BRASÍLIA – O Instituto Brasileiro de Gografia e Estatística (IBGE) contará com o apoio dos Ministérios da Justiça, do Planejamento, dos Povos Originários e da Defesa para concluir o Censo Demográfico da terra indígena Yanomami. O termo de cooperação interministerial foi assinado nesta quinta-feira (02) pelos ministros Flávio Dino, Sônia Guajajara e Simone Tebet. O ministro da Defesa foi representado pelo general José Eduardo Pereira.
De acordo com o presidente interino do IBGE, Cimar Azeredo, a expectativa é que 10 mil a 15 mil indígenas Yanomami sejam recenseados no mês de março. Até o momento, os recenseadores já coletaram dados de 21.579 pessoas que vivem no território Yanomami em Roraima e no Amazonas. Ao todo, o IBGE estima um contingente de 38 pessoas para garantir a coleta de dados. As equipes usarão, em diferentes turnos, três helicópteros da Polícia Rodoviária Federal (PRF).
Operação
A operação terá início na próxima segunda-feira (6) e tem previsão para ser concluída de 20 a 30 dias, a depender das condições climáticas de acesso à região. Os recenseadores já coletaram dados de 50% dos moradores do território. Segundo o IBGE, resta a metade final da população que vive em áreas de acesso especialmente complexas.
Durante a solenidade, Flávio Dino destacou a importância do recenseamento Yanomami para a garantia dos direitos indígenas e o combate à desinformação. “Nós estamos enfrentando um negacionismo censitário, que é uma das modalidades perversas desses múltiplos negacionismos que se implantaram no nosso país. Celebramos o hino nacional e dizemos nossa pátria, a mãe gentil dos filhos deste solo. Muito bem, para ela ser gentil, é preciso que nós saibamos onde estão e quem são os filhos e filhas desta pátria. E somente o recenseamento pode responder a isto”, afirmou o ministro da Justiça.
O ministro da Justiça também criticou a situação de abandono dos povos Yanonami e classificou como genocídio o que tem ocorrido na região. “A lei que trata de genocídio no Brasil neste caso explica que a morte de centenas de pessoas e crianças por omissões, dolosas ou culposas, se insere neste conceito, infelizmente, e nós estamos aqui dizendo que acabou o tempo da falta de lei na Amazônia brasileira e no território Yanomani”.
Para a ministra Sônia Guajajara a calamidade em que se encontra o povo Yanomami é reflexo do abandono do poder público, e o problema foi acentuado nos últimos dois anos. “As crianças yanomami hoje morrem de desnutrição, por contaminação de mercúrio, por malária, doenças consideradas tratáveis. Elas ficaram ali totalmente abandonados, a mercê da própria sorte”, criticou a ministra.
Neste sentido, Guajajara disse que o recenseamento do povo Yanomami será fundamental para saber qual é a real situação da população, bem como as necessidades de atendimento médico, de distribuição de alimentos e outras necessidades básicas.
“É uma área de difícil acesso, o território é muito grande, as comunidades são muito espalhadas e o IBGE tem encontrado dificuldade de estrutura, de logística, pra chegar nas áreas mais remotas. Então, é muito importante essa frente, para que a gente possa contabilizar e saber qual é a nossa população e de fato o que precisa ser feito em cada lugar”.