior, de 12,70 metros, registrado no mesmo mês, no ano passado, e muito acima do nível considerado normal, que é de cerca de 21 metros.
O nível do rio continua baixando ainda mais – neste momento (dia 08/10) já alcançando 12,17 metros. A perspectiva é de que esse cenário, com a cota abaixo dos 16 metros, se mantenha por mais dois meses. A cota abaixo de 15,8 metros é classificada como severa e estamos no nível extremo, inferior a 14,05 metros.
O ciclo de cheias e secas do rio Negro é natural, ocorre todo ano, mas a comunhão de vários fatores vem contribuindo para a gravidade da estiagem registrada nos últimos anos. O primeiro deles é o fenômeno El Niño, que provoca o aquecimento das águas do Oceano Pacífico, impactando o regime de chuvas. O El Niño iniciou em 2023, mas teve seu pico no início deste ano.
Além disso, conforme atestam os pesquisadores, estamos sob a influência do aquecimento anormal das águas do Atlântico Tropical Norte. Como consequência desses fatores e da crise climática que afeta o mundo, foram registrados recordes globais de temperatura em julho deste ano, criando as condições propícias para ondas de calor ainda mais fortes e que atingiram em cheio a nossa região.
Este é o segundo ano consecutivo que o Amazonas enfrenta as piores secas da sua história, com impactos brutais sobre a economia, o meio ambiente e a população diretamente afetada. Todos os principais rios da bacia amazônica estão em níveis críticos, afetando a navegabilidade em vários trechos, deixando municípios e comunidades totalmente isolados.
A Defesa Civil do Estado estima que os danos acumulados, de uma forma geral, superam a casa dos R$ 620 milhões, com impactos na agricultura, comércio, indústria, pecuária e serviços. A seca já afeta quase 770 mil pessoas no Amazonas. Todas as cidades encontram-se, hoje, em situação de emergência.
Nos preocupa, em especial, as fatalidades ocasionadas pelos fenômenos naturais, como ocorreu em Manacapuru, no último dia 07 de outubro, com o deslizamento de parte do Porto da Terra Preta. Me solidarizo com os familiares das vítimas e com os moradores de Manacapuru, nesse momento difícil e de dor.
Gratidão às equipes que atuaram mais diretamente no resgate e no apoio às vítimas e familiares, destacadas pelo governador Wilson Lima para essa ação, como o Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, Secretarias de Assistência Social (SEAS) e de Saúde (SES-AM).
O governador não tem medido esforços no enfrentamento à situação de seca extrema que tem afetado o Amazonas, nesses últimos dois anos. O trabalho envolve praticamente todos os órgãos do Estado, trabalhando de forma integrada e com planejamento antecipado, na tentativa de reduzir os efeitos da estiagem.
Este ano, já foram enviadas mais de 220 toneladas de alimentos para os municípios mais afetados. Além disso, 202,1 toneladas de medicamentos e insumos, além de remessas adicionais que somam quase 10,5 mil volumes. O Governo instalou purificadores e caixas d´água e enviou 112 cilindros de oxigênio para abastecer os hospitais.
O governador Wilson Lima tem conduzido e acompanhado de perto a operação humanitária de socorro aos municípios, liderando os esforços para enfrentar o enorme desafio de logística para transporte de produtos e suprimentos aos locais que estão ilhados, em meio à seca dos rios.
O governo estadual mantém-se em alerta e tem buscado, desde o início do ano, o apoio federal para mitigar os efeitos da crise hídrica. Entre as ações, o governador conseguiu a liberação de R$ 45 milhões provenientes do Fundo Amazônia, destinados à formação de brigadas para o combate a incêndios florestais, uma preocupação com a seca extrema.
Também atendendo à solicitação do Governo do Amazonas, o Ministério da Saúde (MS) enviou 54 kits de medicamentos e insumos estratégicos para auxiliar as ações que estão sendo desenvolvidas no estado. Os kits são parte da demanda apresentada pela SES-AM e permite atender 81 mil pessoas, durante 30 dias, enquanto aguarda-se por mais reforço.
São dias difíceis pela frente, mas que vamos enfrentar com muito empenho, com muita luta e a dedicação de todos que fazem parte do governo e dos municípios.
Marcellus Campêlo é engenheiro civil, especialista em saneamento básico; exerce, atualmente, o cargo de secretário da Unidade Gestora de Projetos Especiais – UGPE