Manaus (AM)- Não é nenhuma novidade que rostos de políticos por diversas vezes estampam produtos e acessórios. Na posse do atual presidente do Brasil, por exemplo, o Partido dos Trabalhadores (PT) vendeu o “Kit lembrança”, onde o rosto do petista foi estampado em vários produtos. Já essa semana, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL), filho do ex-presidente, Jair Bolsonaro (PL) fez a divulgação da loja virtual, “Bolsonaro Store”, que traz fotos do ex-chefe de estado. Mas será que a “intenção” dessas ações é somente “engajar” as vendas ou há algo mais por trás?
Conforme divulgou o deputado em suas redes sociais, a loja que traz artigos que vão de calendário com “fotos de alta qualidade e exclusivas” até caneca de Chopp contendo imagens de Bolsonaro é uma homenagem, mas também uma forma de “manter vivo na memória da população os bons trabalhos do presidente Jair Bolsonaro”, ressaltou Eduardo.
Destaca-se mais uma vez que práticas como essas são comum vinda de pessoas que lucram em cima da imagem dos políticos, principalmente, em época de eleições, onde há uma comercialização maior de produtos deste tipo, como camisa, copo, bonés, mas e depois do período eleitoral quem lucra com produtos estampando o rosto de pessoas que já não estão mais no poder?
Leia também: No Dom Pedro, Caio André se une a moradores contra medidores aéreos
Conforme a análise do especialista político Carlos Santigo, hoje, as pessoas estão se aproveitando da polarização que o Brasil vive para reforçar a imagem de políticos, fidelizar militantes e adoradores, e também para arrecadar recursos para os partidos.
Além de fins lucrativos, há também a ideia de reforçar imagens, manter a comunicação com os “eleitores”, é o caso da loja criada para homenagear Bolsonaro.
O ex-presidente está nos Estados Unidos, onde permanece desde o início do ano, quando deixou o Brasil após perder a disputa eleitoral para Lula e não conseguir reeleição.
Ele deixou o país sobre fortes críticas vindo de opositores, mas sendo idolatrado por uma legião de pessoas que enxergam nele um representante “patriota”. Dias antes de terminar seu mandato de presidente do Brasil ele, junto com a ex-primeira dama, Michelle Bolsonaro partiram.
“O PT que sempre teve uma tradição de vendas para militantes, terá um concorrente, o bolsonarismo na figura de Bolsonaro e de seus familiares, com imagens e frases para também fidelizar seus apoiadores. Para que a sociedade não se esqueça do ex-presidente.
“É uma estratégia encontrada que une ideologia, comunicação e arrecadação”, destaca Santiago.
Loja Virtual do PT
Como dito por Carlos Santiago, a arrecadação de fundos já é praticado há um tempo por parte dos partidos de esquerda.
O PT também lançou uma loja virtual para vender seus produtos estampando o rosto de seu líder político, Lula.
A loja foi lançada no dia 15 de fevereiro deste ano e lá, é possível encontrar também artigos que vão de canecas até roupas infantis.
Na discrição de “quem somos” a loja descreve: “A Loja PT chegou com vários produtos, camisetas, canetas, roupinhas de crianças. São produtos que representam a luta de um dos maiores e mais importantes partidos da América Latina”.
A descrição continua: “Vamos juntos com o presidente Lula rumo a uma sociedade mais justa e igualitária”, finaliza.
Jantar de arrecadação
No mês passado, o Partido dos Trabalhadores fez um “jantar” de arrecadação de fundos que marcou o fim da comemoração dos 43 anos do partido.
Para ter um jantar ao lado de Lula, os filiados e apoiadores do político tiveram de desembolsar de R$ 500 a 20 mi, no total, foram disponibilizados 300 convites. Ano passado, quando Lula ainda era candidato, o partido também fez um jantar com as mesmas características.
“É um jantar por adesão, dentro da nossa política de arrecadar fundos para que o partido seja autossustentável financeiramente”, diz a tesoureira do PT, Gleide Andrade.
Kit Lembrança
O público que acompanhou a posse do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva no dia 1° de janeiro deste ano, além de acompanhar os shows que teve no evento também pôde comprar o “kit lembrança” da cerimônia, que estampavam símbolos do Partido dos Trabalhadores e o rosto de Lula em toalhas.
Na época, a secretária nacional de Finanças e Planejamento do PT, Gleide Andrade, disse que a ideia do kit era marcar o dia que “inaugura o terceiro mandato de Lula na Presidência da República”.
“O PT preparou com muito carinho um kit que será vendido às pessoas que querem ter uma recordação desse evento, que simboliza o retorno da democracia no Brasil. Além disso, também é uma forma de ajudar coletivamente nas finanças do partido”, destacou na época.
Na ocasião, foram disponibilizados 10 mil kits que custaram 100 reais cada. No kit continha uma camisa, toalhas grandes e pequenas que estampavam o rosto de Lula, copo, badana. Todos os acessórios continham também símbolos do PT, como a estrela e a cor vermelha.
Michelle Bolsonaro
Não diferente de outros que usam a imagem para lucrar, a ex-primeira dama, Michelle Bolsonaro também está na fase “influencer”, mas no caso dela é divulgando produtos de beleza de um amigo.
Recentemente, Michelle apareceu em seus stories no Instagram fazendo propaganda de produtos de beleza da linha Agustin Fernandez, que era seu maquiador oficial durante o período em que o marido dela estava na Presidência do Brasil. Agustin Fernandez tornou-se amigo de Michelle.
Diferente de suas publicações anteriores, onde as pautas eram voltadas para política e religião, Michelle fez uma série publicação fazendo publicidade com produtos do amigo em 18 de janeiro.
Nas publicações era possível ver a ex-primeira-dama assinalando “peça aqui”, onde o link direciona para a compra do produto.
“Olá, meus queridos. A gente está passando aqui hoje para mostrar pra você dois produtos que eu amo do meu amigo Agustin Fernandez. Um que eu uso antes de maquiar e outro que eu uso antes de dormir”, anunciava ela.
Michele ainda estava nos Estados Unidos quando fez a “publi”, dias depois ela desembarcou em solo brasileiro, onde mais uma vez deixou de lado o discurso de blogueira, adotado talvez para dissocia-la mais da imagem que ela passou quando ainda era primeira-dama e passar uma imagem “descolada”.
Hoje, Michelle está trabalhando a imagem de “mulher na política”, tanto que anunciou recentemente que irá fazer uma turnê pelo Brasil a fim de incentivar mulheres a participarem da política, de acordo com ela.
Helso Ribeiro
Todo esse debate sobre as reais intenções que levam os familiares, amigos, partidos e até o próprio político a usar a imagens para lucrar ou para continuar se mantendo como assunto na sociedade, mostra o quanto de fato o Brasil continua em uma polarização, onde não se discute ou nem se debate assuntos de relevância para a sociedade, mas usa-se da imagem para impor uma “ideia”.
O também analista político Helso Ribeiro, conversou com o Portal Vanguarda do Norte, e afirmou que tais ações refletem a lentidão da democracia no Brasil gente à outros países, já possuem uma democracia vasta, “já que em países onde há uma democracia mais ampla, dificilmente se ver essa idolatria estampada em copos de Chopp, bonés, calendárioas e camisetas”.
“A democracia aqui no país ainda engatinha e caminha a passos lentos, porque aqui há a mitificação de pessoas e não de propostas, isso explica o fato de se colocar o rosto de uma pessoa em um copo”, destaca.
Segundo ele, essas medidas são tentativas de personificar, criar mitos e ídolos, deixando de lado o que de fato essa pessoa é ou fez pelo país, ou seja, pouco se debate o discute no Brasil.
“As pessoas querem discutir poucas propostas e eu não vejo isso como uma alavanca para nossa democracia porque deixamos de debater assuntos relevantes, para debater mitos”.
Helso frisa que sempre há segundas intenções por traz de qualquer exposição.
“Há também um olhar eleitoral em cima da divulgação de imagens e na sua maioria já visa uma próxima é eleição”, finalizou o especialista.