BRASÍLIA – Uma reportagem do Estado de São Paulo revela nesta segunda-feira (13), que a esposa do traficante Tio Patinhas, líder do CV no Amazonas, foi recebida no Ministério da Justiça, pasta comandada por Flávio Dino. A notícia caiu como uma bomba em Brasília.
Conhecida como “dama do tráfico amazonense”, Luciane Barbosa Farias foi recebida por dois secretários e dois diretores da pasta de Dino em três meses, sem que o nome apareça na agenda oficial.
O Ministério da Justiça admite que a “cidadã” foi recebida, mas diz que é “impossível” ter o controle de todas as pessoas que chegam em comitiva.
Luciane é casada há 11 anos com Clemilson dos Santos Farias, o Tio Patinhas, era apontado como o “criminoso número um” na lista de procurados pela polícia do Amazonas, até ter sido finalmente preso em dezembro passado.
Ela é condenada por lavagem de dinheiro, associação para o tráfico e organização criminosa. Tio Patinhas cumpre 31 anos em Tefé (AM). Luciane foi sentenciada a dez anos, mas recorre em liberdade.
De acordo com o MP, Tio Patinhas se vinga dos inimigos “ceifando-lhes a vida sempre que os crimes em que se envolve lhes torna credor”, segundo um trecho da denúncia do procurador Mário Ypiranga Monteiro Neto, de agosto de 2018.
Às vezes manda colocar recado nos mortos, como por exemplo em 2019: “devia Tio Patinhas, onde um devedor foi morto dentro de um motel.
Sobre Luciane, o Ministério Público do Amazonas diz que ela cuida do dinheiro do marido. “Exercia papel fundamental também na ocultação de valores oriundos do narcotráfico, adquirindo veículos de luxo, imóveis e registrando ‘empresas laranjas’.” Graças ao trabalho, ela “conquistou confiabilidade da cúpula da Organização Criminosa ‘Comando Vermelho’”, detalha a acusação.
Em maio, Luciane entrou no Ministério da Justiça como presidente da Associação Instituto Liberdade do Amazonas (ILA). No papel, uma ONG de defesa dos direitos dos presos que seria financiada pelo tráfico.
“No dia 19 de março, Luciane esteve com Elias Vaz, secretário Nacional de Assuntos Legislativos de Flávio Dino. Pouco tempo depois, a 2 de maio, ela se encontrou com Rafael Velasco Brandani, titular da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen)”, diz a reportagem do Estadão.
.”Numa postagem no Instagram, Luciane escreveu ter levado a Velasco e a outras autoridades do ministério “denúncias de revistas vexatórias” no sistema prisional amazonense. Também teria apresentado um “dossiê” sobre “violações de direitos fundamentais e humanos” supostamente cometidas pelas empresas que atuam nas prisões do Estado”, segue a reportagem.
Luciane também foi recebida no Ministério da Justiça: Paula Cristina da Silva Godoy, titular da Ouvidora Nacional de Serviços Penais (Onasp); e Sandro Abel Sousa Barradas, 0diretor de Inteligência Penitenciária da Senappen.
A Folha diz que investigadores da Polícia Civil do Amazonas avaliam que a Associação Instituto Liberdade do Amazonas (ILA), ONG criada por Luciane Barbosa Farias, é apenas uma fachada usada pelo Comando Vermelho para “perpetuar a existência da facção criminosa e obter capital político para negociações com o Estado”.
NOTA DO MINISTÉRIO DA JUSTIÇA
“No dia 16 de março, a Secretaria de Assuntos Legislativos (SAL) atendeu solicitação de agenda da ANACRIM (Associação Nacional da Advocacia Criminal), com a presença de várias advogadas.
A cidadã mencionada no pedido de nota não foi a requerente da audiência, e sim uma entidade de advogados. A presença de acompanhantes é de responsabilidade exclusiva da entidade requerente e das advogadas que se apresentaram como suas dirigentes.
Por não se tratar de assunto da pasta, a ANACRIM, que solicitou a agenda, foi orientada a pedir reunião na Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen).
A agenda na Senappen e da ANACRIM aconteceu no dia 2 de maio, quando foram apresentadas reivindicações da ANACRIM.
Não houve qualquer outro andamento do tema.
Sobre atuação do Setor de Inteligência, era impossível a detecção prévia da situação de uma acompanhante, uma vez que a solicitante da audiência era uma entidades de advogados, e não a cidadã mencionada no pedido de nota.
Todas as pessoas que entram no MJSP passam por cadastro na recepção e detector de metais.”