Champagne
Em mais um episódio de nossa Volta ao Mundo pelo vinho, vamos hoje falar de uma das regiões produtoras mais famosas da França. Uma região que é sinônimo de requinte, glamour e sofisticação: Champagne. Nesta região, e somente nela, são produzidos os vinhos espumantes mais famosos do mundo, sendo apreciadas principalmente em grandes eventos e celebrações, que recebem, em sua homenagem, seu nome.
Trata-se de um tipo de vinho com borbulhas que possui como características principais a alta acidez e a presença de aromas tostados e de fermento, que são resultado do contato com as leveduras. As principais uvas que produzem o champagne são a Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Meunier.
A História
Aos romanos atribui-se o fato de terem plantado as vinhas na região, embora haja documentos históricos que atestem que a cultura da vinha vem de muito antes, como os do famoso escritor da época: Plínio, que escrevia já dos famosos vinhos e vinhas desta região.
A Champagne é uma antiga província francesa – originalmente um condado – que faz hoje em dia parte da região administrativa francesa de Champagne-Ardenne. Na Idade Média, essa província era bastante famosa na Europa ocidental devido ao sucesso das inúmeras feiras organizadas em suas cidades.
Condado desde o século XII, a Champagne foi reunida à coroa da França graças ao casamento de Joana de Champagne com Filipe o Belo, que se tornou rei de França em 1285 sob o nome de Filipe IV. No entanto, a Champagne manteve sua autonomia até a morte do último filho do casal, Carlos IV, em 1328. Foi o seu sucessor Filipe VI quem a integrou definitivamente à França, por acordo com a herdeira Joana II de Navarra.
Um dos motivos que elevaram a fama deste vinho foi o fato de que em Reims, cidade mais importante de Champagne, foram coroados quase todos os grandes reis da França. A coroação acontecia na catedral de Notre-Dame de Reims, construída em 1225, e nas comemorações era servido champanhe. Por este motivo, ficou conhecido como o vinho dos reis.
A Lenda de Dom Pérignon
A história mais famosa que cerca o surgimento do Champagne conta que um monge beneditino chamado Don Pierre Pérignon, um mestre de cave de uma abadia na região (hoje propriedade da Moët & Chandon), descobriu os vinhos com borbulhas por acaso em sua adega. Curioso sobre aquele vinho diferente, Don Pérignon pegou uma taça para degustá-lo e, após provar, exclamou “parece que estou provando estrelas!”.
Embora a lenda tenha se fixado na história do vinho, ela não é, de todo, verdadeira. O vinho com borbulhas já era conhecido de longa data na região, e era considerado uma característica bastante incômoda pelos produtores de vinhos tintos locais, os Champenois. Champagne é uma das regiões vinícolas mais frias do mundo. Na época de Pérignon, os vinhos eram produzidos no outono e deixados descansar durante o inverno, para então serem distribuídos na primavera seguinte.
A questão é que, com as baixas temperaturas locais, o processo de fermentação acabava sendo interrompido, mesmo que ainda restasse açúcar não transformado em álcool e leveduras vivas dentro dos barris. Na primavera, as leveduras acordavam da hibernação e continuavam seu trabalho, causando uma segunda fermentação natural. Esse processo, por sua vez, liberava gás carbônico, responsável pela espuma final dos vinhos de Champagne.
Essa espuma resultante era bastante indesejada pelos vinicultores, que não entendiam porque seus vinhos eram os únicos a terem esse aspecto final. Dom Pérignon e outros importantes monges enólogos passaram todas suas vidas tentando entender como se dava esse processo e procurando novas formas de melhorar a qualidade dos vinhos de Champagne.
Devido ao seu longo e cuidadoso trabalho, Pérignon foi o primeiro a desenvolver uma série de técnicas importantíssimas para o que se chegasse hoje, no vinho que chamamos de Champagne.
O monge enólogo foi o primeiro a desenvolver a técnica de transformar uvas tintas em vinho branco, por exemplo. Ele também foi o primeiro a separar o vinho produzido por diferentes vinhedos, assim como a fazer um blend de vinhos de uvas diferentes para produzir um Champagne mais complexo. Por último, Pérignon deixou de colocar os espumantes nos barris de carvalho e passou a deixá-los em jarras de vidro. Entre muitas outras inovações.
Embora tenha sido responsável por uma melhora histórica dos vinhos produzidos na região, o monge não foi capaz de resolver o que mais o incomodava: as borbulhas.
À época, as garrafas eram tapadas com cavilhas de madeiras envoltas de estopa embebida de óleo. À procura de um método mais limpo e mais estético, Dom Pérignon teve a ideia de derreter cera de abelhas no gargalo das garrafas, que lhes assegura assim uma perfeita vedação. Ao fim de algumas semanas, a maior parte das garrafas explodiu, deixando o monge perplexo.
Demorou algum tempo para compreender que o açúcar contido na cera de abelha tinha provocado, em contato com o vinho, uma segunda fermentação provocando uma brusca efervescência. Incapazes de de opor-se à pressão, as garrafas tinham voado das prateleiras. Foi essa feliz má sorte que permitiu a Dom Pérignon descobrir a fermentação em garrafa: “o método champanhês” ou, mais simplesmente o champanhe, acabava de nascer.
Diferença entre Champagne e espumante
Apesar de muitas pessoas associarem o espumante ao champagne, é bom dizer que as duas bebidas são diferentes. O champagne é uma bebida produzida especificamente na região francesa de mesmo nome, seguindo uma série de regras e processos rígidos, entre eles varietais de uvas aceitas, 2 fermentações, sendo a segunda em garrafa, autólise entre outras condições. Ou seja, a região de Champagne é a única que pode dar esse nome aos seus vinhos. Assim, é possível afirmar que todo champagne é um espumante, mas nem todo espumante é um champagne. Por isso, guarde essa frase na memória para nunca mais confundir espumantes e champagne.
Um abraço, um brinde e até a próxima!!