Assim como no Brasil e nas colônias latino americanas, os primeiros exemplares de vitis vinifera, a uva própria para produção de vinho, chegaram na Argentina no início do século XVI junto com os seus colonizadores.
No entanto, foi só em 1551 que o cultivo da uva se espalhou por toda a região. As condições climáticas e o solo dos arredores dos Andes favoreceram muito a agricultura dos vinhedos e, impulsionada pelos monastérios que precisam produzir vinho para a celebração das missas. Junto com a cultura espanhola desembarcou na Argentina uma forte tradição católica, e a vitivinicultura se beneficiou enormemente de ambas.
O Início de Tudo
Argentina é o maior produtor de vinhos da América do Sul e o quinto maior produtor mundial, ficando atrás da Itália e Espanha que são grandes influenciadores dos sabores e da produção argentina.
Historiadores afirmam que as primeiras videiras argentinas foram trazidas da Espanha juntamente com a igreja com o objetivo de servir, principalmente, aos rituais e cerimônias católicas.
As primeiras regiões vinícolas foram estruturadas às margens do Rio de la Plata, tornando a área da Concórdia uma importante zona de produção das uvas. Não muito tempo depois, regiões de Mendoza e San Juan já haviam iniciado o cultivo de uvas para a produção de vinhos. Tais regiões são as principais produtoras da bebida atualmente, conforme veremos mais adiante.
Em 1885, com a chegada da ferrovia, muitos outros povos europeus chegaram à Argentina. Eram imigrantes italianos, espanhóis e franceses que trouxeram consigo técnicas, procedimentos e conhecimento para o aumento da produção de vinhos e o desenvolvimento do plantio das uvas.
Foi um presidente argentino, por volta do ano de 1850, que pediu que o um agrônomo francês replicar as uvas produzidas nas cidades chilenas que pudessem permitir a produção de vinhos dos tipos Malbec, Cabernet e Merlot.
Aimé Pouget, o agrônomo francês, atendeu ao pedido do então presidente e reproduziu, em Mendoza, as cepas das uvas naquela região, tornando-a a principal região produtora de vinhos, até os dias atuais.
E a partir daí, iniciou a historia industrial do vinho na Argentina
A Consolidação da Indústria do Vinho Argentina
No século XIX chegou à região uma nova onda de imigrantes europeus que trouxeram em suas bagagens novas cepas estrangeiras e muita tradição na produção de vinhos, como os italianos. Os europeus recém-chegados encontraram em Los Andes e no Vale de Rio Colorado os locais ideais para começar o seu próspero cultivo, e ali se estabeleceram.
Entre 1850 e 1880 a produção de vinhos argentinos começou a mudar de forma. Com a integração do país à economia mundial, a chegada da industrialização e a abertura de múltiplas ferrovias cortando a região, o que antes era uma agricultura voltada para a produção de vinhos tomou forma de uma indústria do vinho.
Em 1853 foi criada a Quinta Normal de Agricultura de Mendoza, a primeira escola de agricultura do país, por meio da qual novas técnicas de cultivo de vinhedos foram implementados na região, como o uso de máquinas e modernas metodologias científicas.
Para se ter uma ideia do crescimento da produção de vinho argentino nessa época, em 1873 o país contava com apenas 2.000 hectares de vinhedos, enquanto em 1990 a área cultivada chegou a 210.371 hectares.
É importante frisar que, diferentemente do Brasil, a Argentina sempre manteve uma forte identidade europeia e, com ela, o consumo de vinho pela sua população era de grandes proporções. Nos anos 60 a produção de vinho para o mercado interno era bem estruturada, com amplas redes de distribuição e comercialização. O consumo per capita na época chegada a impressionantes 90 litros por habitante.
As Principais Regiões Produtoras
Mendoza é a região preferida da produção dos vinhos argentinos por reunir características climáticas bastante particulares. A combinação da altitude elevada, solo desértico, vento seco e a chuva escassa na região, trazendo baixa umidade no ar, o que torna o clima perfeito para safras produtivas de uva, pois o clima não favorece a proliferação de pragas e fungos.
Por se tratar de uma região bastante seca, para garantir a umidade necessária para a produção das frutas, toda a água da produção é trazida da liquefação da neve das cordilheiras dos Andes. Ou seja, uma água rica em minerais e com alto grau de pureza, favorece o sabor ideal das uvas, que será sentido e valorizado na bebida.
San Juan – região que corresponde a 21% da produção total do país, o que a torna a segunda maior região produtora dos vinhos argentinos. Assim como a Mendoza, San Juan também possui um clima bastante seco e quente e uma altitude ainda maior que a primeira.
Patagônia – abriga vinhedos bem particulares, uma vez que são os vinhedos localizadas mais ao Sul do planeta. A região é também de clima desértico, assim como Mendoza e San Juan, com a diferença discrepante em relação à temperatura.
A Patagônia as temperaturas são baixíssimas na maior parte do ano, fazendo da região extremamente fria e seca, à altitudes bem mais baixas que as duas primeiras regiões citadas.
As plantações também são regadas pelas águas vindas das Cordilheiras que, quando combinadas com a qualidade do solo da região, permite a produção de uvas extremamente saborosas e suculentas.
Principais Castas
A Malbec é a uva mais expressiva da Argentina.
É a uva mais cultivada no país, com mais de 40 mil hectares, o que equivale a 18% de todos os vinhedos do país.
Originária da região de Cahors, na França, a Malbec chegou à Argentina pelas mãos de Michel Aimé Pouget em meados de 1850.
Esta uva adaptou-se excepcionalmente bem ao clima, com dias quentes e noites frias, e ao terroir da Argentina, de altas altitudes.
Hoje, a Argentina é o maior produtor de Malbec do mundo, concentrando 75% da produção mundial.
É uma uva versátil, produzindo desde vinhos tintos despretensiosos e fáceis de gostar, feitos para o consumo imediato, até rótulos mais estruturados e envelhecidos em carvalho, que revela um ótimo potencial de guarda.
Quando jovens, os vinhos Malbec tendem a revelar aromas de frutas vermelhas e negras, como ameixa, cereja, framboesa e mirtilo.
A Bonarda é a segunda uva da espécie Vitis Vinífera mais cultivada da Argentina, com uma área de 19 mil hectares, o que equivale a cerca de 9% de todos os vinhedos do país.
Originária da região de Saboia, na França, onde atende pelo nome Douce Noir, a Bonarda chegou à Argentina durante o século XIX.
Apesar de não ser tão famosa entre os consumidores de vinhos brasileiros quando a Malbec, a Bonarda dá origem a vinhos tintos estruturados e fáceis de beber.
Entre os principais aromas da uva Bonarda destacam-se notas de frutas vermelhas e negras maduras, como amora, framboesa, morango, cereja e groselha, além de nuances de especiarias.
Se tiver a oportunidade, experimente um Bonarda Argentino, garanto que você não irá se arrepender!
A Torrontés é a uva branca mais cultivada da Argentina, ocupando uma área de 8 mil hectares, o que equivale a cerca de 3,6% de todos os vinhedos do país.
Originária da região vitivinícola da Galícia, na Espanha, a Torrontés começou a ganhar popularidade na Argentina durante a segunda metade do século XX.
Hoje, os melhores Torrontés da Argentina concentram-se na região de Salta, no extremo norte do país.
Os vinhedos de Salta estão localizados entre 1.500 e 3.000 metros acima do nível do mar, oferecendo as condições ideais para o desenvolvimento da Torrontés.
Os Torrontés Argentinos destacam-se por sua leveza, frescor e grande intensidade aromática, revelando aromas florais, como de jasmim, rosa e flor de laranjeira, notas de frutas cítricas, nuances herbais e de especiarias, além de toques de mel.
O Ouro Tinto (Branco e Rosé Também): Enoturismo
Mais do que belas paisagens e a fama de ser a terra do tango, o país vizinho é referência mundial por conta da excelência de seus vinhos.
Mas a nossa vizinha não quer ser apenas uma exportadora. Ela quer utilizar isso como uma ferramenta de forte potencial para fomentar ainda mais o turismo. O público brasileiro está entre eles. Não é à toa que ela tem atraído cada vez mais turistas daqui que amam viajar e viver experiências de imersão em vinícolas.
A grande quantidade de vinícolas, vinhedos e restaurantes espalhados pelo país faz esse roteiro ser perfeito para os apreciadores da bebida, independente das suas preferências. O legal é que para fazer esses passeios não é necessário ser um entendedor do assunto, basta ter vontade de abrir a mente para viver a fundo essa experiência.
Tem também a questão econômica. Como a moeda local, o Peso Argentino, é desvalorizado em relação ao Real, se torna um destino barato quando comparamos com outros países que são referência nesse segmento, como Portugal e Itália, por exemplo. Além disso, tem a proximidade com o Brasil e a não necessidade de se ter um visto para turismo e passaporte para entrar.
Este será um dos temas a serem abordados em nossa coluna, este tipo de turismo que cresce acima da média dos demais setores e que tem o vinho como um acompanhante, levando experiencias e entretenimento aos enófilos como eu e muitos de vocês.
Agora me digam, qual é o seu Vinho Argentino preferido?
Um abraço, um brinde e até a próxima!!