A Organização Internacional para as Migrações (OIM), agência da Organização das Nações Unidas (ONU), voltou a atender migrantes venezuelanos nesta segunda-feira (3) em Boa Vista depois de uma semana sem oferecer os serviços. A organização havia deixado de atuar após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cortar fundos para ajuda humanitária.
O retorno dos trabalhos da OIM ocorre no Posto de Triagem (PTrig) e no Posto de Recepção e Apoio (PRA). Em comunicado ao governo brasileiro, a organização disse que conseguiu recursos em substituição aos dos EUA para voltar a atuar em apoio à operação Acolhida, força-tarefa do governo federal que atende migrantes que chegam no país por Roraima.
“Temos a satisfação de informá-los que a Organização Internacional para as Migrações (OIM) conseguiu, durante esta semana, mobilizar novos recursos para garantir nosso apoio nos três eixos da Operação Acolhida: Ordenamento da Fronteira, Acolhimento e Interiorização”, diz trecho do documento.
Semana passada, a OIM suspendeu o trabalho para migrantes porque o governo Trump suspendeu por 90 dias os repasses de fundos americanos para ajuda humanitária fora do país. A agência recebia apoio financeiro do Bureau de População de Refugiados e Migração (PRM) e da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID).
O g1 esteve no PTrig e no PRA e confirmou a presença da organização nos dois locais. Militares da Operação Acolhida que faziam triagem no PRA e funcionários da empresa Pegasus, que atuam na frente do PTrig, informaram que a agência voltou a atender os migrantes.
Entre os serviços realizadas para os migrantes venezuelanos em Roraima, a OIM atuava com orientação e escuta especializada para pessoas em situação de vulnerabilidade e o encaminhamento para serviços essenciais, como saúde, assistência social e apoio a direitos trabalhistas, com foco em exploração laboral e violência de gênero. Além disso, era realizado apoio na emissão de documentação.
A reportagem procurou a organização para saber se todos os serviços voltaram a ser oferecidos e aguarda resposta.
Os cortes de Trump também impactaram o serviço da Cáritas Brasileira. Instalações sanitárias da organização que ofereciam serviços gratuitos no estado a migrantes foram fechadas por tempo indeterminado no último dia 27. Com isso, várias pessoas em situação de vulnerabilidade estão há uma semana sem ter como tomar banho, usar o banheiro, escovar os dentes e até beber água potável — os espaços seguem fechados nesta segunda.
‘Voltamos a conseguir os documentos’
Quando interrompeu os atendimentos, no dia 27 de janeiro, o atendimento no PTrig seguia normal. Uma das funcionárias que fazia a triagem explicou que, com a saída da agência, o posto estava atendendo apenas causas urgentes, de migrantes recém-chegados na capital. No entanto, a atualização de documentação de pessoas residentes estava suspensa.
Agora, com o retorno da OIM no posto, os migrantes residentes voltaram a ter apoio na renovação de documentos essenciais como emissão de CPF e regulamentação migratória no Brasil. A ajudante de cozinha, Marbeliz Leonette, de 56 anos, conseguiu o documento de residência permanente nesta segunda.
Ela, natural de Maturín, na Venezuela, mora em Boa Vista desde 2017. Em dezembro, com o apoio da OIM, solicitou a renovação do documento de residência, mas, ao tentar buscá-lo na semana passada, não conseguiu. Agora, conseguiu dar andamento ao processo e está com o documento em mãos.
“Fiquei preocupada [quando a OIM parou de atender]. Porque não sabia o que iria acontecer com a gente, os imigrantes. De verdade, não sei o que pode acontecer [no futuro], mas pelo menos voltamos a conseguir os documentos”, disse.
Angel Cova, de 23 anos, vive há mais de um ano em Boa Vista, onde trabalha com serviços gerais. Ele veio com a família e, com a filha brasileira de menos 11 meses no colo, foi buscar os documentos necessários para ter uma carteira de trabalho no Brasil.
Ele entrou com o pedido para renovar os documentos há 3 meses com ajuda da agência da ONU. Por motivos pessoais, não conseguiu buscar a tempo e, na semana passada, quando teve tempo para ir ao PTrig, não recebeu o documento.
“Fico feliz que voltou [a OIM], é importante para a gente. É um grande benefício. Facilita muita coisa, como abrir conta em banco e resolver outras questões do dia a dia, coisas que a gente não sabe direito”.
Serviços ofertados pela OIM
Entre as ações realizadas para os migrantes venezuelanos em Roraima, a OIM atua com orientação e escuta especializada para pessoas em situação de vulnerabilidade e o encaminhamento para serviços essenciais, como saúde, assistência social e apoio a direitos trabalhistas, com foco em exploração laboral e violência de gênero. Além disso, é realizado apoio na emissão de documentação.
A OIM está presente em Boa Vista e em Pacaraima, na fronteira, onde atendia os migrantes nos abrigos da Operação Acolhida.