O governo Lula resolveu mudar a comunicação reforçando uma estratégia conhecida do petismo: transferir as responsabilidades sobre os impactos da política econômica adotada. Depois da terceira elevação dos juros pelo Copom em 1 ponto percentual, para 14,25%, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, chamou a decisão de “herança” de Roberto Campos Neto a ser “administrada” por Gabriel Galípolo e pela diretoria do BC, já formada por maioria indicada por Lula.
A fulanização sobre a condução da política monetária é novidade nesse terceiro mandato de Lula, já que o petista teve que acatar, mesmo sob bravatas, a decisão do Congresso Nacional de dar independência legal ao Banco Central.
O problema é que a atuação do BC de Campos Neto e, agora, Galípolo, é sobre o que Lula e Haddad decidem fazer na economia, não o contrário. A herança a que se refere o ministro da Fazenda, portanto, é dele próprio.
O Copom está subindo os juros desde agosto para tentar controlar um processo inflacionário alimentado pelo excesso de gastos públicos que levou o país a um crescimento acima da sua capacidade de produção. A Selic está de volta ao mesmo patamar de 2016 também em função da alta do dólar, que chegou a R$ 6,30 quando Lula e Haddad escolheram priorizar a popularidade do presidente, mesmo que isso custe mais inflação.
Curiosamente, a popularidade caiu por causa do aumento dos preços. Tudo indica, pelas decisões recentes do governo de injetar mais dinheiro na economia, que a ciranda inflacionária vai continuar. O BC que lute sozinho para segurar o país.
Mudança no Discurso
Depois da reunião do Copom de janeiro, Haddad reclamou da taxa e chamou de contraproducente a “dose” para combater a inflação. O ministro concordou, à época, que a atividade econômica deveria desacelerar um pouco para ajudar na redução dos preços. Disse isso em entrevista à CNN.
Ficava a cargo de Gleisi Hoffman, ainda presidente do PT, e do presidente Lula, os ataques costumeiros à gestão anterior. Ambos disseram que Galípolo era praticamente uma vítima de Campos Neto, impotente diante do que seu antecessor fez ao país. Agora, sob nova gerência na comunicação oficial, a ministra e articuladora política do Planalto, se calou sobre a decisão do BC.
Assim como o PT nega até hoje a herança maldita, essa sim, que Dilma Rousseff deixou ao Brasil, agora se recusa a aceitar a responsabilidade pelo aumento da inflação, pela insustentabilidade do crescimento via consumo turbinado por gastos públicos e pelo aumento da dívida pública.