Falta menos de um ano para a próxima eleição presidencial em 2026, mas a maior parte da população nem está pensando sobre isso, o eleitor não está ativado no linguajar dos cientistas políticos. Na última pesquisa Quaest, o percentual de indecisos na intenção de votos espontânea era de 72%, ou seja, a maioria nem sabe quem são os candidatos.
Parece haver pouca dúvida que no campo da esquerda o candidato será o presidente Lula, fora algum problema de saúde. Já no campo da direita, todos estão esperando a indicação do ex-presidente Bolsonaro, dada a sua impossibilidade jurídica de concorrer.
Um possível candidato seria o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Mas também há outros governadores dispostos a concorrer como o mineiro Romeu Zema, o goiano Ronaldo Caiado e o paranaense Ratinho Júnior. Não é absurdo achar que podemos ver todos esses nomes na urna no primeiro turno e uma aliança no segundo turno. Tudo indica que será uma eleição de dois turnos, nem no auge da popularidade de Lula o PT conquistou uma eleição no primeiro turno. A pergunta que segue é quem vencerá no segundo turno?
Não, não vou me aventurar a fazer previsões políticas. Economistas são conhecidos por errar suas projeções de variáveis econômicas, imagina as de variáveis políticas. Política é como nuvem, quando você menos espera já está em outro lugar. Mas vale a pena fazer uma reflexão sobre o zeitgeist (espírito do tempo) atual.
As democracias liberais estão em declínio. O excesso de gastos dos governos e endividamento público crescente, principalmente na pandemia, resultou em inflação, um imposto perverso que recai principalmente sobre a parcela mais pobre da população. Além disso, a fragilidade fiscal também implica em taxas de juros mais altas, que beneficiam apenas a parcela mais rica da sociedade, os poupadores.
Por mais que o PIB global esteja crescendo em um ritmo saudável, desemprego em vários países em um patamar historicamente baixo, vemos uma grande insatisfação econômica ao redor do globo. Neste ambiente, muitos eleitores têm priorizado ordem, autoridade e estabilidade, o que favorece governos conservadores. Desta forma, temos visto o pêndulo político migrando para a direita em países como Itália, EUA, Alemanha e mais recentemente no Japão. Essa onda conservadora também chegou na América Latina com Bukele em El Salvador, Milei na Argentina, Noboa no Equador, Rodrigo Paz na Bolívia (após 20 anos da esquerda no país).
Tudo indica que o conservador Kast será vitorioso no Chile, agora em dezembro. Na Colômbia, as casas de aposta colocam o direitista Abelardo de la Espriella como favorito na eleição do próximo ano. Até mesmo na Venezuela, parece crescente a probabilidade do ditador Maduro cair.
E o Brasil? Por muitos anos vimos uma disputa entre a centro-esquerda (PSDB) e a esquerda mais radical (PT). E muitos partidos de centro abraçaram as pautas do governo petista, mais por fisiologismo do que por ideologia. A partir de 2013, começa a surgir uma nova direita no país.
Movimentos como o MBL contrastam com os grupos estudantis monopolizados pela esquerda, como a UJS e até mesmo a UNE. Com a crise econômica do governo Dilma e a operação Lava Jato, vimos surgir o Bolsonarismo. Em seguida, vários partidos de centro se alinharam a pauta conservadora e a nova direita ganhou maioria não só no Congresso, mas também em prefeituras e governos estaduais.
Lula voltou ao poder muito mais pelos erros de Bolsonaro, principalmente com a gestão desastrosa na pandemia, do que por mérito próprio. Com Bolsonaro fora do jogo, Lula vira o campeão de rejeição, só comparável a outros membros da família Bolsonaro (Eduardo e Michelle). E eleição de segundo turno é, sobretudo, uma disputa de menor rejeição. Quem vencerá em 2026? Deixo essa pergunta ao leitor!

