Manaus (AM)– Plinio Valério (PSDB), é um dos três senadores que foram eleitos para representar o Amazonas no Senado Federal e é conhecido por ser grande crítico do governo de Lula (PT), além de condenar ações de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele está no seu 5° ano de mandato e um dos seus principais projetos de lei (PL), é o que determina a autonomia operacional do Banco Central (Bacen).
Jornalista e radialista formado pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Plínio, que é natural de Eirunepé (a 1.159 quilômetros de Manaus), começou sua trajetória política como vereador.
O parlamentar foi eleito em 2018 com mais de 800 mil votos e recentemente foi alvo de muitas críticas ao visitar amazonenses que estavam presos pelos crimes de vandalismo em 8 de janeiro, onde apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), inconformados com o resultado das eleições de 2022, invadiram a Praça dos Três Poderes.
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Vanguarda do Norte: O senhor foi centro de um debate nos últimos dias por visitar os amazonenses presos em Brasília, acusados de participação nas invasões aos prédios públicos. O senhor temeu a repercussão que a visita poderia ter sobre o seu mandato?
Plínio Valério: Não. Em momento algum. Eu sou assim, gosto de ajudar um irmão na hora do seu desespero. Faria outra vez.
VDN: Passados esses primeiros meses do governo Lula, já vimos invasões a prédios em Brasília, revelações da grave situação dos Yanomami, denúncias de entrada de jóias ilegais envolvendo o nome da família Bolsonaro. O senhor acredita que há um ambiente de perseguição política no Brasil?
PV: Continua a luta entre os dois extremos e isso não é bom para o país. Revanchismo, perseguição e maldades devem ficar no meio do caminho. Existe uma longa estrada a percorrer e um país pra cuidar. É bom que o Partido dos Trabalhadores (PT) entenda logo isso.
VDN: Muitos dizem que a volta do presidente Lula ao poder é uma ruptura do Brasil com o que aconteceu nos últimos quatro anos, mas ao mesmo tempo ainda vemos uma forte presença da direita e de pautas bolsonaristas nas ruas e no Congresso. O senhor acredita que nos próximos quatro anos o Brasil terá dificuldades por conta da polarização?
PV: Sim. Essa polarização vai prejudicar o andamento do que interessa. O Presidente Lula precisa tirar o Bolsonaro da cabeça. Falar mal ou perseguir bolsonaristas, só vai ativar o sentimento que eles têm pelo seu ídolo.
VDN: Falando especificamente do Amazonas a bancada indicou Bosco Saraiva para o comando da Suframa, talvez o ponto mais sensível do estado com Lula até o momento. O nome do ex-deputado será levado diretamente pelo senhor ao presidente? Por que decidiram que ele é o melhor nome?
PV: Assim como fiz no outro governo, não indicarei ninguém pra cargo algum. O nome do Bosco foi colocado numa reunião de Bancada e por amizade a ele, não me opus. Mas acho sim que o Bosco tem competência pra isso.
VDN: De que forma a bancada do Amazonas pode contribuir para viabilizar ao estado novos modelos de desenvolvimento? Ainda que a Zona Franca de Manaus (ZFM) seja inquestionável, especialmente o interior, não precisaria buscar seus próprios caminhos?
PV: Nenhum outro modelo pode ofertar o que a ZFM oferta. Nenhum outro modelo econômico contempla o meio ambiente quanto a ZFM com seu parque industrial. Nossa parte é lutar pra mantê-la com todas as garantias constitucionais. Que o Governo Federal nos diga qual modelo nos sugere para substituir a ZFM. Aí então veremos. Enquanto isso, devemos sim, introduzir novas matrizes ao modelo. Por exemplo: Gás, petróleo, potássio, turismo, criação de peixes, biotecnologia, fármacos, mineração.
VDN: Hoje que são os maiores inimigos do Amazonas? Os garimpeiros, os empresários que querem tirar a ZFM do estado, os madeireiros? Ou as ONGs que o senhor tenta investigar em uma CPI?
PV: O Governo Federal, que quer acabar com a ZFM, mexendo no IPI, que é o coração do modelo. Acabar com a isenção do IPI é atingir de morte a ZFM.
VDN: Dos jovens políticos, ou da geração que se destacou nas urnas ano passado, quem o senhor apontaria como um político do Amazonas de futuro promissor? As votações de Amom Mandel e Roberto Cidade, por exemplo, bateram recordes. Assim como a do governador Wilson Lima. Estamos assistindo a um momento de transição na política do Amazonas?
PV: Para que um bom político se consolide como tal, não basta ser campeão de voto, tem que mostrar no exercício do mandato. Se for legislador, tem que provar. Se for executivo, a mesma coisa. Quanto à transição, é muito cedo pra afirmar. Agora, é inegável, como tudo na vida, que novos atores surgirão para substituir os que aí estão.
VDN: Qual deve ser o papel do político quando recebe um voto de confiança do povo? Há uma noção geral de que os políticos pensam mais neles e interesses de grupos do que nos problemas que atingem os menos favorecidos. Essa ideia é correta?
PV: Muitos cometem o erro de pensar e agir como se o mandato fosse unicamente seu e não daqueles que o levaram ao cargo. Deve haver transparência e cumprimento do que foi dito e prometido em campanha. Não é verdade que todos políticos só pensem si. Existem muitos bons políticos que pensam no coletivo. É verdade que muitos pensam que o povo está a seu serviço, mas existem aqueles que pensam o contrário. Eu sempre me coloco a serviço da população, a quem devo satisfação e respeito.
VDN: Um ponto polêmico do seu mandato tem sido a autonomia do Banco Central, que o presidente Lula se posicionou contra e é uma matéria de sua autoria. Quais são os interesses que essa autonomia contraria?
PV: O PT, para continuar fazendo o que fazia quando saiu de cena, precisa controlar o BNDS, a Petrobras e o Banco Central. Com a autonomia do Bacen, isso foge do controle, daí o desespero do PT. Fico feliz por ter sido o autor dessa importante lei.
VDN: O senhor pensa em um dia deixar a política? Acha que vai chegar um momento de dizer “obrigado” e se aposentar? Ou isso nunca se passou por sua cabeça?
PV: Espero que, quando chegar esse momento, eu tenha a sabedoria de decidir. Ainda tenho quatro anos pra cumprir o mandato.