A nova onda de tarifas e retaliações comerciais entre grandes potências, notadamente os Estados Unidos e seus principais parceiros, acendeu um alerta global. No Brasil, alvo da mistura entre tarifas e interferência política, os efeitos desse tensionamento são imediatos e preocupantes: inflação pressionada, risco de reversão no ciclo de queda dos juros e instabilidade para os investimentos especialmente para quem depende de insumos, tecnologias e cadeias produtivas globalizadas, como é o caso do Polo Industrial de Manaus (PIM).
Maldita polarização
O Brasil, mais uma vez, está exposto a um conflito provocado pela polarização ideológica, que pode comprometer seriamente sua economia real. A pergunta que devemos fazer é simples, mas profunda: qual será a resposta brasileira diante desta nova conjuntura geopolítica e econômica?
Um choque externo com reflexos internos
Não se trata apenas de macroeconomia. A elevação do dólar e a insegurança regulatória global impactam diretamente na formação de preços, na competitividade da indústria nacional e na previsibilidade dos negócios. No PIM, por exemplo, os custos logísticos já são elevados. A imposição de tarifas sobre peças, componentes ou máquinas importadas — com câmbio desfavorável e alta de juros — gera um efeito dominó: adia investimentos, desorganiza a produção e compromete o emprego formal, um dos pilares da Zona Franca de Manaus.
O tarifaço bomba
A recente decisão dos Estados Unidos de adotar medidas ainda mais protecionistas, o tarifaço bomba, como sugerido na retórica de Donald Trump, cria um ambiente de retração e inquietação empresarial e global. Quando o mundo fecha portas, países em desenvolvimento como o Brasil precisam abrir janelas — e fazer isso com inteligência estratégica.
É hora de mobilizar a diplomacia econômica
O Brasil precisa agir com urgência e protagonismo. A diplomacia brasileira precisa ir além do discurso e construir alianças que protejam o que temos de mais estratégico: a soberania, a indústria nacional, a floresta em pé e a transição energética com justiça social. A iniciativa de convocar as lideranças empresariais do país já sinaliza inteligência estratégica para enfrentar a guerra comercial. O problema não pode ser tratado como um fenômeno distante ou apenas como um tema de câmbio e juros. É uma disputa por hegemonia tecnológica, industrial e energética com chantagem ideológica. E, nesse cenário, ou o Brasil fortalece sua presença nos fóruns internacionais — G20, OMC, OCDE, COP 30 — ou continuará na posição de coadjuvante penalizado pelas decisões alheias e submetido ao viés ideológico.
Somos moeda de valor diplomático
O PIM pode e deve ser envolvido nisto. Somos o maior polo de geração de empregos industriais da Região Norte, alicerçados sobre um modelo que combina competitividade com preservação ambiental. É esse trunfo que precisa ser defendido em Brasília e no exterior. Este é um precioso valor diplomático.
Renda variável, inflação variável, soberania inegociável
No curto prazo, a guerra comercial ameaça a queda dos juros e o controle inflacionário. Mas no longo prazo, o risco maior é outro: a erosão da soberania produtiva. Se a indústria brasileira continuar exposta, sem estratégia de substituição competitiva de importações, diversificação da base exportadora e valorização da bioeconomia, perderemos mais do que crescimento: perderemos autonomia.
A hora é de lucidez e ação
Diante de crises como esta, o que se impõe é lucidez e ação coordenada entre governo, setor produtivo e sociedade. A nosso favor temos uma diplomacia competente e historicamente atuante, além de respeitada. Não podemos assistir de braços cruzados a mais uma virada do mundo sem nos posicionarmos. A diplomacia do Brasil precisa ser tão ousada quanto a sua biodiversidade é única. Precisamos negociar tarifas, proteger a indústria, garantir acesso a mercados e colocar a Amazônia no centro de uma nova lógica de prosperidade.
O Polo Industrial de Manaus está pronto para contribuir com essa missão. O que esperamos é que o Brasil também esteja.
Nelson economista, empresário, presidente do Sindicato da Indústria metalúrgica, metalmecânica e de materiais elétricos de Manaus – SIMMMEM, conselheiro da CNI, do CIEAM e vice-presidente da FIEAM.