Manaus (AM) – O Dia Internacional da Mulher, celebrado neste dia 8 de março, marca a luta das mulheres por seus direitos que, por muito tempo, foram negligenciados. Entre esses direitos está a luta da mulher indígena que busca igualdade e dignidade em meio a tantos problemas sociais.
Os povos tradicionais passaram a ter um capitulo especifico apenas na Constituição de 1988 e nos últimos anos, diante do cenário político atual, devido à falta de representantes, as organizações, como os das mulheres indígenas, vêm se organizando para deixar o histórico de exclusão de lado para tomar posse como porta-voz de seus interesses.
Nesse contexto, está a ativista, professora e profissional da saúde, Vanda Witoto, uma das mulheres indígenas que ganhou notoriedade durante a crise sanitária da pandemia da Covid-19 ao assumir o papel de protagonismo, reivindicando uma atenção diferenciada e lutando pela sobrevivência dos indígenas, considerados grupo de risco, residentes do Parque das Tribos, em Manaus.
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A profissional da saúde, junto de outras lideranças, montou uma unidade de apoio à saúde dentro da comunidade para enfrentamento da pandemia, além de customizar máscaras de pano para distribuir à comunidade.
Pelo trabalho exercido naquele período e nas mudanças implantadas a partir disso, Vanda Witoto foi escolhida para ser a primeira pessoa no Amazonas, como profissional da saúde e mulher indígena, para tomar a dose da vacina contra a Covid-19.
Em conversa com o Vanguarda do Norte, a ativista fala sobre a luta de ocupação e representação das mulheres indígenas no âmbito da política.
Para Vanda Witoto, atualmente já são percebidos avanços nas ocupações de alguns espaços construídos pelas mulheres tradicionais ao longo dos anos, principalmente do Amazonas, e que servem como inspiração para as novas gerações.
“Aqui no estado do Amazonas, nós temos histórico de mulheres de muita luta. Mulheres que a partir de um processo de retirada de seus territórios, de terem vindo para a cidade, trazidas como empregada domésticas, essas mulheres, mesmo diante desses desafios, conseguiram se reorganizar a partir das violências que elas sofriam, dos maus-tratos e do não retorno ao território. Essas mulheres conseguiram ter acesso, por exemplo, à informações e a formações que possibilitaram que a gente avançasse na compreensão do nosso papel, da nossa luta e da nossa potencialidade”,
relata Vanda Witoto.
Enquanto mulher, Vanda ressalta que em relação à representatividade política no Amazonas há um grande desafio, por mais que tenham sido eleitas mulheres, que afirmam não priorizar pautas como as indígenas.
“Aqui no estado do Amazonas foram eleitas algumas mulheres e algumas delas falam que a questão indígena, a questão das mulheres negras e LGBTs não são pautas prioritárias dessas representantes eleitas. Então isso é um grande problema para a gente, porque esse estado elege pessoas que não olham para essa população que está aqui, que na sua maioria é indígena, é negra, são mulheres e pessoas periféricas”,
diz Vanda
“Então a gente não se sente representada por essas pessoas eleitas. E depois de um governo que os seus quatro anos atuou para desmontar toda a política pública construída por essa sociedade, construída pela população negra, construída pela população indígena, ele vem e enfraquece toda as instituições, retira recursos desses dessas políticas. E a gente ainda na Amazônia, a sociedade elegeu governadores e deputados aliados à antiga política, do Bolsonaro”,
completa.
Vanda Witoto ressalta que os movimentos indígenas, principalmente das mulheres, terão um grande desafio de estabelecer um diálogo com esses novos “representantes” políticos.
“Então, aqui no Amazonas, por exemplo, a gente tem agendas que que nós gostaríamos de dialogar e não temos essa possibilidade. Isso é um desafio para gente nesse momento”,
finaliza.
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