Líderes governistas passaram os últimos dias certos de que as festas juninas dariam um respiro à articulação política na crise que se formou em torno do IOF, o Imposto sobre Operações Financeiras. A maioria saiu de Brasília. E, em geral, as respostas sobre o ajuste fiscal entre o fim da semana passada e o início desta eram similares: solução mesmo, provavelmente, só em julho.
Mas tudo parecia mais ou menos sob controle. Afinal, o Palácio do Planalto já havia acelerado a liberação de emendas parlamentares. Foram R$ 700 milhões somente desde a aprovação da urgência do decreto, como informou a analista Larissa Rodrigues. Só que o clima de tranquilidade caiu por terra às 23h35 de terça-feira, quando Hugo Motta foi para as redes sociais.
A postagem do presidente da Câmara anunciando que pautaria a derrubada do decreto que aumenta o IOF de fato pegou de surpresa os principais líderes do governo. Alguns se falaram ainda na noite de terça-feira. Outros disparavam ligações às 7h da manhã desta quarta-feira.
Mas o clima nos bastidores era de irritação. Um líder diretamente envolvido nas negociações chegou a resumir o movimento como uma “piada de mau gosto”. Outro ironizou duramente a postagem de Motta, dizendo que o presidente da Câmara – a quem chamava de “Huguinho”, em referência ao personagem da Disney – age como se pagar emendas parlamentares fosse o mesmo que “fazer um pix”.
Ao menos na manhã de hoje, havia bastante dúvida em relação às intenções do presidente da Câmara. O que Hugo Motta fez, no entendimento de líderes governistas, extrapolou o simples recado. Foi um gesto forte. O que não se sabe ainda, prosseguiu um parlamentar petista, é se a votação convocada para hoje é apenas um instrumento de pressão ou se é um convite ao confronto.
A ordem é aguardar as conversas que ocorrerão ao longo do dia. Mas, se prevalecer a segunda alternativa, os petistas já têm um discurso pronto. Tentarão colar em Hugo Motta e na oposição a ideia de que estão “do lado dos ricos que não querem pagar imposto”.
Hoje, pela manhã, Fernando Haddad, ministro da Fazenda recém-retornado das férias, já seguiu essa linha no X. “O decreto do IOF corrige uma injustiça: combate a evasão de impostos dos mais ricos para equilibrar as contas públicas e garantir os direitos sociais dos trabalhadores.”