Um homem, identificado como Marcelo Gustavo Lima da Silva, é alvo de ao menos seis denúncias por estupro e tentativa de estupro como motorista de aplicativo em Manaus. Nesta quinta-feira (21), a vítima mais recente do suspeito deu detalhes sobre o caso e também falou em nome de outras mulheres que o reconheceram e alertaram sobre incidentes semelhantes.
“Quando eu entrei no carro, em questão de minutos ele entrou em uma rua vazia, disse que precisava ver um problema, se abaixou e veio com uma faca enorme para o banco de trás. Ele passava a mão na minha perna e falava ‘te acalma'”, revela Ingrid Tavares, vítima que denunciou o caso nas redes sociais.
O homem trabalha como motorista de aplicativo, tem dois inquéritos policiais contra e, segundo as vítimas, utiliza uma faca para ameaçar as mulheres. Ingrid Tavares, que conseguiu fugir do suspeito durante uma tentativa de estupro na manhã de domingo (17), veio à público conscientizar outras usuárias de aplicativos para transportes urbanos e viu cinco outros casos virem à tona.
“Levo um sentimento de culpa, de injustiça, com medo de sair de casa, ando agora apenas de carona com conhecidos. Mas agora me sinto um pouco aliviada porque tenho recebido apoio de muitas mulheres, estou conseguindo ser a porta-voz de todas as vítimas e ajudar a prender este doente que esta à solta”, afirma a vítima.
Ela conta que conseguiu fugir depois de alegar que estava passando mal e precisava vomitar. A vítima diz ainda que tentou dissuadir o motorista de aplicativo de cometer o crime e, quando chegou próximo da casa dela, viu uma oportunidade de escapar. Dentre as outras vítimas que conseguiram comentar sobre episódios com o mesmo homem posteriormente, uma se destacou.
“Recebi a mensagem de uma moça que pediu para eu contar o caso dela, porque a mulher quando passa por isso sente vergonha, culpa e, assim como ela não teve coragem, estou aqui para falar por ela e por outras vítimas. Ela solicitou a corrida na quinta-feira (14), às 20h, e ele pediu para que ela sentasse no banco da frente. Depois, tirou a faca de um pano, assim como foi comigo. Ele levou-a à Marina do Davi e estuprou-a lá. Assim que efetuou o ato, ele pegou uma Bíblia e começou a ler para ela, simples assim”, revela.
Na última quarta-feira (20), a Polícia Civil do Amazonas (PC-AM), por meio do 19º Distrito Integrado de Polícia, informou que a vítima em questão, uma mulher de 25 anos, reconheceu o suspeito e relatou que foi estuprada pelo motorista no bairro Ponta Negra, zona oeste da capital. O caso foi registrado na Delegacia Especializada em Crimes contra a Mulher (DECCM), no Plantão de Vulneráveis (PLV).
Além de todo o trauma que a situação gerou, Ingrid Tavares conta ainda que encontrou dificuldades na hora de denunciar o fato às autoridades. “Fui na delegacia fazer um Boletim de Ocorrência e eles [policiais] queriam colocar o caso como importunação sexual e não foi isso, foi uma tentativa de estupro, minha vida quase foi tirada. Foi quando a Procuradoria da Mulher teve a atitude de insistir e agora tenho me sentido muito acolhida, mas o sentimento é de injustiça”, completa.
Atual presidenta da Comissão da Mulher, da Família e do Idoso da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam) e à frente da Procuradoria Especial da Mulher, a deputada Alessandra Campêlo (Podemos), que levou o caso à tribuna na quarta-feira, confirmou que o motorista foi retirado do quadro de funcionários da Uber por mau comportamento, mas permaneceu na plataforma inDrive.
“A coragem da Ingrid em fazer a denúncia fez com que outras vítimas se manifestassem. A gente espera que, com urgência, seja pedida e efetivada a prisão deste homem. Vale ressaltar que o aplicativo InDriver só fez o bloqueio deste condutor, a partir da nossa denúncia na Assembleia, somente com a repercussão que demos aqui, que o aplicativo bloqueou”, afirma a deputada.
Alessandra Campêlo destaca ainda que o caso chegou à Procuradoria da Mulher por meio do canal de WhatsApp. “A partir de agora estamos dando apoio psicológico para a vítima e para as que precisarem. Estamos dando também suporte jurídico e nosso principal objetivo é que os criminosos sejam punidos. Quando há punição, faz com que outras vítimas apareçam e tenha coragem de denunciar”, completa a deputada, que cita ainda que é inadmissível a impunidade para casos como esse num país que tem um estupro a cada sete minutos, apesar da subnotificação.