Dia 25 de Julho é o dia do escritor e nada melhor que falar sobre alguns perfis mais renomados. Quem diria! João Paulo II em 1942 na sua Polônia ainda operário de uma pedreira, encontrava tempo para escrever poemas. Seu gabinete de escritor era o nada confortável lugar da… pedreira. Faço este preâmbulo para desmistificar aquela aura que possuem os escritores de que suas obras são gestadas naquela ilha de intelectualidade, chamada biblioteca, cercada de livros por todos os lados e que tu, meu leitor, tens em tua casa ou sonhas em ter. Balzac por exemplo, necessitava de maçãs para inspirar-se. Shakespeare escrevia num quarto pequeno de um sobrado por entre sacos de farinha.
Já Thiago de Melo deve escrever olhando sejam os mares chilenos, sejam as águas de Manaus e as de Barreirinha. Recuso-me a crer ter ele feito poesias quando prisioneiro. Geralmente são tristes. Como o “De Profundis” de Oscar Wilde na prisão. Para fazer seus romances Gabriel Garcia Márquez rodeava-se de flores amarelas. E Geoges Simenon tinha coleção de pipas coloridíssimas adornando sua mesa. Já o Max Carphentier só o imagino por entre as torres de Ávila.
Ali onde as cegonhas guardam o terreno cativo da carmelita Teresa. Muitos leitores decepcionar-se-ão (para usar mesóclise, a predileta de Jânio Quadros) se contar que Proust escrevia deitado. Flaubert vestido com uma bata à moda dos pintores de telas. Falo em decepção, porque existe uma pressão do belo. Para sê-lo o escritor precisa cercar-se de livros (se possível raros, como os “Sermões” de Vieira que Joaquim Marinho guarda avaramente. Essa pressão da beleza podemos ver nas crianças portadoras de Síndrome de Down.
Li que estariam sendo submetidas a cirurgias plásticas para que aparentassem, normalidade. As feições e rasgos faciais que as denunciam como especiais são corrigidos para evitar discriminação, rejeição etc. O escritor também é prisioneiro da imagem que os outros tem de si. Modelo de beleza o cercar-se de livros, a condicionar o leitor a um pré-julgamento pelas aparências e não pela qualidade do escrito. Em muitos casos os hábitos dos escritores mais parecem ficcionais do que realísticos, por isso é consagrado como território da ficção, essas idiossincrasias que faziam Hemingway em Havana escrever de pé calçando pantufas excêntricas.
Já o nosso Paulo Jacob tinha à mesa de cabeceira papel e caneta, porque as inspirações surgiam fresquinhas pela madrugada, assim como o “leite mugido”. Você não sabe o que é isso meu leitor onipresente? Nem eu sabia. Até quando o historiador Oyama Ituassu a relembrar a Manaus de ontem (bota ontem nisso!) disse do leiteiro que entregava à porta o substancioso líquido com a vaca ao lado, ordenhando-a na hora. Por isso “leite mugido”, ou seja, a “sirene vinha acoplada” na própria fábrica. Diga quem imagina Mário Ypiranga sem a cidade-miniatura de Anita? Ou Tenório Telles sem palestras e prosas quando a intimidade do ato literário é caçado em flagrante delito? Jorge Amado no final da vida ditava seus livros para sua Zélia Gattai.
Como Dickens. Eu, recuperei o vício de escrever à mão. Com tinta preta. Dinossauricamente. As teclas tanto da obsoleta máquina datilográfica quanto às do computador tiram-me do ritmo certo. Como dizia Mário Quintana: Escrever à mão dá uma sensação de liberdade. Escrever ao natural. Como quem pinta um mural. Nada de paginação. A mão tem uma coisa de tentativa gratuita, como o vôo de pássaro na liberdade e imensidão do azul. O Papa João Paulo II fazia suas encíclicas escritas manuscritamente segundo L’Osservatore Romano e mandava digitá-las. Escrevia à mão.