MANAUS – Vereador de primeiro mandato, oposição ao prefeito David Almeida, e destacado por embates dentro da Câmara Municipal de Manaus, Rodrigo Guedes deu uma pausa na corrida agenda para falar sobre os acontecimentos que cercam a Câmara Municipal de Manaus e se refletem diretamente na vida do manauara.
Guedes usa palavras fortes nessa entrevista, afirma que muitos colegas de CMM promovem a “saidinha” do parlamento, batendo ponto e não participando das sessões, afirma que a luta para mentar o aumento do Cotão é uma vergonha, e ainda diz que a Prefeitura de Manaus faz toma lá dá cá com os parlamentares.
“Essa é minha missão. É mostrar as vísceras do jogo do sistema, a sujeira da política”
Vanguarda do Norte – (VDN) – Entramos em ano eleitoral, e a Câmara Municipal não está imune, já que os vereadores precisam cuidar de suas reeleições. O que a população deve esperar da CMM em 2024 diante desse cenário?
Rodrigo Gudes (RG) – Olha na CMM eu não posso dizer, né, mas eu posso falar por mim. Eu vou continuar o trabalho que eu já estava fazendo, não vou mudar nenhum tipo de atitude. Não vou fazer coisas de ano eleitoral, aquelas cenas típicas, forçadas de ano eleitoral. Apelativas e eleitoreiras. Então eu vou continuar a fiscalização dentro da minha competência, que é fiscalizar o município e a própria Câmara também.
VDN – Falando em CMM e vereadores, a população tem uma imagem de que os políticos, de uma forma geral, trabalham pouco, faltam às sessões e ganham muito. Esse tipo de pensamento incomoda os políticos?
RG – Olha, os vereadores de fato trabalham pouco na função legislativa, que é ali está na Câmara. Inclusive o Brasil inteiro está discutindo a saidinha, né, dos presos em datas comemorativas, e na Câmara tem todo dia a saidinha também. Vereador, bate o ponto e sai ou chega no final e bate o ponto. Então, a saidinha não é só no presídio, não, no parlamento municipal, estadual, é o que mais acontece, porque só precisa bater ponto em algum momento da sessão. E aí já está registrada a presença. Eu acho que o mínimo que o vereador tem que fazer é estar ali no parlamento. E se ele não quiser estar nessa função?, que é obrigatória, do ponto de vista legal e moral, acho que ele tinha que se candidatar a outra coisa. A líder comunitário, né? Outra coisa, porque enquanto ele for vereador, deputado, parlamentar, ele tem que estar pelo menos no horário da sessão, já que só são três dias na semana. É o mínimo que ele deveria fazer. Era estar lá no horário da sessão.
VDN – Recentemente uma demanda sua e do ex-vereador Amom Mandel derrubou o reajuste do Cotão, mas imediatamente o presidente da CMM, vereador Caio André disse que ia recorrer para manter o reajuste. Qual foi sua reação ao saber que a Câmara iria lutar para manter esse privilégios?
RG – Olha, eu fico muito triste de a Câmara ter conseguido reaver esse privilégio absurdamente imoral. Aumentar 83% o Cotão é gasto totalmente desnecessário. E eu fico muito triste, né? Muito triste mesmo. Vou ver dentro do processo que é possível ainda fazer, né, dentro do processo judicial. Mas não vamos desistir, não vou. Vou continuar guerreando para derrubar o aumento do cotão.
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VDN – O senhor tem se caracterizado por embates contra a gestão do prefeito David Almeida. Nas sua avaliação, a CMM, nesta Legislatura, está devendo à população uma atuação mais fiscalizadoras em relação à Prefeitura?
RG – Eu acho que a grande missão é fazer com que as pessoas compreendam. Como funciona a política. Quando eu faço o certo, que é fiscalizar a prefeitura, denunciar as coisas erradas, fiscalizar com lupa mesmo, não votar nas coisas só porque o prefeito quer, porque o prefeito manda, não bater continência. A consequência é que eles sabotam de todas as formas possíveis o parlamentar. Então a gente tem que entender como é que funciona o jogo político. Essa é minha missão para o cidadão. Denudar a política. É mostrar as vísceras do jogo do sistema, a sujeira da política. Para que eu possa levar serviços para o cidadão, é que as pessoas também nos procuram para isso, acaba que a prefeitura faz uma espécie de chantagem. Olha, se você não fechar aqui, você não vai ser atendido. E aí, muitas vezes o cidadão acha que é culpa do vereador. Então a gente precisa entender o preço de você fazer esse jogo, o toma lá dá cá, e aí você acaba levando algumas coisas, como asfalto, por exemplo. Mas o preço é a continuidade de tudo que está errado no Brasil.
VDN – O senhor tem se caracterizado por embates contra a gestão do prefeito David Almeida. Nas sua avaliação, a CMM, nesta Legislatura, está devendo à população uma atuação mais fiscalizadoras em relação à Prefeitura?
RG – Eu, particularmente, nem me considero de oposição, porque eu não gosto desse rótulo, eu sou pelo certo, né? Tenho logicamente, como todos nós “n” defeitos, mas eu procuro sempre avaliar o que é justo, o que é certo, o que é bom. Mas lógico que quando a gente é crítico, quando a gente fiscaliza, cobra, denuncia, não joga o jogo, não entra no toma lá dá cá, as consequências é que eles tentam prejudicar de todas as formas possíveis, fechando todas as portas. Aí eu vou dar um exemplo aqui quando eu falo fechar as portas não é só em relação a não permitir que os serviços públicos aconteçam através dos meus pedidos. É para tentar me desmoralizar, me descredenciar e tirar minha credibilidade junto com o eleitor. Esse é o caso muito claro, né?. Mas olha, nem a minha indenização do tempo que eu trabalhei na prefeitura eu não recebi. Imagina se eu fosse da base se eu não tinha recebido nos três primeiros meses do ano do mandato, só para vocês terem uma ideia.
VDN – Além da atuação parlamentar e elaboração de Leis, o senhor acha que os políticos deveriam trabalhar no sentido de estar mais próximos da população? Não acha que há uma cultura de gabinete que distancia o povo dos políticos com mandato?
RG – Eu acho que nós temos um problema muito mais grave do que a famosa questão de políticos só aparece em época de eleição,. Nós temos que estabelecer uma relação entre eleito e representante e representado eleito e eleitor que o político tem que trabalhar pelo bem comum, pelas demandas da população, não individual. Então, acho que a população tem que cobrar do político é um trabalho público. Nos direitos da população. Eu falo isso porque o seguinte. Ainda se tem uma ideia de que o vereador, o deputado, ele é a pessoa que tem que dar alguma coisa, tem que dar o jogo de camisa para o time, tem que dar. O pagar a conta de água, da botija, de gás enfim.. Isso acaba fazendo com que também, o próprio eleito ou representante ele se afaste, porque muitas vezes ele fica bom, eu vou pro bairro, e acabam muitas vezes pedindo, e isso afasta. Então a gente tem que estabelecer um novo contrato social. Cobre dos políticos que ele trabalhe pelo povo, que ele seja econômico, que eles não gaste o dinheiro público, não faça coisas ilegais e lute pelos direitos da população. E aí em compensação não vamos ver o político também como aquele que tem que dar alguma coisa. Que compra voto, quem faz esse tipo de política assistencialista no poder e aí nunca vai melhorar.
VDN – Quais são suas aspirações políticas? Estamos em ano eleitoral O senhor acredita que estes anos na CMM abriram novas portas para sua trajetória política no Amazonas?
RG – Olha, eu provavelmente devo ser candidato à reeleição. Tenho alguns convites, mas eu estou querendo construir um pouco mais de ações públicas, sem nenhum tipo de açodamento. Mas assim, lógico, o futuro a Deus pertence. Eu sempre digo que eu posso ter um, dois, mandatos. Eu só só não quero ser escravo da política. Ou seja, mudar a minha forma de ver as coisas e entrar no jogo para poder me manter na política. A gente tem sim, idéias de ocupar outros outros postos, até para poder fazer mais, né? Para mim, o poder é isso, não é poder para mim, mas é poder fazer mais, poder realizar, poder conquistar. Eu queria que Manaus fosse uma cidade melhor para se viver. Então, lógico que quando a gente está nisso, a gente tem ideia de dar mais contribuições pelas suas próprias convicções.
VDN – Como vereador, quais são os maiores problemas de Manaus hoje? É possível vencer problemas como ruas esburacadas, transporte precário e trânsito estrangulado?
RG – Eu acho que hoje o principal problema de Manaus é a forma de fazer gestão pública e isso reflete em todos os demais problemas que nós temos, a forma de fazer gestão pública, ela acaba refletindo num trânsito caótico em ruas esburacadas. A chamada mobilidade urbana é desumana. É uma cidade perdendo qualidade de vida, né? Se eu fosse prefeito, eu com certeza teria como prioridade, fora a questão da mobilidade urbana gritante em termos de de falta de eficiência e efetividade, também a questão ambiental. Ambientalmente mais equilibrada. E também a gente tem um Centro de Manaus melhor. Eu acho que é a gente deveria começar a ter uma nova Manaus, uma Manaus melhor, começando da sua partida, que é o Centro. Combatendo ocupações irregulares, ilegais, sem populismo, sem fazer asfalto de véspera de eleição para ganhar voto, sem drenagem, sem meio-fio, sarjeta, calçada. E também a questão da falta de calçadas em Manaus. É é algo que a gente com certeza é, quem tem de lutar para melhorar esse aspecto.
VDN – Para finalizar, qual caminho para melhorar Manaus a curto, médio e longo prazo? Será que um dia a classe política será capaz de entregar à população o investimento do dinheiro público que custa um mandato?
RG – Eu acho que a gente só vai ter uma classe política melhor quando a gente escolher melhor os nossos representantes. Enquanto a gente escolher o vereador, porque ele é da igreja, enquanto a gente escolher o vereador, porque ele ajudou na consulta, porque ele deu o óculos porque ele deu uma cesta básica, porque ele contratou, deu uma cesta básica, deu 500 Reais na campanha, nada vai mudar. Se a gente escolhe um vereador, um deputado, por critérios pessoais, por assistencialismo, inclusive animal, não vai ter melhorias. Porque é impossível você achar que de 1500 candidatos em Manaus todos sejam ruins, ou todos sejam bandidos. Isso é inimaginável. Eu acho que aí é o ponto de partida para a gente ter uma política melhor.