AMAZONAS – A morte da maior liderança política da história do Amazonas, em fevereiro, marcou o fim de um ciclo e o início de outro na política do Amazonas. A perda do “Negão” deixou uma lacuna reconhecida por opositores e apoiadores do cacique. A cadeira do rei ficou vaga, e até agora ninguém a ocupou.
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Praticamente tudo o que aconteceu na política amazonense em 2023 vai dar frutos, ou rusgas, em 2024. O ano pré-eleitoral foi dominado pelas eleições de 2024, marcado pela expectativa do posicionamento do govenador Wilson Lima em relação ao prefeito David Almeida, da perda de controle do Prefeito de Manaus sobre a Câmara Municipal de Manaus, e pela chegada de uma mulher ao comando do Tribunal de Contas do Estado (TCE-AM).
Amazonino, o legado
Amazonino morreu no dia 12 de fevereiro, e com ele se foi uma história de 40 anos no poder. Fruto de Gilberto Mestrinho e padrinho de toda a classe política que hoje domina o Amazonas, o ex-governador partiu sem dizer quem seria seu sucessor natural.
“O Brasil perde um relevante homem público com a morte de Amazonino Mendes. O nome de batismo já indicava sua predestinação para se tornar um dos filhos mais ilustres do Amazonas ao ocupar, por mais de uma vez, o cargo de governador, além de ter sido senador e prefeito de Manaus. Amazonino caracterizou a sua vida pública por diversas iniciativas que proporcionaram um vigoroso crescimento econômico e social do Amazonas. Presto meus sentimentos aos familiares, aos amigos e aos admiradores”, afirmou o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, dando a noção exata do tamanho de Amazonino na vida pública
Wilson, o líder
Nada de importante que se passou na política do Amazonas em 2023 escapou das mãos do governador Wilson Lima. Se o Amazonas perdeu Amazonino, viu em Wilson o despertar de uma liderança política forte.
Com a maioria da bancada na Aleam, apoiado pela maioria dos vereadores e com as portas abertas pela gestão Lula, Wilson teve de enfrentar a maior seca da história antes mesmo de recuperar o Estado das mazelas deixadas pela pandemia de Covid.
E do ponto de vista política se saiu muito bem. Tanto que o ano eleitoral começa esperando pela movimentação do grupo político liderado pelo governador. Se apoiar Roberto Cidade, muitos acreditam que Manaus vai romper a tradição de reeleger prefeitos.
Se caminhar ao lado de David Almeida, a reeleição do político do Avante é dada como certa. Além disso, Wilson desfruta de popularidade sem precedentes no interior, onde pode eleger prefeitos e decidir a formação de Câmaras Municipais na maioria dos 62 municípios.
David Almeida na berlinda
O prefeito de Manaus, David Almeida, teve um ano conturbado, marcado por polêmicas. No segundo semestre levou um grande “não” da CMM ao pedir autorização para emprestar R$ 600 milhões, e foi criticado por vereadores por querer o dinheiro sem explicar as razões.
Teve de recuar e fazer o pedido conforme o indicado pela Casa, mas logo em seguida foi bombardeado por professores, por não pagar o Fundeb após a secretária de Educação, Dulce Almeida, prometer que tinha dinheiro em caixa para fazer o pagamento.
David também viu seus rivais políticos apertarem o cerco. Após dizer que políticos estavam “vagabundando” ao fazer política, foi exposto pelo presidente da Aleam, Roberto Cidade, que o aconselhou a ter mais “controle emocional”.
Também foi alvo constante de Amom Mandel. O deputado federal expôs as mazelas do lixo no São Raimundo e organizou um mutirão de limpeza para “ensinar” ao prefeito como ele deveria fazer.
David também teve de recuar na política nacional. Após apoiar e pedir votos para Bolsonaro, o prefeito de Manaus “se rendeu” a Lula,, que mandou verba para ele retomar seu programa de moradia, expondo a falta de recursos do prefeito para tocar projetos por conta própria.
Para finalizar, David não recebeu o sim que tanto espera do governador Wilson Lima, de quem pede apoio para ser candidato à reeleição. Caminhando com Eduardo Braga, a quem tanto criticou na campanha anterior, David Almeida segue no meio do tabuleiro, esperando a peça mais importante do jogo decidir se estará ao lado dele, ou do outro lado da mesa.
TCE sob nova direção
No Tribunal de Contas do Estado do Amazonas (TCE-AM), o ano foi de renovação. A conselheira Yara Lins foi eleita para comandar a Corte e após denunciar o conselheiro Ari Moutinho por assédio moral chegou para apaziguar os ânimos na Casa.
Entre as metas estipuladas pela conselheira-presidente desde a sua posse estão: harmonia interna, a modernização tecnológica e o papel pedagógico da Corte. Para o biênio, a conselheira Yara Amazônia Lins também tem por objetivo melhorar as atividades da Corte na fiscalização dos jurisdicionados, sobretudo relacionado ao lado pedagógico.
“Vamos atuar no controle externo de maneira focada em proporcionar benefícios à capital Manaus e a todos os municípios do interior. O Tribunal não deve ser somente punitivo, primeiramente, tem que ter como prioridade a orientação pedagógica, para que os gestores possam ser orientados para evitar falhas e punições”, afirmou a nova presidente do TCE-AM.
Roberto Cidade e Caio André protagonizam
Nas Casas legislativas o ano foi dos presidentes. Tanto o deputado Roberto Cidade quanto o vereador Caio André ganharam protagonismo.
Cidade, que vem de uma votação histórica e recordista, teve seu nome “cantado” para ser o candidato do governador Wilson Lima nas eleições municipais. Considerado diplomático, bem relacionado com a CMM e home do diálogo, seria o contraponto ao prefeito David Almeida que lidera uma gestão tensa com os poderes.
Caio André foi outro que se destacou no meio político. O presidente da CMM tirou a Casa do noticiário negativo dos tempos de David Reis, levou a Casa para as ruas de Manaus com ações sociais, e ainda mandou um recado ao prefeito David Almeida ao ser o voto que decidiu por não autorizar o polêmico empréstimo.