O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta segunda-feira (20) que “intervenções estrangeiras” na América Latina podem causar “danos maiores do que o que se pretende evitar”. A declaração foi dada a embaixadores, durante cerimônia no Ministério das Relações Exteriores, o Itamaraty.
Segundo Lula, o continente vive um movimento de “crescente polarização” e manter a região como zona de paz é a sua prioridade. “Sem ódio, sem negacionismo e sem ferir o princípio básico da democracia e dos direitos humanos”, disse o chefe do Executivo.
A fala de Lula se dá em meio a uma tentativa por parte do governo brasileiro de se se aproximar do presidente norte-americano, Donald Trump.
Depois de meses de tensão entre os dois países e com o tarifaço anunciado pela Casa Branca, os líderes se encontraram na Assembleia Geral da das Nações Unidas, em setembro. Na ocasião, Trump afirmou que ele e Lula tiveram uma “química excelente”.
Depois do encontro, os dois fizeram uma ligação em 6 de outubro, quando Trump disse ter sido “uma conversa muito boa”.
No entanto, durante esse mesmo período, os Estados Unidos endureceram o discurso contra a Venezuela. Além disso, Trump confirmou ter autorizado operações da CIA, a agência de inteligência americana, dentro do país comandado por Nicolás Maduro.
Historicamente, o Brasil adota uma postura diplomática alinhada com a tradição de mediação em conflitos e defendendo a não interferência em assuntos domésticos de outros países. Contudo, com essa posição, o presidente Lula decidiu subir o tom contra os EUA.
Sem citar o governo norte-americano, o petista disse, na semana passada, que “nenhum presidente de outro país que tem que dar palpite” sobre a Venezuela.
Integrantes do governo já tinham receio que o agravamento das relações entre Estados Unidos e Venezuela pudesse tensionar um encontro entre Lula e Trump. A expectativa é que os líderes se reúnam na Malásia, durante a cúpula da Asean (bloco do Sudeste Asiático).
Acordo com a União Europeia
Durante a cerimônia, Lula disse ainda que pretende cumprir mais uma de suas promessas de campanha: o acordo entre a União Europeia e o Mercosul (Mercado Comum do Sul).
Segundo o presidente, a parceria deve se desenrolar em setembro, durante a cúpula do Mercosul, que será realizada no Brasil.
Com o acordo de livre comércio, 92% dos produtos originários do Mercosul e 95% das linhas tarifárias devem ficar livres de taxações na União Europeia.
Entrega de credenciais
Realizado nesta manhã, o evento no Itamaraty serviu para que Lula recebesse as credenciais de embaixadores de 28 países para que possam atuar no Brasil. Diferentemente das cerimônias anteriores, que ocorreram no Palácio do Planalto, o evento foi realizado no Itamaraty.
A entrega das cartas credenciais é um procedimento protocolar do chefe do Executivo. Na carta, o diplomata informa que está representando o seu país e, ao recebê-la, o presidente brasileiro indica que o reconhece como representante oficial. O embaixador só pode assumir o posto depois desse processo.
Dentre os países que serão representados no Brasil, está a Malásia, para onde Lula viajará na sexta (24).