O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem dois objetivos principais na reunião com Donald Trump neste domingo (25), na Malásia. O primeiro é “descontaminar” a relação diplomática com os Estados Unidos, afetada por interferências indevidas do governo americano na política interna brasileira.
O segundo é definir com Trump parâmetros claros para negociações comerciais que possam levar à redução das tarifas aplicadas contra exportações brasileiras.
O encontro entre os dois líderes está previsto para às 17h em Kuala Lumpur (6h, no horáriol de Brasília). O próprio Lula admitiu, na sexta-feira, na Indonésia, que um acordo direto para a redução das tarifas não deverá ser fechado de imediato.
O líder brasileiro disse acreditar que novas rodadas de negociação serão necessárias, envolvendo ministros de diversas áreas dos dois governos.
“Se eu não acreditasse que fosse possível fazer um acordo, eu não participaria da reunião. Se bem que o acordo certamente não será feito amanhã ou depois de amanhã. Ele será feito pelos negociadores que vão ter que sentar junto com o pessoal do governo americano para negociar”, disse Lula.
Segundo apuração, o governo brasileiro considerará a reunião bem-sucedida se os americanos abandonarem as pressões e manifestações públicas sobre temas da política interna — como as críticas ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado pelo STF por tentativa de golpe de Estado, e às iniciativas de regulação do ambiente digital.
Com a remoção desses elementos políticos do debate diplomático, o Brasil pretende concentrar-se nas negociações comerciais. Há expectativa de que os americanos proponham discutir tarifas sobre o etanol e o sistema de pagamento eletrônico PIX.
Interlocutores do governo, porém, evitam fazer prognósticos sobre resultados concretos, lembrando a natureza imprevisível de Trump, que costuma mudar de rumo com frequência em suas negociações diplomáticas.
Ainda assim, há sinais positivos. Um deles foi dado pelo próprio Trump: no trajeto para a Malásia, ainda a bordo do Air Force One, o presidente americano afirmou que pode, sim, reduzir as tarifas contra o Brasil “nas circunstâncias certas”.
Além disso, a própria realização da reunião indica uma redução das tensões entre os dois países. O encontro foi solicitado pelo lado americano e se soma a uma série de gestos recentes de reaproximação entre Brasília e Washington.
No período de apenas um mês, Lula e Trump se encontraram brevemente na Assembleia Geral da ONU e realizaram a primeira conference call entre eles. Logo depois, o chanceler Mauro Vieira teve uma reunião de trabalho considerada “positiva” por ambos os lados com o secretário de Estado, Marco Rubio.
Desde então, funcionários do governo americano que costumavam usar as redes sociais para criticar o Brasil e suas instituições mantêm-se em silêncio — um sinal adicional de distensão.
O conjunto desses fatores indica que há chances reais de a reunião entre Trump e Lula resultar em avanços concretos na relação bilateral.

