À frente da Casa Militar do Amazonas há quatro anos e oito meses, o coronel Fabiano Machado Bó, de 52 anos, é a personificação da segurança do governardor Wilson Lima e do vice, Tadeu de Souza. Natural de Boa Vista (RR) e integrante da Polícia Militar desde 1989, Bó ganhou o título de Cidadão do Amazonas e a medalha Ruy Araújo, maior honraria do legislativo estadual, ambos concedidos pela Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam).
É bacharel e especialista em Segurança Pública, pela Academia de Polícia Militar General Edgard Facó, do Ceará, bem como formado e pós-graduado em Direito, pelo Centro Universitário do Norte. Ocupou diversos cargos ao longo da carreira, como Chefe da Assistência Militar do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM), comandante da CIA de Boca do Acre, comandante do Comando de Policiamento de Área (CPA) Sul e comandante do Comando & Policiamento Especial (CPE). Ao Vanguarda do Norte, Fabiano Bó destacou as ações da Casa Militar e o apoio às comunidades ribeirinhas e indígenas do interior do estado. Confira:
Vanguarda do Norte: A Casa Militar atua, além da segurança, no apoio logístico, como na distribuição de vacinas, oxigênio medicinal, medicamentos, equipamentos e até no transporte de pessoas para os municípios mais remotos do estado. Como foi esta ação durante a pandemia da Covid-19 e o que ainda está sendo feito hoje?
Fabiano Bó: Dentre as atribuições previstas em lei da Casa Militar, a atividade principal é a segurança do governador, do vice, dos familiares deles e de alguns dignitários designados por eles, como reis, rainhas, embaixadores, chefes de estado que visitam a cidade. Cabe à Casa Militar dar o apoio logístico e fazer a segurança destas autoridades, essa é a atividade principal. A atividade secundária é o apoio logístico a essas pessoas e às secretarias do estado, direta e indiretamente, por meio terrestre, aéreo e fluvial. Especificamente no período da pandemia, principalmente em 2020 e 2021, atuamos justamente no apoio logístico. Toda vez que você salva uma vida, de quem quer que seja, é uma ação meritória. Mas temos um marco muito interessante, costumo dizer que foi inédito. As primeiras vacinas chegaram em Manaus em janeiro às 18h e para a região metropolitana, foi mais fácil de começar a distribuição, mas os municípios mais remotos, que representam 90% do estado, a Casa Militar começou a entrega às 5h do dia 19. Fizemos uma operação de guerra e, em 36h, distribuímos toda a carga de vacinas para 100% dos municípios do estado. Naquele momento, também tínhamos apoio das forças armadas, mas grosso foi executado pelo Governo, com apoio da Casa Militar. Até hoje transportamos pessoas doentes, medicamentos, insumos. Continuamos esse serviço de apoio a saúde e recentemente recebi uma demanda da Fundação de Vigilância em Saúde para transportar vacina para Humaitá [a 590 quilômetros de Manaus], porque o estoque deles está baixo.
VDN: Você já visitou muitos municípios do estado e viu de perto as dificuldades dos lugares mais isolados do Amazonas, seja na pandemia, para entregar os cartões do Auxílio Estadual ou nas ações da Operação Enchente. Sendo assim, quais são, atualmente, os maiores desafios ao levar assistência aos municípios do interior?
Fabiano Bó: Os maiores desafios são justamente as distâncias. Temos municípios que ficam totalmente isolados, principalmente nas cabeceiras dos rios. Pauini [a 923 quilômetros de Manaus], por exemplo, fica totalmente isolado e principalmente na seca é mais difícil, as balsas não chegam. A partir de Lábrea, que é no meio do Rio Purus, não passa mais e não chega gás de cozinha, suprimentos, combustível. Durante os seis meses de seca, só vai até lá. O rio fica tão estreito que temos que fazer o transbordo para embarcações menores e isso encarece muito o produto para o morador, que é o consumidor final. Envira e Ipixuna acontece do mesmo jeito, as balsas vão até Carauari [a 788 km] ou no máximo Eirunepé [distante 1.160 km]. Aí o custo logístico aumenta, gasta muito com combustível. Isso nas cheias, que trazem doenças, e também nas secas, quando dá para ver os peixes mortos na beira. Quando o governador criou o Auxílio Estadual, também fizemos a logística inteira, tanto para fazer as buscas ativas, quanto para a distribuição dos cartões. É um trabalho que não para, sempre temos alguma demanda.
VDN: Depois disso tudo, você ganhou o Título de Cidadão do Amazonas e a Medalha Ruy Araújo – maior comenda do poder legislativo estadual, que certifica o cumprimento da missão. Qual a sensação de fazer parte oficialmente da história do Amazonas e receber estas honrarias?
Fabiano Bó: Realmente é um motivo de honra e orgulho muito grande para mim e para minha família. Cheguei em 1979, com oito anos de idade. Passei no concurso da PM em 1989, 34 anos atrás e a vida toda prestei serviços para a sociedade amazonense, nas mais distantes comunidades e municípios. Estou há quatro anos e oito meses com a Casa Militar, tive a oportunidade de conhecer todos os 62 municípios do estado e tenho título de cidadão de algumas cidades, como Boca do Acre, Tapauá, Manacapuru e Apuí. A [Assembleia Legislativa do Amazonas] Aleam me deu estas oportunidades e atualmente, tem outra novidade a caminho, que ainda não foi aprovada, mas em breve devemos confirmar.
VDN: Vivemos em um período onde a segurança das figuras políticas tem sido mais ameaçada, com atentados a Bolsonaro, em 2018, Tarcísio de Freitas, em 2022 e ao presidente Lula, mais recentemente no Pará. Como tem sido a tarefa de garantir a segurança do governador? Há alguma especialização para segurança de autoridades?
Fabiano Bó: É sempre difícil fazer a segurança de um político, porque você tem que fazer um trabalho técnico, tem uma doutrina. Mas também tem a parte política, porque não podemos deixá-los isolados do público, imagina um político que não chega perto do seu eleitorado? Isso que faz com que aumente o risco, que existe, mas ficamos mitigando. Em ambientes controlados, conseguimos fazer esse monitoramento, mas nos ambientes abertos, entra a expertise do agente de segurança da Casa Militar para observar as atitudes, os gestos. Uma pessoa muito nervosa, aflita, levanta suspeitas e iniciamos as atividades para averiguar, fazer uma entrevista, oferecer ajuda. Nesta abordagem, já conseguimos comprovar ou descartar a suspeita. Já vimos pessoas sem motivo político fazendo atentados com várias figuras, como John Lennon, então existem maneiras e técnicas de mitigar este risco. Temos cursos adicionais e duas semanas atrás, inclusive, policiais da Casa Militar concluíram o curso de proteção de autoridades no batalhão de polícia do Exército. Nós mesmos já ministramos cursos em duas edições e nos preparamos para uma terceira, formando também agentes de segurança da Marinha, Exército, Força Aérea, Polícia Militar, Prefeitura Municipal, Ministério Público, entre outros, irradiando conhecimento.
VDN: Este ano, esteve em pauta também a questão da segurança escolar, com todas as ameaças de atentado e demais episódios de violência. Como o senhor avalia a atuação do Comitê Interinstitucional de Proteção, Monitoramento, Guarda e Segurança Escolar e do o Núcleo de Inteligência e Segurança Escolar (Nise)?
Fabiano Bó: Existem alguns tipos de ocorrência que acontecem em cadeia, muitas vezes internacionais. Essa sequência de ocorrências escolares, que aconteceram no início do ano, fez com que o governador criasse um grupo de trabalho com várias secretarias, tendo como carro chefe a Educação e a Segurança. Lá, debatemos estrategias, táticas e foi até o nível de execução, com tanta maestria que hoje não ouvimos falar sobre [novos casos]. O fato de ser pai de uma criança em idade escolar aumenta a atenção e a cobrança. Uma coisa é quando o problema é na casa do vizinho, você trabalha de maneira mais técnica. Quando envolve pessoas que você convive, entra a emoção. Então você tem que encontrar um equilíbrio e não pode deixar os dois se misturarem. Se você deixar influenciar, tende a tomar atitudes e medidas com grau de risco maior. Mas é bom porque você tem informações mais precisas. Se você tem um filho, ele te fala como é o dia a dia e dá para aproveitar, desde que você mantenha a frieza, a cautela. Esse grupo de trabalho, esse comitê, é interdisciplinar. Trocamos ideias, informações e dali saiu um plano que foi muito bem executado. O comitê não foi desfeito, não precisamos nos reunir diariamente como era, mas o Nise continua ativo e trabalhando, então se algum momento que chegar alguma informação, checamos e alguma ação é tomada.
VDN: Durante o Congresso das Polícias Militares da Região Norte, muito se falou sobre a integração e a unidade entre as forças de segurança. A Secretaria de Segurança Pública do Amazonas também divulgou um balanço que pontua o menor índice de roubos de veículos dos últimos 12 anos na cidade e destacou o mesmo fato. Quais são, portanto, os esforços e os resultados dessa união?
Fabiano Bó: Por que estamos com a menor quantidade de roubos de veículos nos últimos 12 anos? Porque o governador investiu muito, principalmente em tecnologia, treinamento e equipamentos. Agora, o sistema de segurança volta a ter concursos, 11 anos depois de só perder efetivo. O governador cumpriu o compromisso de campanha e está prestas a chamar as pessoas para os quatro órgãos de segurança e para a própria secretaria. Um destes investimentos em tecnologia foi a criação do “Paredão”, que conta com câmeras na cidade inteira e detecta veículos roubados para que uma viatura da polícia aborde. Esse investimento fez reduzir os índices e os demais crimes são feitos com veículos roubados e furtados. Quando você reduz um crime mãe, reduz os outros. É um trabalho que é desenvolvido muito bem e por conta dos investimentos. Vejos dois motivos principais para a integração das forças de segurança: nossas dificuldades logísticas e o povo amazônico, que recebe muito bem as pessoas. Somos referência em termo de integração e na atuação das forças de segurança e defesa. Aqui a gente trabalha muito bem, mas você só consegue trabalhar em parceria, se tiver algumas características e abrir mão de outras, como por exemplo a vaidade. Onde tem vaidade, você não consegue se integrar. Se você não quiser compartilhar informações, conhecimento e até o poder de decisão, você não consegue se integrar. Nossos resultados só são possíveis por conta disso e, durante a Copa do Mundo de 2014, aqui foi onde a integração melhor funcionou, das 12 subsedes. A Casa Militar serve de elemento de ligação entre o governo do estado e as instituições, poderes. A gente participa deste elo de ligação para fazer a interlocução.
VDN: É notória a sua aproximação com o governador Wilson Lima, o senhor poderia comentar um pouco sobre essa relação?
Fabiano Bó: Minha relação com o governador é institucional em primeiro lugar. Somos nós que cuidamos da segurança dele e do vice-governador e, para isso, temos que ter uma relação de confiança. Isso gera, obviamente, uma relação pessoal. Convivemos diariamente, minha sala é do lado do gabinete dele e posso dizer que tenho uma relação pessoal de admiração. É um cara muito inteligente, muito preparado, uma pessoa de sabedoria enorme, sabe ouvir, dá atenção para as pessoas. Tem bastante cultura, aprende com facilidade. Ele tem resiliência, supera as fadigas, é raro ver o governador exausto. É resistente física e mentalmente, então quando você tem essa relação com seu chefe, quando é um verdadeiro líder, as coisas fluem melhor, até no campo pessoal. Temos conversas descontraídas, é um cara de bom trato, então temos essa relação que além de subordinação, é também de admiração.