Foi uma reunião tensa, com direito a bate-boca e irritação nos corredores, mas acabou prevalecendo a vontade do grupo que, hoje, dá as cartas no Partido dos Trabalhadores (PT). Na segunda-feira (17), integrantes do diretório nacional do partido aprovaram uma mudança no estatuto da legenda, flexibilizando as regras para que parlamentares e dirigentes partidários possam exercer sucessivos mandatos.
A norma anterior do PT vedava novas candidaturas de quem já tivesse exercido três mandatos consecutivos na mesma casa legislativa ou na mesma instância partidária. No caso do Senado, antes eram permitidos dois mandatos consecutivos, pelo fato da permanência na cadeira ser mais longa. Na prática, a legenda deixa de ter restrições a reeleições, pondo fim a uma diretriz que assegurava a renovação de quadros e oxigenava a estrutura da sigla.
À primeira vista, a medida parece burocrática. Ela atende inclusive à necessidade do PT de assegurar um bom desempenho em eleições para o Congresso, em tempos de baixa popularidade do governo. Na prática, entretanto, a mudança representa um atropelo às regras do próprio partido.
Parte dos críticos argumenta que o modelo híbrido da reunião, com diversos integrantes participando remotamente, não atenderia às regras da sigla. Outro grupo aponta que as alterações do estatuto só poderiam ser feitas mediante convocação do Congresso do PT, instância máxima da legenda. As correntes do partido situadas mais à esquerda reagiram duramente à mudança. Alguns chegaram a falar em judicialização.
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A mudança nas normas serve a dois objetivos principais, de acordo com relatos de dirigentes: dar sobrevida a grupos que controlam espaços estratégicos no governo federal e manter o controle sobre a máquina partidária.
Líderes petistas atribuem a articulação ao grupo que orbita em torno da atual presidente do PT, Gleisi Hoffmann. Seria uma forma dessa ala manter poder, diante da provável chegada de Edinho Silva, nome de Lula para assumir a presidência do partido no meio deste ano.
A mudança nas regras de reeleição permitirá a recondução de Gleide Andrade ao cargo de tesoureira do partido. A posição é estratégica porque assegura o controle das finanças da sigla e permite, com isso, influenciar a nova gestão partidária. O grupo de Gleide rebate as críticas alegando que ela teria sanado as finanças partidárias, que já estiveram na origem de várias crises políticas.
Ainda assim, sob reserva, dirigentes alinhados à atual gestão do PT admitem que o plano é, ao menos em parte, pressionar Edinho Silva a negociar espaços na nova direção partidária. E dizem esperar que Lula intervenha, contemplando, no governo, a ala mais próxima a Gleisi. Seria uma forma de pacificar a disputa interna antes do Processo de Eleições Diretas (PED), no qual Edinho disputará a presidência do partido. A atual presidente do PT é cotada para assumir o comando da Secretaria-Geral do Planalto na reforma ministerial.