Advogado e especialista em Direito do Trabalho, Ivan Marques preside a Câmara de Comércio Brasil-Portugal Centro-Oeste – Goiás com a missão de consolidar o papel de Portugal como “protagonista contemporâneo no mundo dos negócios, das interações estratégicas e da cooperação internacional”. Sob a sua liderança, a entidade tem promovido encontros empresariais, missões comerciais e acordos de cooperação que já resultaram, segundo esta fonte, em impacto direto no estreitamento de laços entre os dois países.
Do agronegócio à energia renovável, passando pela educação e pela construção civil, a Câmara tem funcionado como ponte entre empresários e instituições dos dois lados do Atlântico, apostando na internacionalização de empresas goianas e na utilização de Portugal como hub para a Europa, África e países da CPLP. “Vivemos um momento altamente favorável nas relações económicas entre Brasil e Portugal”, afirma Marques, que destaca a infraestrutura portuguesa como porta de entrada estratégica e a força produtiva do Centro-Oeste como motor de oportunidades bilaterais.
Em entrevista à nossa reportagem, Ivan Marques, que já atuou como Coordenador dos Conselhos de Desenvolvimento do Estado de Goiás e Secretário Executivo da Prefeitura Municipal de Rio Verde, em Goiânia, entre outras funções, fala sobre os resultados já alcançados, os setores com maior potencial de cooperação, os novos acordos em negociação e os objetivos da sua gestão, que procura deixar como legado uma Câmara moderna, sustentável e reconhecida pelo seu papel nas relações luso- brasileiras.
Que balanço faz das principais ações desenvolvidas recentemente pela Câmara de Comércio/Brasil-Portugal Centro-Oeste – Goiás e qual tem sido o seu impacto na aproximação entre os dois países?
Ivan Marques: Nos últimos tempos, temos consolidado uma atuação proativa e estratégica no fortalecimento das relações bilaterais entre o Brasil e Portugal, com iniciativas relevantes nos âmbitos empresarial, académico e institucional. Realizámos encontros empresariais e rodadas de negócios em Goiânia, Lisboa e noutras regiões, promovendo a aproximação entre investidores e empreendedores dos dois lados do Atlântico.
Destaco, com grande satisfação, o acordo de cooperação celebrado com a Câmara Municipal de Beja, no âmbito do qual já participámos pela terceira vez consecutiva na OVIBEJA, importante exposição agroindustrial, liderando missões empresariais de Goiás e do Centro-Oeste brasileiro com interesse concreto em investir na região de Beja, utilizando inclusive o Porto de Sines como corredor logístico estratégico para exportações e conexões comerciais. Firmámos ainda termos de cooperação com o NERBE – Associação Empresarial do Baixo Alentejo e Litoral e com a NERSANT – Associação Empresarial da Região de Santarém, com sede na Várzea de Mesiões, Torres Novas, representada pelo seu presidente da direção, Domingos Silva Chambel.
Estamos, neste momento, em tratativas avançadas para a formalização de novos acordos com a Universidade de Coimbra, bem como com as Câmaras Municipais de Coimbra e do Porto, reforçando o nosso compromisso com a educação, a inovação e o intercâmbio institucional. Todo esse esforço tem gerado um impacto muito positivo, traduzido no estreitamento das relações comerciais, culturais e tecnológicas, e na criação de um ambiente propício à cooperação sustentável e de longo prazo entre o Brasil e Portugal.
De que forma a CCBPCO-GO tem contribuído para o fortalecimento das relações económicas e institucionais entre Portugal e a região Centro-Oeste do Brasil, especialmente o estado de Goiás?
IM: A nossa missão consiste, fundamentalmente, em atuar como uma plataforma de diálogo, integração e cooperação bilateral. Por meio de uma articulação ativa com entidades governamentais, universidades, associações empresariais e o setor produtivo, temos conseguido posicionar o estado de Goiás como uma porta de entrada estratégica para empresas portuguesas interessadas no mercado brasileiro, especialmente na região Centro-Oeste, que se destaca pela sua força agroindustrial, logística em expansão e ambiente de negócios favorável. De igual modo, temos apresentado Portugal como um hub privilegiado para a internacionalização de empresas goianas, destacando as robustas infraestruturas do país, que incluem portos modernos, aeroportos bem conectados, uma eficiente malha ferroviária e autoestradas de alta qualidade, que permitem o escoamento ágil de produtos e serviços não apenas para o mercado português, mas para toda a União Europeia, África e os países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Esta visão estratégica tem promovido um intercâmbio crescente de experiências, investimentos e inovação, com benefícios concretos para os empresários de ambos os lados do Atlântico.
A Câmara atua como uma ponte estratégica entre empresários, governos e entidades dos dois lados do Atlântico. Que setores têm demonstrado maior interesse em investir ou cooperar neste eixo Brasil-Portugal?
IM: Temos observado uma crescente procura por cooperação em setores estratégicos que refletem as vocações complementares de Portugal e do Centro-Oeste brasileiro. O agronegócio permanece como um dos protagonistas, especialmente em áreas como inovação agrícola, agroindústria e logística integrada. A energia renovável, com destaque para fontes solar e eólica, também tem mobilizado investidores atentos às oportunidades de transição energética e sustentabilidade. Importa ainda destacar o setor educacional, que tem manifestado forte interesse em estabelecer parcerias académicas, programas de intercâmbio e projetos de formação técnica e superior, reconhecendo o ambiente educacional português como referência internacional.
Outro setor em franca expansão é o da construção civil, que tem atraído empresários goianos interessados em projetos imobiliários, reabilitação urbana e obras de infraestrutura. Aliás, já contamos com empresários de Goiás efetivamente investindo em solo português, consolidando essa tendência de internacionalização dos negócios.
O cenário torna-se ainda mais atrativo quando consideramos que Portugal dispõe de uma infraestrutura de excelência – portos, aeroportos, ferrovias e autoestradas – e oferece acesso direto à União Europeia, África e aos países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Neste contexto, a Câmara tem desempenhado um papel crucial ao facilitar conexões, reduzir barreiras e transformar oportunidades em realidades de negócios bilaterais concretos e sustentáveis.
Sob a sua liderança, que estratégias têm sido adotadas para dinamizar a atuação da instituição e atrair novos associados?
IM: Temos apostado numa gestão mais aberta, moderna e orientada para resultados concretos. Reestruturámos os canais digitais da Câmara, reforçámos a comunicação institucional e ampliámos significativamente os convénios com entidades estratégicas em Portugal e no Brasil. Estabelecemos também um calendário regular de eventos presenciais e virtuais, voltados à promoção de networking qualificado, internacionalização de empresas e disseminação de boas práticas. Entre as ações mais recentes, destaco com orgulho a nossa participação ativa na criação da Associação dos Três Lagos, que reúne 11 municípios do nordeste do estado de Goiás, sede de importantes usinas hidrelétricas e regiões alagadas. Esta associação nasce com o propósito de divulgar e valorizar todo o potencial socioeconómico da região, com foco em atividades como piscicultura, pesca, industrialização e comercialização de produtos e derivados, além de fomentar o turismo sustentável, a preservação ambiental, a atividade extrativista, o artesanato local e a transformação social. Trata-se de um exemplo claro da nossa atuação integrada, que une desenvolvimento regional à projeção internacional, reforçando o papel da Câmara como facilitadora de oportunidades e parceira institucional confiável. Adicionalmente, temos escutado de forma ativa os nossos associados, identificando suas necessidades e oferecendo
soluções personalizadas e conexões estratégicas, o que tem contribuído significativamente para o crescimento da base associativa e fortalecimento da nossa relevância institucional tanto em território nacional quanto internacional.
Como avalia o atual momento das relações luso-brasileiras no plano económico e quais as oportunidades mais promissoras que se apresentam para a região centro- oeste?
IM: Vivemos um momento altamente favorável nas relações económicas entre o Brasil e Portugal, marcado por uma nova dinâmica de confiança, proximidade institucional e interesse mútuo no fortalecimento de laços comerciais e estratégicos. A presença cada vez mais expressiva de missões empresariais, o crescimento dos fluxos de investimento e os diversos acordos de cooperação em vigor refletem esse cenário positivo, que tem sido cuidadosamente cultivado por meio de instituições como a nossa Câmara. Para o Centro-Oeste brasileiro, e em especial para o estado de Goiás, este contexto representa uma janela de oportunidades sem precedentes. A região apresenta um dos maiores potenciais produtivos do país, com destaque para o agronegócio de alta performance, a bioenergia, a mineração sustentável, a cadeia da logística e os polos de inovação tecnológica. Portugal, por sua vez, oferece uma porta de entrada estruturada e segura para os mercados europeus, africanos e lusófonos, contando com infraestruturas modernas e conectadas – portos, aeroportos, ferrovias e autoestradas –, além de um ambiente de negócios estável e receptivo. Neste ambiente, setores como agroindústria, energias renováveis, educação, construção civil,
turismo e tecnologia apresentam-se como vetores estratégicos de cooperação bilateral, com benefícios tangíveis tanto para empresários portugueses que desejam entrar no mercado brasileiro quanto para empresários goianos que buscam projeção internacional. A Câmara tem trabalhado para identificar, facilitar e impulsionar estas oportunidades, transformando intenções em resultados concretos para ambos os países.
Que tipo de apoio a Câmara oferece hoje a empresários portugueses que desejam atuar no Brasil, nomeadamente em Goiás, e vice-versa?
IM: A Câmara de Comércio Brasil-Portugal Centro-Oeste – Goiás atua como um ponto de articulação estratégica e suporte operacional para empresários interessados em expandir os seus negócios entre Brasil e Portugal. Aos empresários portugueses que pretendem entrar no mercado brasileiro, oferecemos orientação especializada, que abrange desde a análise de mercado até a viabilização jurídica e operacional do investimento, passando por conexões institucionais, identificação de parceiros locais, apoio logístico e participação em eventos e rodadas de negócios. No sentido inverso, prestamos apoio completo à internacionalização de empresas goianas, promovendo o acesso a mercados promissores em Portugal e, a partir de lá, à União Europeia, África e aos países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Atuamos em cooperação com câmaras municipais, associações empresariais, universidades e centros de inovação, facilitando o processo de entrada com segurança jurídica, orientação estratégica e apoio institucional. Importa ainda destacar que integro a diretoria da Federação das Câmaras Portuguesas no Brasil, como vice-presidente, e também atuo como Primeiro Vogal na Rede das Câmaras de Comércio Portuguesas pelo Mundo, instituições que têm sido fundamentais para expandir a presença internacional das empresas brasileiras, especialmente goianas. Essas redes globais, com representação em dezenas de países, irão colaborar ativamente para impulsionar a entrada de empresários do Centro-Oeste no mercado mundial, por meio de articulação diplomática, acesso a mercados estratégicos e promoção internacional.
Assim, oferecemos muito mais do que suporte local: entregamos uma estrutura de representação global com portas abertas nos cinco continentes.
A CCBPCO-GO tem promovido eventos, missões e encontros empresariais. Que iniciativas estão previstas para os próximos meses e que resultados se esperam alcançar?
IM: No mês de setembro, iremos participar da FICOMEX – Feira Internacional de Negócios a ser realizada em Goiânia/Goiás; em outubro está prevista uma missão comercial de Empresários e Governantes Portugueses aqui em Goiás, notadamente da Região de BEJA e Sines. Em dezembro estaremos apresentando o Prémio “Empresário do Ano”, destinado ao Melhor Empresário Português com negócios em Goiás/Brasil/Portugal.
Quais são os principais objetivos da sua gestão para os próximos anos e que legado pretende deixar na presidência da Câmara de Comércio Brasil-Portugal Centro-Oeste – Goiás?
IM: Uma Câmara robusta, sustentável e engajada, reconhecida pela sua relevância nas relações luso-brasileiras, especialmente no Centro-Oeste. Uma rede ativa, conectada e com propósito, capaz de transformar pequenos e médios empresários em protagonistas da internacionalização e de criar pontes duradouras entre mercados, culturas e pessoas. Pretendo contribuir, com determinação e visão de futuro, para que Portugal volte a ocupar seu lugar de destaque no cenário global — não apenas como referência histórica e cultural, mas como protagonista contemporâneo no mundo dos negócios, das interações estratégicas e da cooperação internacional. Quero fazer parte de uma geração que não apenas preserva o passado, mas que também projeta o futuro lusófono com ambição, inteligência e colaboração mútua. O nosso trabalho será pautado na inovação e na modernização institucional, com serviços de inteligência comercial, apoio direto à exportação e importação, além de acompanhamento estratégico para empreendedores que busquem expandir suas fronteiras com segurança e competitividade. Vamos consolidar eventos estruturantes e culturais de alto impacto, que aproximem a comunidade local da cultura, da economia e das oportunidades portuguesas, transformando a Câmara em um verdadeiro polo de integração bilateral. E, acima de tudo, quero deixar um legado humano — onde cada diretor, associado e colaborador sinta-se parte de uma história coletiva de superação, crescimento e construção de algo maior. Uma história feita por pessoas que acreditam no poder transformador da cultura, do comércio e da fraternidade lusófona. Em síntese, o meu compromisso é entregar uma instituição sólida, moderna, acolhedora e com identidade forte, que continue sendo impulsionada por valores e por pessoas dispostas a promover a relevância de Portugal e do Brasil como parceiros globais em um mundo em constante transformação.