Tomei a resolução de neste texto evitar o tom solene, descritivo e o tecnicismo das
biografias. Temos hoje um sacerdote a ser homenageado. E com méritos irrefutáveis. Trata-se de
Dom Mário Pasqualotto. Ele, bispo auxiliar de Manaus que há oito anos veio colaborar com D.
Luis Soares Vieira e agora com Dom Sergio Castriani nos trabalhos e esforços de atendimento
total às necessidades arquidiocesanas da terra.
É bom que se frise que D. Mário durante esse tempo deixou fluir sua veia missionária (já que membro do Pontifício Instituto das Missões Estrangeiras – P.I.M.E). Desde sua ordenação como sacerdote em 26 de Junho de 1965 logo foi perceptível (mesmo tendo se empenhado em obras formativas do P.I.M.E) que sua senda, sua razão de viver seria a missionareidade em terras distantes. Era o tempo de semear… Em terras brasileiras, Parintins e Maués receberam por anos a fio sua semeadura evangélica e pastoral.
Em 1999 nomeado bispo de Manaus pelo papa João Paulo II, logo amalgamou seu espírito de serviço
a uma instituição a abrigar os excluídos e discriminados pela sociedade: Os dependentes químicos
e tóxicos. Estes almejam a recuperação para o retorno à vida em comunidade e sua inserção no dia
a dia dos homens comuns. Essa instituição é a Fazenda da Esperança. E Dom Mário, o
homenageado completa setenta e cinco anos de vida neste ano. Em 25 de Junho de 2013.
Aposenta-se pela idade passando a bispo emérito. E já visiona o futuro onde imortalizará em
páginas impressas, ou seja num livro, todas as experiências relevantes que surgiram como as
“maravilhas que Deus operou” na Fazenda de toda a Esperança.
Nasceu numa Itália (Valenza) baixo os gritos angustiantes da segunda guerra mundial. E nascer em 1938 era nascer num chão de chagas abertas. Pelas idéias hitleristas com que Mussolini o ditador italiano corroborava. Viver as décadas pós-guerra era vivenciar o reerguer-se lento de seu país natal. Era presenciar o sopro vivificador do papado de João XXIII e como “anima mundi” a instalação do Concílio Ecumênico para ser renovado o mapa espiritual do homem da segunda metade do século vinte. Baseada em sua vida feita de dinamismo missionário cabe bem neste espaço como metáfora o relato do “Cristo sem braços”. Dizem que na última guerra mundial, numa grande cidade alemã, os
bombardeios destruíram a Catedral.
E uma das “vítimas” foi o Cristo que presidia o altar maior. Ficou destroçado. Os habitantes da cidade se propuseram a reconstruir com paciência seu Cristo bombardeado. Chegaram a formar todo seu corpo… menos os braços. Destes não ficou nem rastro. Colocaram-no no altar. E no lugar dos braços perdidos, um letreiro dizia: “De agora em diante, Deus não tem mais braços. Tem os nossos”. D. Mário Pasqualotto usa os braços para a semeadura e apresenta a Fazenda Esperança como lugar de colheita.
Ele e a Fazenda são perfeita e fecunda simbiose. Parecem ser um indispensável ao outro. Em esforço conjunto sinérgico para obtenção do êxito de propósitos. Tudo num mecanismo sincrônico para usufruto de resultados positivos. Essa é sua “virtus”. D. Mário Pasqualotto o aniversariante deste Junho pode dizer como o poeta cubano Nicolás Guillén: “Arde o sol em minhas mãos… e o reparti. Ainda arde o sol em minhas mãos…” Somente quem reparte e serve ao outro é digno de legar rastros nas memórias. Este é D. Mário. Em tempo de colheita. Com o sol ardendo nas mãos.
Artigo publicada em 15 de agosto de 1999 na solenidade da igreja de Nossa Senhora da Glória.
CARMEN NOVOA SILVA é Teóloga e membro da Academia Amazonense
de Letras e da Academia Marial do Santuário de Aparecida-SP