Sete aldeias situadas na Terra Indígena Andirá-Marau, na região do rio Uaicurapá, em Parintins, receberam, pela primeira vez, o serviço de iluminação pública. São cerca de mil indígenas da etnia Sateré-Mawé que vivem na região e que foram beneficiados pelo Programa Ilumina+ Amazonas, do Governo do Estado. As aldeias são: Vila Batista, Nova Galiléia, Monte Carmelo, Vila da Paz, Nova Alegria, Monte Betel e São Francisco.
Quem vive na cidade e está acostumado com a iluminação pública como algo natural, muitas vezes não se dá conta do que isso representa para os que nunca puderam contar com esse serviço. Nas aldeias indígenas, os relatos mostram a dimensão de como a vida muda a partir agora, abrindo novas possibilidades, a partir da inclusão dessa fatia da população.
O primeiro impacto que se tem é na educação. A iluminação pública está sendo especialmente útil para os alunos que estudam à noite e, antes, precisavam se deslocar de casa para a escola, no meio da escuridão. Um exemplo emblemático acontece na Vila Batista, maior aldeia dessa região, com quase 300 habitantes. No local, tem uma escola que oferece ensino médio tecnológico à noite, recebendo alunos de lá mesmo e das comunidades vizinhas. Para eles, a rotina mudou para melhor e a expectativa é de aumentar a demanda pelo curso.
Além do benefício aos alunos, outro ponto destacado pelos indígenas é a vantagem de poder, agora, visualizar melhor o percurso nas caminhadas noturnas e se defender de picadas de cobras e dos animais silvestres. Também ganharam novo contexto atividades normalmente realizadas à noite, como rituais, cultos, contação de histórias e encontros para convivência, já que durante o dia estão todos envolvidos com a caça, pesca e o trabalho no roçado.
Essas aldeias atendidas pelo Ilumina+ já contam com energia elétrica, implantada por meio do Programa Luz para Todos, do governo federal, mas apenas as residências possuem lâmpadas. Não existia, até então, iluminação pública e os indígenas já vinham, há alguns anos, reivindicando o serviço.
Além da iluminação pública que chega pela primeira vez, as aldeias estão recebendo uma tecnologia moderna, sustentável e ambientalmente correta. O LED, que substitui as lâmpadas de vapor de sódio, de mercúrio ou mistas, tradicionalmente utilizadas na iluminação pública do interior, consome até 60% menos energia, proporcionando economia de custo e reduzindo a emissão de gás carbônico na atmosfera. Com isso, contribui, também, para o enfrentamento às mudanças climáticas.
Parintins foi um dos primeiros municípios atendidos na fase inicial do Programa Ilumina+ Amazonas, em 2022, quando foi lançado pela Unidade Gestora de Projetos Especiais (UGPE). Na ocasião, foram instalados 6.671 pontos de LED na sede do município e nas cinco maiores comunidades: Caburi, Mocambo, Valéria, Vila Amazônia e Zé Açu. O investimento foi de R$ 12,8 milhões.
Nesta fase do programa, foi atendida a zona rural do município, abrangendo 81 comunidades ribeirinhas e indígenas. Ao todo, foram instalados 2.168 pontos de LED, somando investimentos de R$ 4,8 milhões. Os serviços, que estavam previstos para iniciar nas aldeias no final de julho, foram antecipados, por causa da rápida descida do rio e a previsão de estiagem severa para este ano.
Para chegar até as aldeias foi montada uma estrutura especial. Os equipamentos foram levados de barco de Manaus para a sede do município e, de lá, seguiram de ferry boat, embarcação com pequeno calado, que permite operar em águas rasas. Nos locais de difícil acesso, o material teve que seguir de voadeira.
As dificuldades enfrentadas foram compensadas pela satisfação estampada nos rostos das pessoas e pelas palavras de agradecimento do Tuchaua Lorimar Batista, da aldeia Vila Batista, a quem temos enorme respeito. A sensação que fica é de dever cumprido.
E o trabalho segue, já contabilizando 42 municípios e 127 comunidades rurais e indígenas atendidos, com a implantação de mais de 74 mil pontos de iluminação. A meta do governador Wilson Lima é chegar a todos os 61 municípios do interior, até a realização da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP 30, em 2025.
O programa, que começou apenas nas sedes dos municípios, hoje se estende às áreas mais remotas, beneficiando pessoas que nunca contaram com esse tipo de serviço, locais onde o fato de ser noite já representava uma limitação das atividades.
O Ilumina+ Amazonas se posiciona, assim, como um programa inclusivo, que leva o progresso e abre novas perspectivas, para que as pessoas possam ter e gozar de uma vida digna, fazendo uso de serviços que são básicos e necessários.
Marcellus Campêlo é engenheiro civil, especialista em saneamento básico; exerce, atualmente, o cargo de secretário da Unidade Gestora de Projetos Especiais – UGPE